04 - Chuva

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Eu ia sair de casa, mas a chuva se adiantou. Não teve jeito, tive de adiar meus planos.

Era uma daquelas chuvas rápidas e grosseiras, como resposta de gente ignorante.

Veio e se foi com a mesma despretenssão. Afinou, engrossou, diminuiu e depois aumentou outra vez.

Eu ouvia os seus pingos castigarem o meu telhado, enquanto sentia aquele cheiro inconfundível de terra molhada.

Minha garganta ardia consternada. E a chuva permanecia lá, caindo em desparada.

E eu fiquei lá, só ouvindo.

O cheiro do café, as vozes dos meus pais rindo de boca cheia, minha irmã falando com o gato. E a chuva lá, caindo, caindo, caindo.

Ela foi diminuindo aos poucos, finalmente exausta. As nuvens pesadas, por fim foram esvaziadas. E eu permaneci parada, esperando tudo se aquietar, a fim de por fim conseguir sair de lá.

A vida é isto mesmo.

Uma eterna espera por dias limpos.
Uma eterna espera pelo o fim da tempestade, e pela calmaria que vem depois.

Os raios rasgam o céu, consternados e descontrolados. Parece que tudo pode explodir a qualquer momento, mas esse dito momento nunca chega.

A chuva passa
O céu se aqueta
Fica apenas o frio e aquela sensação de vazio na alma.
Uma calma triste e pesarosa.

Tudo se vai, tudo se ajeita. E enquanto isso não acontece, você deita e espera.

Perdição PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora