03 - Aluguel

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Estou perdida em meio á uma mente completamente invertida.
Minhas ideias são indecisas, e minhas atitudes tóxicas e corrosivas.
Me vejo num labirinto
Sem mapa
Sem trilhos
Tá tudo escuro
Eu mal vejo o caminho.

O chão sobre meus pés é firme
Não há nada ao meu redor
Nem grades
Nem muros
Mas ainda assim estou presa.

Me sinto presa.

"Presa á mim mesma" - Sim, eu gostaria de ter tal resolução, mas não sei se sou realmente a minha própria prisão.

Tenho vendido meu tempo
Leiloado os meus valores
Desconsiderado minhas crenças e princípios.

Nesses últimos meses tanta coisa mudou.
Tanta coisa idiota
Tanta coisa fútil
Tanta coisa inútil
Não sei mais o que sou, ou pelo que estou vivendo.
Preciso mesmo de um motivo? Ou será que posso continuar aqui, simplesmente jogada ao relento?

Espero em silêncio, por que sei que é errado ir atrás.
Me mantenho quieta, encolhida.
Doí não ter certeza de nada, mas é inevitável não se encher de dúvidas.

O labirinto está sempre lá, mas como eu deveria andar se nem mesmo sei os seus limites? Se mal posso ver os seus muros, se nem se quer percebo as suas confusas estradas cruzadas?
Me mantenho então por aqui
Parada.
Cansada.
Sozinha outra vez.

Aguardo ansiosamente pelo dia em que voltarei á gostar de me sentir sozinha.
Me acostumei mal, e esse foi meu erro, mas o que mais eu deveria fazer, se mesmo contra o meu querer, você ainda insiste em habitar por aqui?

Sinceramente, já estou quase te cobrando aluguel.

Tu virastes tudo de ponta a cabeça, só pra depois sumir assim, sem dizer nada. E que bom que sumiu.

Já vai tarde, antes nem se quer tivesse vindo. Mas já que veio, já que insistiu em abrir espaço e invadir a minha vida sem o menor receio, já que esteve aqui, e que se foi. Bom, nada mais posso fazer, além de te cobrar o aluguel por essa tua torpe estádia extra na minha cabeça.

Vamos.
Me pague pelas noites mal dormidas, pelos dias perdidos e pela maldita bebida. Afinal, foi você que quis entrar na minha vida. Então o mínimo que me deve após desaparecer, é alguma indenização pela perda da minha razão.

Mas deixa, eu te perdoou a dívida. Isso é pra eu deixar de ser tão distraída.

Deixa quieto, isso é pra eu aprender, tomar um pouco de vergonha na cara. Próxima vez que alguém como você me aparecer, eu meto pé, sigo reto sem olhar para trás.

Isso é pra eu deixar de ser assim tão confusa.
Deve ser o universo me ensinando as coisas na base da bicuda.



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Esse é um dos poemas que eu escrevi a milênios atrás, mas nunca postei.

Nessa repostagem vão ser intercalados poemas novos e velhos.

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