Sobre ela. E todas as outras coisas que ela deixou.

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Não sei ao certo como tudo começou, só sei de quando cedi aos encantos dela. Apaixonei-me tão perdidamente por seus gracejos e principalmente, seus pequenos gestos.

Seus olhos castanhos escuros me prendiam, e ao mesmo tempo em que eram convidativos, pareciam eneovados e misteriosos.

Se você é daqueles que dizem: "Os olhos são a janela da alma" Eu constato e acrescento que os olhos dela são compostos por uma coerção sem tamanha, que me levam aos céus toda vez em que se encontram nos meus. Mergulhava neles com a mesma confiança da qual os nadadores tem na hora da competição final. Porém me perdi em algum momento e parte de mim ficou flutuando no castanho dos olhos dela, tentando inutilmente fazer com que ela me veja.

Quando a olho, sei que estou lá. A parte que se perdeu reflete. O brilho através da névoa no escuro dos seus olhos.

O que digo: (e isso posso afirmar com veemência) é que ela impregnou cada parte minha com o que sobrou do amor dela, o qual eu recebi migalhas. E dela eu só a levei os olhos, mas queria mesmo era ter a levado o coração.

O amor não tem alardes. Não existe uma forma de programá-lo para início, meio e fim. Ele vem na calmaria e se vai urgente.

O meu amor é mar, com ondas que não se contém, que transbordam dentro de si e chocam-se umas com as outras, ao ponto das cristas se desfazerem e recomeçarem em um ciclo sem fim até alcançarem a beira da praia. Eu era caos, mas ela escolheu a calmaria. Eu faria o mesmo.

Não nego que queria que o sentimento fosse o bastante para resistir às tempestades, mas depois da chuva só restou destroços e restos de sentimentos aos trapos. Tentei de todas as formas esquecê-la, e cada vez que fazia acabava pegando todos os nuances dela em outros ares, em outras pessoas.

Chego a epítome deste sentimento, da redenção pela tentativa. Van Gogh gravava as paisagens do mundo em que vivia nas telas com perfeição, e eu faço o mesmo com ela. Cada texto, cada poema e cada frase. Sentimentos entrelinhas que passam despercebidos, escondidos e refugiados.

Penso que ela é uma sonata. Tem algo de Bach, Beethoven e Mozart nela, ou talvez as sonatas que tenham algo dela. Se ela fosse, eu seria o compositor.

Poeta FalhoOnde histórias criam vida. Descubra agora