Q U A T R O

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 Segredos

   A água quente cai sobe meu corpo relaxando meus músculos.Finalmente relaxada depois do filme de terror da noite passada. Blake não conseguiu me matar, Blake disse que matou aquela garota em meu lugar e deixou seu corpo amarrado na árvore até apodrecer e servir de lição para mim. Eu pensei em suicídio hoje de manhã mas não consegui, fui fraca como de todas as outras vezes. Eu não tive coragem e apenas fiquei chorando se lamentando do meu triste final.

Após o meu banho eu vesti uma roupa que Blake comprou para mim. Uma vestido simples da cor rosa claro. Penteio meu cabelo levemente e começo a chorar novamente, por que sou tão fraca? Será que a vida está me ensinando a ser forte o suficiente? isto é uma prova?
Suspirei de raiva e joguei o pente no espelho, meu ódio se dissipou depois disso, me sinto melhor. Blake não está aqui, isso não é novidade para mim, tudo está trancado a sete chaves mas ele deixou transitar pela casa, arrumar tudo e fazer comida. Eu comecei varrendo a casa, mesmo com a mão debilitada e torcendo para que ela não caia. Liguei o aspirador de pó e passei no quarto dele, aquelas gavetas trancadas me despertam a curiosidade novamente, estou intrigada e querendo arrombar aquilo, o que será que tem lá? Armas?

Bufei de fracasso ao tentar abrir com aquelas várias chaves, nenhuma entrava. Desisti e continuei com o aspirador arrastando o pequeno armário. Minha cara de surpresa ao ver a chave grudada na parede com fita isolante era grande, tirei com cuidado e testei em todas, apenas a última abriu. "Ele tem chave para tudo?" Pensei.

Dentro da gaveta tinha vários papéis e um caderno pequeno com a capa preta e dura, vasculhei os papéis e fiquei espantada com o que estava escrito. Eram folhas do diário de Blake.

"Hoje meu pai ultrapassou dos limites, matou mamãe e enterrou no quintal"

Dizia no papel amarelado cheirando a mofo. Eu quero chorar por ele, a infância dele foi horrível, meu Deus, ele é assim por consequência disto, céus, estou horrorizada. Outra folha dizia que seu pai batia nele e as vezes era muito violento, bebia e na maioria das vezes usava drogas, meu Deus.

Guardei tudo em seu devido lugar e fechei a gaveta trancando ela, coloquei a chave em seu lugar e me retirei do quarto. Fui até a cozinha e coloquei água no copo dando vários goles, ainda horrorizada com essa história dele tentei me recompor, ele pode chegar a qualquer momento. Tirei um prato de comida feito e coloquei no microondas, fiquei pensando olhando aqueles minutos intermináveis, o que aconteceu com o pai dele? era uma criança... uma criança que não sabia lidar, é horrível saber que ele apanhava e virou esse monstro sem sentimentos por causa das atrocidades do pai, viu sua própria mãe sendo enterrada, imagino como ele deve ter ficado, tão perturbado... Deus, como deixou isso acontecer? Agora entendo ele.

O microondas apita e me tira dos meus pensamentos, espero que ele chegue logo para comer. Voltei a arrumar a casa e quando terminei descongelei mais um prato, ele comprou tanta comida congelada e já estou me enjoando. Comi metade e fui me deitar no sofá, estou depressiva hoje e com um peso de tristeza nas costas, na verdade eu sempre estive assim, sinto falta do meu gato, mas Blake não irá traze-lo, deixou com uma mulher que gostou muito dele, ele me disse de manhã e chorei muito, eu perdi literalmente tudo.

17:00

Bebi a terceira caneca de café de uma vez, acendi a lareira por conta do frio e li algumas crônicas que achei na prateleira velha, tenho saudades dos meus livros... daquela minha casa, e meu trabalho.

Na hora lembrei de Robert, será que sentiu minha falta? Será que alguém está atrás de mim? Meu Deus, tomara que esteja.

Ou não...

Talvez ninguém sinta minha falta, eu não tinha ninguém ali comigo, eu era só.

Blake acabou de chegar reclamando do frio lá fora, foi direto beber whisky para esquentar um pouco, me notou sentada no chão rodeada de livros e crônicas, era tudo livros do século XX.

—  Gosta de ler?  — Perguntou ele.

— Muito — Olhei para ele e depois voltei a atenção no livro.

Ele limpa a garganta e se senta ao meu lado, ele está tão sereno hoje, com a expressão calma. Queria perguntar coisas sobre seu passado mas certamente ele iria ficar transtornado, então deixo para outra hora.

—  Eu vou dormir um pouco, estou exausto  — Ele diz passando a mão no rosto indo em direção ao quarto. Sinto uma pontada de decepção por ele me deixar sozinha eu queria conversar um pouco e talvez, só talvez perguntar sobre o seu passado e só assim para entender ele melhor.
   Fechei o livro e observei o fogo na lareira queimando a lenha, pensando nele. Não sei como olhar ele agora, de psicopata para vítima eu estou enlouquecendo com isso. Guardei os livros na prateleira e fui ao banheiro e a porta do quarto dele estava entre aberto e vi ele esticado na cama de olhos fechados, apenas de calça moletom, ele tem o corpo definido e algumas tatuagens, como pode ser tão bonito dormindo?

Balancei a cabeça, tola, foi sequestrada por ele. Meu subconsciente me alerta. Vou para o banheiro e lavo o rosto, estou com olheiras meias arroxeadas, irei dormir também.

Doce Tragédia (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora