Enquanto o orador da turma discursava sobre obstáculos e conquistas, Adrien deixou seu olhar vagar pela plateia. Ainda que já prevista, a ausência do pai não deixou de afetá-lo. Custaria tanto a ele folgar por poucas horas para testemunhar aquela ocasião importante? No entanto, havia compensações ― Nathalie estava lá, o orgulho mal disfarçado sob a máscara do profissionalismo. E, diluído entre os familiares e amigos emocionados de seus colegas, um rosto conhecido era enfatizado entre os demais.
O jovem recém-formado sorriu para Félix, que retribuiu de maneira sutil.
― Seu mal gosto é inacreditável, Adrien ― ouviu Chloé cochichar ao seu lado, profundamente decepcionada.
― Não acho que meu namorado tenha que preencher as suas expectativas ― respondeu no mesmo tom baixo, deslocando-se o mínimo possível em seu assento.
A filha do prefeito manteve inflexível a contrariedade, e Adrien deixou escapar um suspiro. Já faziam bons anos que ela desistira das intenções românticas para com ele ― começara a se achar patética por insistir tanto em algo sem retorno. Contudo, sua amiga de infância ainda se julgava no direito de interferir em sua vida amorosa. "Não, ela não tem nenhuma classe." "Ele é grosseiro demais." "Mas ela nem ao menos está no seu nível."
E com relação a Félix, a alegação era categórica: "Ele definitivamente não serve para você."
Como de costume, o herói ignorava todos os inúmeros motivos com que ela pretendia convencê-lo de que aquela era uma péssima escolha. Não lhe interessava o fato de que o namorado estava longe de ser abastado, era mal humorado, ou, segundo as palavras de Chloé, "insípido e vulgar". E, apesar do esforço em preservar a boa educação, já estava acima do irritante a bendita mania que todos tinham de se meter em suas decisões.
Durante seu devaneio, o aluno encerrou o discurso e a cerimônia prosseguiu, rumo ao seu final. Um a um, os estudantes foram chamados para cumprimentar os professores e apanhar o diploma de Estudos Técnicos Posteriores. Foi um longo e repetitivo processo, a que ele acompanhou inquieto até sua vez. Enfim, ouviu seu nome e seguiu o mesmo caminho que todos os vinte jovens antes dele.
Ao virar-se para o público, após trocar apertos de mão com toda a mesa de honra, Adrien reparou que Nathalie estava gravando cada momento desde que subiu ao palco. Provavelmente o vídeo foi um pedido de Gabriel Agreste, e a pequena esperança de que o pai ainda poderia aparecer sumiu por definitivo. Encarar Félix entre todos que o aplaudiam, porém, melhorou e muito seu ânimo. O que mais queria era poder descer dali e abraçá-lo de uma vez.
Porém ainda restava o discurso do paraninfo. E as homenagens. E o encerramento. E fotos, uma infinidade delas.
Adrien já convivia há bastante tempo com as câmeras para não se intimidar com elas, mas isso não tornava o procedimento menos cansativo. Estava ansioso para se livrar das formalidades e aproveitar o pouco tempo disponível antes de outro compromisso, este monótono e solitário.
E quanto afinal supôs concluído o registro fotográfico da formatura, Chloé o puxou para uma última selfie juntos. Seu pretexto era de que ele lhe devia por isso há um bom tempo, ainda que o modelo não recordasse de qualquer promessa nesse sentido. A formanda eliminou toda a distância entre os dois, abraçando-o com mais intimidade do que o restante dos colegas fizera para a foto da turma. Visivelmente incomodado, Adrien desaprovou enquanto ela sorria para o celular:
― Chloé, não acha que isso já é demais?
― Nem chega perto ― asseverou ela, e olhou de maneira zombeteira e convencida na direção de alguém em específico.
Alguém que encarava a garota muito, muito zangado. Não foi difícil encaixar as peças: ela não fizera aquilo para reforçar a proximidade entre os dois, ou por enxergá-lo como um pretendente de novo. Porque ela não esquecera a maneira indiferente com que o bibliotecário procedera na ocasião em que interagiram diretamente pela primeira vez. Porque ela iria, com toda a certeza, exibir a oportunidade que ela tinha como colega de turma enquanto Félix podia apenas assistir.
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Sadique | Chat Noir | Yaoi
FanfictionChat Noir encontrou alguém para compensar a solidão e o tédio de suas noites. Um rapaz, assim como ele. Difícil de lidar, divertido de provocar e delicioso de provar. "― Sei que no fundo gosta de mim. ― Baseado no quê? No desprezo ou na indiferença...