Cegos - Parte I

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Félix tinha uma ideia muito peculiar de castigo. Envolvia prazer... e ansiedade.

Pela enésima vez, os dedos de Adrien agarraram-se ao lençol durante um gemido involuntário. Conteve os quadris de se moverem em reação, porque se o fizesse, o rapaz iria interromper-se para puni-lo ― e no momento, o que menos queria era que ele parasse. Apenas desejava que os lábios sobre sua ereção continuassem a sugar com intensidade, ou que as unhas permanecessem fincadas às suas coxas, movendo-se somente quando para arranhá-lo e cobri-lo de riscos rosados.

Ao menos a escuridão que os encobria não permitia que ele visse suas bochechas completamente coradas, mesmo que pudesse ouvi-lo claramente. Afinal, era este o motivo pelo qual estavam naquele ambiente escuro: apenas assim sua identidade não seria revelada.

Como alguém de hábitos noturnos, Félix detestava acordar com a luz do sol ─ seu quarto era vedado da luminosidade diurna quase por completo. E, durante a noite, com a porta devidamente fechada, eram mínimos os vestígios iluminados a entrarem no recinto sem o auxílio de um abajur.

Ou seja, a maneira perfeita de se livrar do traje e da máscara de Chat Noir sem denunciar quem realmente era. No escuro, não havia identidade. Não havia certeza. Não havia responsabilidade. Não havia tempo. Eram apenas os dois.

Pouco importava que, sem a visão noturna, ficasse completamente desorientado. Acostumado com o espaço, o proprietário do apartamento o guiava sem problemas. De qualquer forma, o destino de ambos era a cama.

Já iniciaram o percurso arrancando toda roupa que vestiam, famintos um pelo outro. De maneira simultânea, sentiam alívio ao livrarem-se daqueles empecilhos e também frustração por interromperem os beijos ávidos a cada peça. Ainda que fossem muitas, ao alcançarem o colchão ambos já estavam com mais pele exposta do que coberta por tecido.

Foi Félix o primeiro a sentar-se sobre a cama, e puxou o jovem ainda de pé contra si mesmo para despi-lo da calça. Durante todo o caminho do jeans até o chão, arranhou as laterais das pernas enquanto mantinha a boca ocupada a marcar com chupões a pele deliciosa do herói. Adrien sentiu que o rosto esquentava ao deixar que um ofego audível escapasse; no entanto, não impediu a si mesmo de subir sobre o outro diante daquele convite.

Privados da maior parte da visão, restava a eles os outros sentidos a explorar. Como o toque das mãos inquietas a procurar por mais carne para agarrar. Ou o sabor da superfície do tórax, cuja musculatura era sensualmente delineada através de mordidas e sucções. Havia ainda o cheiro: aquele odor carnal e inebriante que se impregnava nos poros e nas madeixas loiras dos dois.

Aproveitando-se da posição estratégica dele, sentado sobre si mesmo, Félix fincou os dedos em seu quadril para pressioná-lo contra o próprio. Com o roçar súbito em seu sexo, Adrien acabou por gemer durante um beijo, que abafara o ruído de maneira indecente. As fricções tornaram-se mais e mais frequentes quando passou a remexer-se de modo instintivo sobre o colo dele, em resposta aos lábios que abandonaram os seus para esfregar-se em seu pescoço.

O modelo ofegou mais uma vez com o contato tão estreito entre os corpos, enquanto ele desfrutava da textura e maciez de sua garganta. E se o rapaz maculava sua pele com marcas rubras e saliva, fez o mesmo às costas dele, cobrindo-as de arranhões. Eram diversas as sensações, mesmo que nada pudesse ver: a respiração cálida como uma carícia sobre sua pele, a língua a deslizar pelo pomo-de-adão, ou ainda os dentes a roçá-lo e mordê-lo.

E, principalmente, o delirante prazer do órgão rijo a latejar contra a seu.

Ávido para exercer seu domínio, Félix enlaçou os dedos entre os cabelos dele e puxou-os para trás ─ expondo a garganta daquele herói tentador à sua vontade. E não era o único a deliciar-se com tal gesto: o jovem mal pôde conter o murmúrio sôfrego e necessitado, tão vulnerável à veemência daquele que descobrira tão bem cada um de seus pontos fracos.

Ahh, Félix...!

─ Cada vez que geme desse jeito me deixa mais excitado ─ sussurrou sobre a clavícula, antes de abocanhá-la também.

Adrien enrubesceu até o último tom de vermelho ao ouvi-lo. Naquele quarto um mínimo suspiro seria ouvido. Tanto que se acostumaram às vozes um do outro: da menor nuance do timbre, do ritmo da respiração, dos gemidos.

Tinha quase certeza de que ele dizia aquele tipo de obscenidade para deixá-lo envergonhado. No entanto, não podia negar que eram aqueles os momentos em que o mais desejava ─ quando queria que ele o amarrasse, o castigasse, o enlouquecesse, o possuísse. Ou quando se lembrava dos dedos a percorrer sua pele com uma paciência torturante enquanto se contorcia em vão contra as amarras, das mãos a apertar sua carne com voracidade; tudo era consequência daquela voz rouca e baixa, lasciva e um tanto arrogante a incitar em Adrien uma ânsia desesperada.

De modo impetuoso, se impulsionou para empurrá-lo e deitá-lo na cama, mantendo-se sobre os joelhos e cotovelos acima do rapaz. Afinal, se não o fizesse, não teria mais chances de tocá-lo caso ele se decidisse por amarrá-lo. Segurou o rosto dele pelas laterais de maneira terna e o beijou mais uma vez, deixando escapar todo o desejo e exasperação através do contato.

Logo os lábios não eram suficientes para satisfazê-lo, e Adrien desceu a boca pelo peito e abdômen. As mãos haviam se adiantado e envolveram rapidamente o membro ainda coberto por tecido. E nesse momento pode apreciar um de seus momentos preferidos: quando o frio e sério devorador de livros gemia sob o seu toque. Era impossível não se sentir orgulhoso por romper com aquela impassibilidade, assim como era difícil não se excitar ao ouvi-lo.

As mãos a afagar seus cabelos eram agora suaves, e imaginava que se Félix soubesse seu nome esse seria o momento ideal para sussurrá-lo. Ele obviamente não usava seu codinome, pois mesmo que não soubesse sua identidade por trás da máscara, era Adrien ali, e não Chat Noir. Talvez por isso não o chamasse por nome algum quando estavam ali trancados. Livrou-se de todas as roupas que ainda obstruíam seu caminho sem muito cuidado, mas antes que pudesse tocá-lo os movimentos foram bloqueados.

― Está sempre apressado, gatinho. ―O murmúrio somado aos dedos que ainda acariciavam sua nuca despertou nele uma vontade instintiva de ronronar. ― Vou ter que te domesticar?

― Não sou um gato domesticável ― refutou, frustrado com a interrupção.

― É um gato selvagem, então?

Deveria se sentir profundamente subestimado com aquela ironia desaforada, mas os argumentos para desmenti-lo eram inexistentes. Não enquanto realmente se entregava à ansiedade mais primária e luxuriosa, que diferia um pouco de sua impulsividade como Chat Noir. Além disso, agradeceu mais uma vez pela escuridão que não denunciava seu rubor, impossível de conter quando era tentado daquela maneira.

Foi fácil para ele inverter as posições entre ambos, e logo era o herói pressionado contra o colchão. De joelhos entre as pernas do jovem, apanhou uma delas e a manteve flexionada, enquanto ocupava-se em excitá-lo ainda mais com carícias na virilha.

Esta era, de forma simultânea, a melhor e pior parte em transar com o rapaz. Enquanto Adrien era ansioso e queria despertar nele estímulos imediatos, Félix preferia as provocações longas, incitando-o até o descontrole. Era por este motivo que, mesmo ciente da perceptível rigidez, deliberadamente evitava um contato maior ― apenas um ou outro roçar, para que o jovem deitado arfasse ou se contorcesse. Ele mordeu o lábio inferior e suplicou:

─ O que preciso fazer pra você não me provocar desse jeito?

─ Peça por mais.

Era uma sentença simples e fácil de cumprir, mas cada frase imperativa dita através dos lábios dele ganhava contornos de ordem ― como "vire-se", "abra mais as pernas", ou "fique de joelhos". Estava excitado demais para retrucar, e o modo com que ele o dissera fez com que se arrepiasse. Afinal, diante da ideia de se submeter e ceder tão facilmente sentia o corpo todo implorar por ele. Basicamente, o que Félix queria é que implorasse. E iria fazer exatamente como ele queria.

─ Por favor. ―Gemeu com os dedos agora tão próximos de onde mais os queria, e repetiu como precaução: ― Por favor, continue.

─ Bom ― murmurou, satisfeito, e seus lábios já estavam sobre a carne macia e suave das coxas de Adrien. ― Continue obediente e vai ter tudo o que quiser.

Sadique | Chat Noir | YaoiOnde histórias criam vida. Descubra agora