Capítulo 30 - Day 28- Ironic doesn't?

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*28 de Junho de 2016*


Narrador

Todos os dias milhares de pessoas nascem e outras milhares morrem, muitas lutam na esperança de uma vida melhor, seja lutado contra uma doença, contra a fome, contra pobreza e todas elas se assemelham em um ponto, a dificuldade de encarar a realidade.

Acordar todos os dias e voltar a viver seus problemas, dificuldades; pode ser que você tenha uma vida invejável, viagens, dinheiro, poder, seja intocável sempre vai existir algo que te amedronta e muitas vezes a mudança é a causa do medo, não se adaptar a ela, acabar machucado no final, tudo assusta, e até o chefe da máfia tem o direito de chorar sentado no chão do banheiro com medo dos dias que virão.

- Rugge ta tudo bem? Você ta rindo ou chorando? – Karol batia preocupada na porta do banheiro da suíte principal.

Ruggero vivia em um jogo sem regras, em um jogo onde beirava o impossível a capacidade de imaginar o futuro, tudo era um risco, e cada um desses riscos podia levar a sua própria destruição ou destruição de alguém amado por ele.

Mas Pasquarelli havia encontrado seu ponto de paz, não era como se desde 1 de junho ele não tenha mais com o que se preocupar, ele tem, e como tem, mas com Karol ele conseguia enxergar além daquilo tudo. Ele conseguia olhar para frente e ver mais que sangue sendo derramado e vidas sendo tiradas, mais do que a morte de um traidor ou de um amigo por algum rival, pela primeira vez ele conseguia ver seu futuro sem envolver destruição.

Talvez o que ele via estava longe de um dia se tornar realidade, a realidade inclusive poderia ser muito mais cruel que o que ele pensava ou idealizava, ela podia os separar e era isso que o temido chefe da máfia temia. Irônico não?

Na cabeça dele pelo menos era, como alguém que coloca medo em pessoas de quase um país inteiro, que é procurado por mais de uma polícia estrangeira, que com um estalo de dedo podia matar ou ser morto, tinha como seu maior medo acabar longe de uma mulher que conhecia a apenas um mês.

Karol trazia luz em seus olhos, e era essa luz que Ruggero sempre tinha precisado. Era essa luz que o fez encontrar o Ruggero que estava perdido dentro dele mesmo. Essa luz iluminaria sua alma, mas a alma dele não deixava luz alguma entrar, havia sido tomada por escuridão há muito tempo, não era qualquer coisinha que a iluminaria, mas aquele brilho verde iluminou.

Com a morena que agora batia na porta do banheiro totalmente aflita não era tão diferente. Pra ela que confiar nos outros havia se tornado algo tão difícil, confiar nele foi mais que fácil, e no fim não era só confiança que estava envolvida, era segurança, era companheirismo, era afinidade. Pela primeira vez em alguns anos ela não se sentia deslocada ou sozinha.

De uma forma inconsciente e inesperada eles haviam se completado. Ela era a paz que faltava na vida nele. E ele era a emoção que falta na vida dela. Ambos gostaram da mudança que o outro proporcionou para aqueles mês, e o que agora preocupava os mesmos era a mudança que ocorreria nos dias seguintes.

- Ruggero Pasquarelli eu juro que se você não abrir essa porta eu... – Karol gritava até ser interrompida por um Ruggero vestido com uma calça de moletom e o rosto totalmente inchado e vermelho.

- Desculpa, eu não queria te preocupar. – Disse o moreno sem conseguir encarar Karol nos olhos.

- O que aconteceu Rugge? Olha seu estado.

- Não aconteceu nada pequena, é que nem as pessoas falam na internet, bateu uma bad. – Forçou um sorriso.

- Você sabe que pode falar Ruggero. Não me vem com qualquer desculpinha, que você sabe que eu não vou cair assim tão fácil.

- É que, eu parei pra pensar em todos os riscos que eu corro e coloco as pessoas que eu amo pra correr. Eu fiquei me questionando se o império que é a máfia valia a pena. E por causa disso acabei me lembrando de pessoas importantes pra mim que foram agredidas ou mortas de alguma forma horrível só por estar perto de mim. – A máfia te dá qualidades inesperadas, aprender a mentir é uma delas.

- Rugge, você não é culpado pelo que aconteceu com elas, não se culpe por isso.

- Mas se elas não me conhecessem, elas provavelmente ainda estariam vivas com uma vida incrível.

- Não tem como a gente saber se isso aconteceria Rugge. Você não é uma bomba relógio como você ta pensando, elas passaram momentos muitos bons com você e não foi você que destruiu eles.

- Eu tenho medo. – Confessou finalmente, os olhos voltando a se encherem de lágrimas.

- Medo de que?

- De te perder, de ser o motivo da sal destruição. Eu nunca me perdoaria Ka.

- Nada vai acontecer comigo Rugge, primeiro que eu sempre to do seu lado e segundo que olha quem é meu pai, em dois segundos ele pode colocar a Swat inteira pra me proteger, eu vou ficar bem Ruggero, aqui ou em Nova York, você não vai me perder.

- Mas Ka, é inevitável o nosso afastamento quando você for embora.

- Ruggero, afastamento não significa que nunca mais nos veremos ou que nunca mais vamos conversar, para com isso. Agora lava esse rosto, coloca uma roupa que eu to morrendo de fome e quero almoçar fora.

Ruggero não podia ser totalmente sincero quando falava sobre seus medos, parando para pensar nem com ele mesmo ele havia sido sincero. O medo de Ruggero ia além de perder Karol, o medo era de perde-la para a morte, para a tortura, que ela acabasse nas mãos de alguém que fizesse o que Ruggero estava acostumado a fazer com os outros, causar dor, causar sofrimento.

Karol não percebia o quão estranho o moreno havia ficado em apenas algumas horas, menos de um dia antes eles andavam normalmente pela rua, hoje o mafioso tinha preocupações, se preocupava em olhar para os lados algumas vezes, em escolher uma mesa isolada, em comprar o sorvete no drive thru de um fast food em vez de um carrinho de rua.

Detalhes que ele nunca ligou, nessa noite ele se preocupou, sem motivo aparente aos olhos de Karol que só achava que era uma mudança na rotina, já que seus dias na Itália estavam acabando, mas para Ruggero era o medo que batia na porta, era o medo de algo ruim acontecer com quem ele mais queria proteger.

Nada passava de uma sensação ruim, uma angustia, garganta seca, aperto no peito e um estomago completamente embrulhado, mas nada passava de uma sensação ruim, mas era normal aquilo tudo, acontecia com Karol também, pressentimento ruim como ela chamava, não precisava de preocupação.

Era só uma sensação ruim.

E com o passar dos minutos ou horas iria sumir e ele voltaria a se sentir bem, ele estaria agindo normalmente de novo, sem mudar sua rota ou costumes, voltaria a conseguir encarar a morena que agora dormia no banco de passageiro sem medo de ser a última vez.

No fim aquilo doía no mafioso, porque ele sabia que não era só uma sensação ruim, ele sabia que alguma coisa ruim aconteceria a qualquer momento e ele não poderia impedir.

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