Eleven

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O despertador tocou naquela manhã, e Rodrigo quis não precisar se levantar, estava cansado, sua noite havia sido em claro, ainda rodando as palavras de Agatha em sua mente, ao mesmo tempo que velava o sono agitado dela.

-Você precisa levantar? -A voz rouca o despertou.

-Infelizmente sim. Queria ficar aqui.

-Eu também vou ter que gravar. E ainda preciso acordar a Manu e dar banho, pra deixar na escola. -Ela sorriu fraco recebendo um selinho dele.

-Vou fazer café pra gente, e preparar a mamadeira de Manu. Espero vocês na cozinha. -Ele sorriu e se levantou saindo do quarto.

Agatha se levantou em seguida e caminhou até o quarto da filha, riu ao ver a pequena espalhada pela cama, num sono tão profundo que chegava ser difícil de acreditar.

-Manu... -Ela chamou acariciando o cabelo da filha e sorriu.

-Ah não mamãe...

-Já tá na hora, levanta vai... vamos tomar um bainho?

-Não... Não... papai...

-Papai foi fazer a mamadeira. Vamos lá vê-lo então. Vem. -Ela riu e pegou a pequena no colo e saiu de seu quarto caminhando até a cozinha.

-Bom dia meu amor... -Rodrigo sorriu ao ver a filha entrar na cozinha.

-Ela tá brava papai...

-E por que? -Ele caminhou até a mulher pegando a filha no colo.

-Não quero acordar agora... -Manu suspirou enrolando suas mãozinhas no cabelo do pai e o fitou.

-Mas e a escolinha? E seus amiguinhos, sua professora? Cê acha que eles não vão sentir muito a sua falta?

-O Caio vai sentir muito minha falta... -Manu assentiu e sorriu em seguida.

-Agora pronto... -Agatha riu indo até o fogão.

-Quem Manuella? Eu não quero saber de Caio não... -Rodrigo rolou os olhos ainda fitando a filha.

-Quem quer cafezinho? -Agatha riu entregando a mamadeira a Manu e abraçando o marido por trás, como podia imaginar viver sem aquilo.

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Rodrigo chegou atrasado ao Projac, juntar Agatha e Manuella pra se arrumar nunca era uma boa, a filha mal tinha feito 4, e já sabia direitinho como trocar de sapato mais de 10 vezes antes de sair. Ele riu ao lembrar dos momentos de mais cedo, Agatha estava leve, e sorridente, e ele amava isso.

-Atrasado bonitão? -Um dos colegas de elenco de Rodrigo riu.

-Experimenta ter duas mulheres parecidíssimas em casa pra você ver...

-Eu imagino, Manuella faz a cara de tedio igual a da mãe, me lembra a Agatha todinha... apesar de ser a sua cara. -Ele riu dando tapinhas nas costas do amigo.

-Sim, minha cara, jeito, personalidade e braveza da mãe... tô ou não tô bem servido? -Ele riu.

-Sim, imagino como você não vai sentir falta das duas quando a Agatha tiver que ir! Já decidiu se vai também?

-Ir? Pra onde elas vão? -Rodrigo fitou o homem confuso.

-Tu não sabe da proposta que a Agatha recebeu para morar fora do país? Já é antigo que tá rolando isso, pelo que fiquei sabendo ela tinha aceitado.

Ele sentiu o ar faltar, e sua mente mal conseguia processar as palavras que havia acabado de ouvir. Agora tudo fazia um pouco mais de sentido, as ligações, a ansiedade que a rondava esses dias. E ele sentiu, que aquela sensação se aproximava do que ela passou, quando ele simplesmente foi embora.

Caminhou pra fora do estúdio tão rápido, e mais rápido ainda se viu parado na porta do set aonde ela gravava. Sua cabeça girava e seu corpo tremia de uma forma que ele nunca havia sentido, a sensação de uma perda que ainda nem havia tido o tomava. Ele queria gritar.

-Rod? O que houve? -Agatha o viu entrar e caminhou até ele

-Proposta pra atuar fora do país, hein!! Quando você ia me contar?

-Que? Rodrigo eu não...

-Era esse seu plano o tempo todo? Me fazer sentir na pele o que eu fiz você sentir? -Ele riu em deboche.

-Claro que não... Rod eu nem aceitei ainda. -Ela suspirou.

-Não foi o que me disseram. Era sobre isso as ligações não é? As mensagens, sua ansiedade...

-Fazia tempo que eu havia recebido a proposta. Eles voltaram a me ligar esses dias, mas eu ainda não disse nada... -Ela se aproximou.

-E não me contou? E se a tua decisão for pelo sim? Ia deixar chegar o dia de ir e me deixar aqui? Me sentindo um nada? Sem você, sem a minha filha.

-Eu não ia sem você... eu ia te contar, eu ia te pedir pra ir comigo caso eu aceitasse... amor, por favor... -Ela tentou envolver seus braços no corpo trêmulo a sua frente.

-Amor? Aonde fica esse amor agora? -Ele se afastou bruscamente e secou uma lágrima que caiu.

-Não faz isso... eu ainda não decidi. -Ela secou seu rosto, seu coração batia tão rápido que chegava a doer.

-Eu facilito então... vai, pode ir. Mas a minha filha fica! -Ele disse por fim, e se virou saindo do estúdio.

Todo amor que houver nessa vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora