Twelve

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Como tudo de bom que havia acontecido nos últimos meses havia se tornado aquilo era aonde Agatha queria chegar, culpava sua insegurança e seu medo de se entregar novamente. Culpava sua indecisão e sua vontade de ter tudo ao mesmo tempo mais ainda. E culpava Rodrigo, ah sim! Culpava muito Rodrigo, por não querer ouvir o que ela tinha para dizer, por sair sem olhar pra trás.

A proposta de um trabalho fora do Brasil não era nova, e a meses atrás quando a recebeu lhe pareceu a melhor das ideias, não fosse por Manu, e por Rodrigo, por Manu com Rodrigo e por tudo o que ela ainda sentia por ele. E então ele voltou, trazendo consigo a avalanche de sentimentos guardados a sete chaves, e aquela proposta se tornou distante, até ela receber novamente a ligação. E tudo estar aonde estava agora.

-Como foi que ele soube mesmo? -Jéssica perguntou suspirando enquanto observava a amiga tirar suas roupas do armário.

-Eu não sei Jéssica, ele simplesmente chegou e jogou tudo em mim, não me deixou falar, não me deixou dizer que eu não pensava em ir sem ele. -Ela secou novamente o rosto, não havia conseguido parar de chorar desde que ele tinha a deixado mais cedo.

-Mas você também não podia pedir que ele largasse tudo para ir com você né, amiga? Rodrigo tem uma vida aqui, uma carreira...

-Eu não ia Jéssica, eu não ia. Mas não vou deixar ele tirar a Manuella de mim. -Ela suspirou terminando de jogar as últimas roupas na mala.

-Cê não acha que sair correndo assim vai ser pior? Ele tava assutado pela notícia ainda Agatha, melhor conversar de cabeça fria...

-Não sei se ele vai ser capaz de esfriar a cabeça... Não vou ficar pra ver. -Ela secou mais uma vez as lágrimas e fechou a mala que havia preparado com algumas roupas dela e de Manu.

-Manu vai sentir tanto amiga... olha pra você, você vai sentir tanto... joga o orgulho no chão, ninguém nunca morreu por voltar atrás. Vai lá, diz tudo o que você me disse aqui, grita que ama ele se for preciso, mas não se mata por orgulho. -Jéssica se aproximou abraçando a amiga, havia sido testemunha daquele amor que cresceu durante todos aqueles anos. Era difícil até para ela pensar no fim.

-A gente se perdeu...

-Mas pode se achar... por favor Agatha, por favor amiga. -Jéssica pediu.

-Agora não... eu preciso ir. Você sabe que daqui a pouco sai meu vôo. Vou pegar a Manu. -Agatha sorriu fraco.

-Deixa pelo menos eu te levar no aeroporto? Você não tem condição de pegar no carro, por favor.

-Não precisa amiga, eu vou pegar um uber. Já tá sendo doloroso demais deixar tudo aqui, prefiro ir sozinha.

Ela abraçou mais uma vez a mulher a sua frente, tanta coisa que já haviam enfrentado juntas, não era fácil dizer adeus.

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A única certeza que ela tinha era que nada estava colaborando com ela naquele dia. O trânsito estava caótico, e parecia quase impossível chegar ao aeroporto. Manu estava quieta demais, não havia dito uma palavra desde que saíram de casa, e no fundo ela tinha certeza que a filha sabia que algo não estava bem.

-Mamãe compra um doce bem gostoso pra você... quer? -Ela sorriu observando a pequena?

-Não quero mamãe...

-Não quer doce? E sorvetinho?

-Não quero... a minha cabeça dói. Minha barriga também. -Manu suspirou.

-Que? A cabeça filha? Deixa a mamãe ver... -Tocou a testa da filha e sentiu a palma de sua mão quase queimar. -Você tá ardendo em febre filha...

-Quero meu papai... -Ela choramingou e Agatha sentiu seu coração se partir em migalhas, mais uma vez ela tinha desmoronado tudo o que tinha, mais uma vez era culpa dela.

Todo amor que houver nessa vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora