Mafalda
Ainda dentro do carro, o assunto do futebol era duradouro. Quanto mais me explicava a paixão que tinha, mais queria saber.
Notava perfeitamente que era a escapatória do moreno, que era tudo o que queria para a vida, o Futuro tinha que ser no futebol. Pelo que me contava, estava bem encaminhado.
- Tenho jogo dia vinte e nove na Luz, se tivesses tempo, gostavas de ir ver? - Propôs, os meus olhos encontraram os dele.
- Gostava de ir, mas sem compromissos, ainda falta muito tempo. - O rapaz concordou.
Acabamos por lanchar na Padaria Portuguesa, pois o moreno queria algo leve e sem fritos. Um ponto a seu favor, pois não era apologista desse tipo de comidas.
Fritos, gorduras, molhos.
Uma boa sandes e uma sumo a acompanhar, nada melhor para lanchar. Apesar do rapaz ter pedido a dobrar.
Estava esfomeado depois do treino, porém, não queria algo pesado/refeição.
- Quando voltas á faculdade?
- Algures em Fevereiro. Tenho de ir saber bem o horário e as cadeiras em que fiquei. - Dei-lhe a pequena informação enquanto esperávamos pelo nosso lanche.
- Isso quer dizer que tens tempo livre durante o resto do mês? - Assenti, era praticamente o que havia dito. - Muito bem!
- Então, porquê?
- Então, porque assim tenho muito tempo para te dar a conhecer o verdadeiro Rúben.
Balancei a cabeça, acabando por sorrir.
- Só não te convido a jantar hoje, porque o meu irmão está à minha espera. Mas fica para breve Mafalda, também te quero conhecer. - Assenti, embora bastante nervosa.
E surpreendida com a naturalidade com que me dizia aquelas coisas. Senti o meu rosto cada vez mais quente, sempre que nos olhávamos.
A comida chegou exatamente no momento em que os nossos olhares se conversavam.
Soltei um suspiro baixo.
- Algo me diz que és muito envergonhada. - O moreno comentou.
- Ai sim? E porque dizes isso?
- Ficas nervosa quando olho para ti. Tentas sempre evitar. - Sorriu, levando o copo à boca e desviando o olhar do meu. - Certo?
- Mais ou menos. - Encolhi os ombros, sem ter muito mais a dizer.
- Pode ser que consiga mudar isso.
Soltei uma risada curta e nervosa, mantendo o olhar no meu lanche. O moreno tentava ler-me e perguntava aquilo que achava ser verdade ou uma característica minha. Acertava em poucas, errando imensas suposições.
No entanto, foi o bastante para nos fazer rir. As últimas suposições que fizera, encontravam-se bastante com a minha personalidade.
- Posso fazer a pergunta da praxe?
Encarei-o, confusa com o que se referia. Entrei no carro, tal como ele.
- Pergunta da praxe?
- Sim, a pergunta que não pode faltar.
- Sim....
- Tens namorado?
Soltei uma gargalhada alta, reparando no riso tímido do moreno. Ficou realmente nervoso ao ouvir-me rir como resposta.
Como é que ainda não tinha reparado no quão nervosa fico perante a sua presença?
Era mais que óbvio a minha falta de ligação com rapazes. E tudo o que envolvem. O Rúben, ainda a olhar-me um tanto nervoso, continuava à espera de uma resposta.
- Não, não tenho namorado.
- E porquê essa reação? Ia tendo um enfarte!
- Porque será? Achas que alguém como eu tem namorado ou sequer lida com rapazes? - Ficou um pouco confuso.
- Alguém como tu? Com todo o respeito, acho-te uma miúda linda e tens uma personalidade e um feitio fácil de lidar. És super calma. Por isso, sim... Acho que podes ter namorado.
- Obrigada Rúben. - Senti o meu rosto a queimar perante as suas palavras. - Mas desta vez estás errado.
O rapaz sorriu-me.
- Bem, não posso dizer que estou desiludido.
(...)
E então, o que estão a achar??