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Mafalda

Continuávamos em silêncio.

- Qual era a banda que estava a tocar? - Após terminar de devorar o jantar, depois de termos falado de um assunto tão frágil, perguntou. - A música era bonita.

- Daughtry. É tão antigo! Ouvia há uns anos, mas ainda há músicas que gosto. - Contei-lhe, vendo-o pegar no telemóvel.

O moreno colocou o nome no Spotify, para que ficássemos a ouvir o género de musica

- O que tanto te preocupa, Rúben?

Quebrei novamente o silêncio, a meio de uma musica. O rapaz balançou os lábios, voltando á expressão indecifrável. Ficou tenso, tal como o encontrei ao entrar no carro.

Talvez tivesse relacionado com o futebol, como me havia dito. No entanto, algo me dizia que na sua cabeça havia algo mais.

- A minha mãe não me fala.

Os nossos olhares encontraram-se novamente.

- Será que ela não percebe mesmo ou não quer perceber o que está à frente dos olhos? Porra, é que já não é a primeira vez! Ele faz o que quer, ela simplesmente deixa.

Apertou o volante do carro, começando a ficar realmente irritado. Era um assunto delicado, o que causava um misto de emoções más dentro do adolescente ao meu lado. Fiquei em silêncio enquanto falava, queria apenas ouvir.

- Ele estoira o dinheiro no álcool, a minha mãe no dia a seguir já lhe enche a carteira a pensar que ele mudou.

Soltou uma risada sarcástica.

- Basta a puta de um pedido de desculpas para ela esquecer que vive com um alcoólico, que ele não vai mudar. E porquê? Porque precisava de estar internado para isso.

Desviou o olhar.

- Será que ela é tão... Tao sei lá, burra para não perceber isso? Porra, estou farto.

- Eu percebo a tua frustração, acredita que sim, mas não podes fazer muito mais. A tua mãe vai ter que aprender ás suas custas.

- Mas é fodido vê-la a afundar-se com ele.

Suspirou frustrado, largando o volante. Baixou a cabeça e brincou com os seus dedos.

- E ela não me fala. Ele é que bebe, desrespeita a minha avó e ainda me provoca e é comigo que ela deixa de falar, Mafalda. Não percebo. Estou a tentar perceber há anos.

O moreno encarou-me e pela primeira vez, não tinha aquela expressão impenetrável. Tristeza e raiva num o olhar.

Num ato de coragem, pousei a mão no rosto do Rúben e este inclinou o rosto.

- Não tens culpa. E tens razão no que dizes.

Mordisquei os meus lábios, com receio de dizer algo que o fizesse ficar chateado, mas a verdade é que queria dizer-lhe muito mais.

- Não quero que fiques chateado e desculpa se não é o que queres ouvir.. Mas Rúben, esta luta não é tua e não te cabe a ti lutar. A tua mãe não o quer deixar, independentemente de ver que é disfuncional... O que podes fazer tu?

Encolheu os ombros.

- Tens que a deixar descobrir por si mesma. Já te enervas demais e isso não te faz bem. Podes preocupar-te, mas não podes mudar nada. E eu sei que é difícil ouvir isto.

- Esse homem veio estragar a minha relação com a minha mãe. E com a minha família, pois já sou um sacana agressivo.

- Não me parece que os teus avós e o teu irmão te vejam dessa forma.

Tentei tranquiliza-lo e ouvi outro suspiro.

- Certamente... Eu não te vejo dessa forma. - O seu olhar encontrou de novo o meu. - Deixa-a e ela vai cair em si.

Assentiu, compreendo o que quis dizer. Fiquei aliviada por não se ter chateado.

- Ela é crescida Rúben, uma mulher feita.

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