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Mafalda

Já se tinham passado dois dias. Era Sábado, o mês estava a meio. Tinha acabado de chegar ao Bairro Alto, a pedido do meu pai.

Como estava em casa, pediu para almoçarmos juntos. Desde o Natal que não tinha voltado ao bairro, onde as pessoas me conheciam e quase todos os dias perguntavam por mim.

Aceitei o pedido, pois precisava férias longe das duas miúdas que não me largavam.

Liguei-lhe, a perguntar onde estava.

Este encontrava-se num restaurante local, perto da sua casa, onde costumávamos sempre almoçar ou jantar. A dona tinha os seus setenta anos com uma energia de adolescente. Os seus trabalhadores eram familiares. 

A cunhada ajudava na cozinha e a filha mais velha atendia os clientes. Por vezes o namorado vinha ajudar ou alguma amiga.

- Então filha, como estás? - Após beijar o meu rosto, sentei-me á sua frente.

- Estou cansada. E o pai?

- O normal. Muito trabalho. - Assenti. - Cansada e estás de férias? As tuas amigas não te deram descanso?

- Nada mesmo! Foram dois dias seguidos, elas são malucas da cabeça.

Soltei uma breve risada e ele concordou.

A senhora apareceu na nossa mesa com um belo bacalhau com natas, pão e salada. Ainda o copo de vinho para o meu pai, com a garrafa de água e azeitonas. Agradeci-lhe, sendo elogiada pela mesma.

Era bastante comum em qualquer terrinha, que as senhoras mais antigas nos elogiam, visto que nos viram nascer e crescer.

Acenava e sorria, apenas isso. Simpática, mas o facto de odiar atenção não ajudava.

Enquanto almoçávamos, o meu pai comentava uma conversa com o meu avô. Deixou no ar um convite por parte dos mesmos para voltarmos à Serra no próximo fim de semana.

Até que era uma boa ideia, pois possivelmente só nos voltávamos a ver no Verão, após o final do meu terceiro semestre.

- E hoje, quais são os planos?

- Não sei. Devo ir para casa, fazer uma limpeza e deitar-me no sofá. Deprimente.

Encolhi os ombros e ele riu-se.

- Até dizia para irmos passear, mas acabei de receber uma mensagem da empresa. Precisam que vá ver uns papéis quaisquer.

- Trabalho chama, patrão. - Brinquei, entrando no meu carro, após despedir-me.

O homem acenou-me do seu carro.

Enquanto caminhava para casa, o pensamento que não abandonava a minha mente, regressou em segundos. Já não tinha ninguém a abstrair-me e o moreno estava de volta. Não sabia nada dele desde que neguei o jantar.

Provavelmente desistiu de me tentar conhecer, após lhe ter negado um convite. Porém, estava com as minhas amigas e ele tinha de aceitar. A minha mente atraiçoava-me.

Pensei, nestes dois dias, em enviar-lhe mensagem e procurar saber como está. Apesar de recear estar a incomodar.

Decidi então aguardar que fosse ele a procurar falar comigo e a tomar iniciativa.

O que não aconteceu.

Tinha receio de insistir e ao mesmo tempo, que ele pensasse que já o tinha esquecido. Esse não era o caso, pelo contrário.

Estacionei o carro diante do prédio, desligando o motor do mesmo. Não sai logo, olhava para o meu telemóvel e pensava na melhor forma para começar uma conversa com ele.

Estava nervosa e isso era exagerado.

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