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                  17 de fevereiro de 2015

Segurava o novo membro da família com toda a emoção que uma irmã mais velha podia sentir, me deliciando com os traços que se assemelhavam por vezes aos de minha mãe, e por vezes aos de meu pai. No canto da sala azul, minha namorada de cabelos longos pretos se encontrava envolvida no próprio corpo, sua expressão parecia distante e sua posição a denunciava um pouco desconfortável. Intercalei meus olhares entre ela e o bebé, tentando imaginar o que passaria pela cabeça da mesma no momento. Alexa,  sempre expressara seu descontentamento com a presença de crianças, e eu sabia disso. Sabia que ser mãe não fazia parte dos seus planos para o futuro e isso não me incomodava, não mais, pois eu a amava incondicionalmente e sem qualquer tipo de imposições. Seu olhar se encontrou com o meu por breves instantes. Num reflexo de timidez se encolheu no próprio corpo desviando o olhar até o ponto fixo no chão que fixava momentos antes.

— Queres pegar nele um pouco? — dei um sorriso de leve para que soubesse que estava tudo bem.

— Não. — seu olhar continuava baixo, e eu não insistiria.

                      17 de março de 2015

Senti meu corpo numa queda livre em direção a lugar algum, sem saber porquê, onde estava e qual a razão. Senti meu corpo estremecer á medida que o chão se aproximava. Senti meu corpo...

— Emma. — me acordou de forma calma, passando a mão suavemente várias vezes pelo meu braço. ——Natan está a chorar. Outra vez.

Suspirei. Um mero sonho em queda livre comum a qualquer ser humano. Esforcei-me para abrir os olhos me fazendo voltar á realidade.

— Achas que devo ir lá? — perguntei virando-me devagar para encarar a mesma que parecia bastante irritada com o choro incessante.

Ela assentiu com a cabeça, voltou as costas para mim numa tentativa de retomar a seu sono. Levantei da cama sentindo a preguiça e o cansaço me invadir e me dirigi até o quarto do mais pequeno que ficava no mesmo andar que nossos aposentos. Parei na porta tomando um pouco de tempo para analisar a mulher que partilhava a cama comigo. Inspirei com certa força. Não era do agrado da mesma e as mudanças faziam-se sentir no seu comportamento. Havia vezes que desejava entrar no pensamento dela. Saí do transe e continuei meu caminho. A progenitora parecia imune aos gritos de Natan, talvez o cansaço tivesse tomado conta dela.

Entrando no quarto me deparei com um pequeno ondular nos lençóis do berço acompanhado de um choro gradativo. Me aproximei esforçando-me para fazer o mínimo barulho possível deixando assim que os outros continuassem com seus sonos e sonhos, enquanto eu lidava com o pequeno monstrinho. Peguei cuidadosamente no mesmo me certificando que minhas mãos cuidavam carinhosamente da cabeça do menor e o trouxe para junto do meu peito com toda a calma que ele merecia naquele momento. Com o mesmo no colo, sentei-me numa poltrona que havia no canto do quarto. Sorri assim que o mais puro pensamento me invadiu. "Eu amo-te." sussurrei de forma quase inaudível, sabendo que ele não entenderia o que eu estava murmurando. Tentei baloiça-lo por uns momentos mas foi em vão. Decidi levantar e passear um pouco pelo quarto na esperança que o mesmo cessasse o choro e encontrasse paz num sono tranquilo.

— O que tu estás a fazer com — gaguejou — com ele aqui? — perguntou uma mulher resmungona no momento em que adentrei o cómodo com Natan nos braços.

— Amor, eu não consegui deixa-lo lá...Deixa-o dormir connosco, por hoje apenas? — minhas palavras saiam implorando.

— Tu és muito mole Emma. Vem — ajeitou-se na cama — está tarde.

Sorri de canto por ver que tinha ganho aquela batalha sem qualquer tipo de esforço e coloquei cuidadosamente o bebe do lado de Alexa me apoiando com um joelho na cama.

— No meio? — ela perguntou com ar assustado. Não tencionava causar sentimentos ruins na mulher que se demonstrava amedrontada. Via um sentimento de medo tomando conta do seu olhar.

— Não estavas à espera que eu fosse colocar ele na ponta da cama? É pequeno Alexa, ele pode cair.

— Eu vou esmagá-lo durante a noite, Emma. — gaguejou um pouco como era costume sempre que a mesma ficava nervosa com algo.

— Tu não vais, amor. — tentei passar-lhe segurança, vendo ela soltar um longo suspiro que quase levou meu ar junto e com todo cuidado do mundo abriu espaço para conforto do bebé.

17 De MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora