17 De Maio

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17 de maio de 2019

Um vazio. Silêncio. Despertei percorrendo meus dedos pela superfície da cama, mantinha meus olhos fechados na esperança de não precisar abri-los para encontrar o que procurava. Alexa não estava por perto. Deixei que meus olhos abrissem lentamente e através dos tracejados vermelhos decifrei o horário que marcava o relógio na mesa de cabeceira. Tal foi o meu espanto ao ver que eram apenas 6:00 da manhã de sábado. Era raro e talvez estranho minha companheira se encontrar acordada a uma hora tal, e onde ela estaria? Eu olhava em volta do quarto ainda da cama esperando que meus olhos encontrassem os dela em algum momento, mas foi em vão. Arrumei meu cabelo fazendo um coque bagunçado apenas para minimizar a ansiedade que os cabelos me faziam sentir ao entrar em contato com a pele do meu pescoço. No quarto da criança, Natan se encontrava perdido em seus lençóis. Ora uma perna para dentro, ora uma perna para fora, uma imagem que me fizera sorrir ao me aperceber do quão idêntico meu irmão de 4 anos era à minha namorada de 23. Momentos depois eu havia farejado todos os cómodos da casa e nem sinal da mesma.

12:00

Nenhuma notícia de Alexa.

16:00

Nenhuma notícia de Alexa.

20:00

Nenhuma notícia de Alexa.

23:00

Nenhuma notícia de Al...

"Desculpa.."

Era tarde no dia de 17 de maio, não havia tido notícias de minha mulher desde a madrugada e o peso no peito se fez sentir durante todo o dia, aumentando a cada hora que passava. A noite encontrava-se serena, calma, propicia a um acontecimento trágico que fosse agitar ela. Eu admirava as estrela as da ponta da minha cama segurando meu irmão nos meus braços. Ambos estávamos empenhados em solucionar o desaparecimento da mais velha, mas nenhuma mensagem era lida, muito menos retornada. Após contar todas as estrelas que os seus pequenos olhos castanhos cor de mel conseguiam captar, a criança adormecera nos meus braços. Me dirigi em passos leves e calmos, até aos aposentos bastante coloridos do mesmo, acompanhando com um pequeno baloiçar ora ou outra mantendo o menor dormindo. Na cozinha, preparava agora uma caneca com leite quente, misturado com mel para em seguida esperar Alexa no sofá.

— Desculpa... — uma voz de culpa soou vinda de trás. Virei-me assustada e esperançosa que fosse ela.

— Cheguei, amor...

— Alexa onde te! — moderei meu tom, lembrando que todos dormiam. — Onde te metes-te?

— Eu posso explicar...

Passei por ela de forma apressada para retirar a louça que repousava no micro-ondas.

— Explica. — falei firme, deixando ela saber o nível do meu descontentamento.

— Eu precisei visitar alguém..

— Alguém? Quem é alguém?

— Não importa."

— Como não importa, Alexa? — minha paciência se mostrava no fim. Me aproximei da mesma deixando meu corpo quase colado no dela.

— Não importa tu saíres de madrugada, — continuei — visitares alguém em segredo e ainda chegares a casa tarde sem qualquer tipo de aviso? — apontei para o relógio na parede a cima da porta rigidamente.

— Desculpa, Emma.

— É apenas isso que tens a dizer?

Inesperavelmente me abraçou envolvendo todo o meu corpo nesse abraço. Atirou o casaco comprido de couro para o chão no intuito de libertar espaço para que envolvesse meu corpo mais eficazmente. Por cima do ombro dela, um bilhete esvoaçando chamou a minha atenção, me libertei do abraço e segurei o mesmo entre os meus dois dedos.

— O que é isto? — segurei o bilhete perto dela para que soubesse ao que me referia.

Numa tentativa falha, Alexa lançou seu braço para recuperar o bilhete.

— Afasta-te. — ordenei.

— Emma...

Fui de encontro ao sofá, desdobrei o papel com calma aproveitando para analisar a textura do mesmo e outros pequenos detalhes. Entre essas análises reparei num desenho no centro do mesmo assim que desfiz a primeira dobra. "O café onde nos conhecemos?" pensei. "Porque ela iria tão longe e sem mim?" Desdobrei finalmente a última dobra que ela havia feito, a esta altura mil perguntas vagueavam pela minha mente como comboios desgovernados, sedentas por respostas. Meu coração não estava preparado para o que se seguia.