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                         17 de maio de 2022

Sentia um vibrar incessante na ponta da mesa do meu escritório. Ainda não tinha dado por terminado o trabalhado hoje e sentia que iria demorar. Talvez não. Aproximei o dispositivo de mim me deparando com uma chamada inesperada e naquele momento alarmante. Olhei o relógio pendurado em minha frente, "20 horas 32 minutos", não entendia a razão da escola de Natan estar telefonando, mas apressei-me a atender. Haviam passado três horas desde a hora de saída de meu irmão e o mesmo não havia deixado o estabelecimento. Expliquei então para a mulher de voz aguda e calma que minha esposa estava encarregue de levar o mesmo a casa recebendo de volta a informação de que ninguém aparecera até o momento. Vesti meu casaco, sem mesmo arrumar a imensa confusão que ocupava meu escritório, minha prioridade agora seria Natan e descobrir os motivos que Alexa tinha para ter feito o mesmo esperar.
Já com o mais novo no carro, tentava contatar minha companheira, mas sem sucesso algum. Meu olhos inundavam-se de lágrimas ao reparar nos vestígios de choro presentes no rosto rosado de Natan. Alexa teria que ter uma boa explicação para tamanha irresponsabilidade. Continuava ligando, mas sem qualquer resposta, perdera a conta ás vezes que aquele bip soara sem que no final se ouvisse a voz da mesma. Chegara-mos a casa. Finalmente. Infelizmente há momentos em que o trabalho não parece uma ideia horrível, este era um desses momentos.
Alimentei a criança, deixando que a mesma terminasse seu lanche na companhia dos desenhos animados no meu quarto, e assim teria tempo de lidar com a imagem que fazia meus olhos raiar de raiva. Era de notar que minha esposa estava completamente fora de si, garrafas derrubadas em cima da pequena mesa de centro, e a mesma derrubada em cima do sofá hibernando num sono profundo. Bati com a tábua que se encontrava em cima da mesa, realizando assim a função de um despertador que resultara na perfeição. De um salto a mesma se levantou olhando-me confusa e aparentando estar na segunda famosa fase de uma bebedeira.

— Amor, chegas-te. — balbuciou tentando elevar seu corpo da posição em que se encontrava.

— Sabes quem também chegou? Natan. — meu rosto não apresentava qualquer expressão.

— Oh, Natan está aqui? E não veio dar-me um abraço?

— Depois de três horas de espera e lágrimas no rosto, eu duvido que o que ele queira agora seja um abraço teu. Estavas encarregue com a simples tarefa de o ir buscar e vejam só, aqui te encontro.

— Eu apenas precisei de descontrair um pouco. — se encontrava cabisbaixa mas sua voz ainda saia como a dona da razão.

— Acredito que tenhas descontraído bem, adolescente.

— Adultos também têm necessidade de se desligar de tudo.

— Adultos não se desligam de tudo quando têm a responsabilidade de cuidar de uma criança, Alexa! — minha calma havia deixado meu corpo e agora tudo o que minha boca extraia eram gritos.

— Eu precisei! Não achei que fosse adormecer.

— Oh. Então a tua ideia inicial era conduzir nesse estado com o meu irmão mais novo do teu lado. Era isso?

Desviou o olhar em direção ao vazio, nenhuma palavra fora dita, nenhum som, apenas pequenos momentos de uma expressão de culpa.

— Pensas cuidar do nosso filho dessa forma? Estamos a tratar da adoção em vão, Alexa? Eu não terei um filho com uma irresponsável.

Pela primeira vez, seu olhar encontrou-se com o meu e eu pude ver o impacto de minhas palavras em seu peito me fazendo castigar mentalmente por ter falado tal coisa, mas no fundo não haviam sido expostas mentiras.
Limpou as lágrimas que teimavam em cair com a manga comprida de sua blusa branca, colocando com toda a força que ainda tinha uma capa sobre si.

— Então talvez eu não queira ser mãe. — repostou.

Minha boca abriu em um O.

— Sendo assim. Pior que dar-me falsas esperanças, Alexa, é mentir-me no dia do meu casamento.

Levantou-se do sofá ainda cambaleando sentindo o peso do álcool em seu corpo, pegou seu casaco dirigindo-se a mim. Nossos corpos estavam tão perto que eu podia sentir o odor insuportável de seu hálito.

— Então talvez não haja mais casamento. — continuou seu caminho até á porta sem mesmo olhar para mim uma ultima vez, bateu a mesma atrás de si que ativou em mim um choro que durara horas.

Foi desse modo que me encontrei separada por três dias. Felizmente apenas três dias.

17 De MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora