O lobo e o feitiço sob a lua.

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Sob o brilho de uma lua redonda, eu caminhava nas sombras das árvores. A noite estava calada e procurava um caça, farejando o vento atrás de amigos e inimigos. Minhas patas se afundavam na camada de neve, mas sustentava o focinho sobre as velhas trilhas de presas. Não tinha nenhum destino em mente. Como um lobo solitário, vago dia após dia em silêncio e sobrevivendo. Há meses não ouço ninguém, não encontro rastros de cervos ou bisões, é uma solidão enlouquecedora e fria de inverno. Tudo que sinto gosto são dos pequenos pássaros e os roedores que raramente capturo. Desejo uma morte mais digna do que a que a fome me oferece, seguida pela solidão de meu cadáver congelado.

Um urro abafado chama minha atenção e me faz caminhar para o outro lado da colina branca, arrastando a calda e afundando no gelo a cada passo. Farejo um urso fedido e planejo: se o venço, me alimento, e se perco, encontro a morte digna. Rebaixo meu corpo ao ver o volume escuro cavando a neve onde pretende dormir. Meu oponente é jovem e pequeno.

Aproximo-me, levando comigo meu estômago vazio, dou um salto e corro em sua direção. Agarro o coro de seu pescoço, me parece sucesso até sentir suas garras cortar meus pelos cinzentos. Afasto-me e logo salto contra ele novamente, mordo sua pata enorme, largo-a e ataco seu rosto para cegá-lo. Seus urros me ensurdecem ao cortar a noite silenciosa, mas antes que eu recue mais uma vez, ele consegue morder meu ombro, afunda seus dentes e grunhe vitorioso. Ganindo de dor, mordo-o para que me solte, mas ele me arrasta feroz. Não há socorro para mim... ele é mais forte.

Em último ato desesperado, arranco a ponta de sua orelha direita com os dentes, só então ele me joga para longe. Contudo, ao cair continuo rolando na neve, sem parada, descendo por uma ladeira em um golpe de sorte de meu inimigo. Sem forças, perco a consciência depois de alguns giros.

Desperto com um cutucar em meu ferimento que gera uma dor aguda. Por muito pouco, não abocanho o pássaro que estava pousado sobre mim e bicava meu sangue. A neve branca, tão linda de manhã, agora estava manchada com o sangue de minha ferida. Meu corpo estava frio, me sinto tonto, choramingo por me notar em mal estado e me deito, adormeço de fome e cansaço. Quando a nova noite chega, levanto-me. É necessário que me afaste do local marcado com meu sangue se não quero ser comido por inimigos. Não há como usar o ombro ferido, pois doí, então manco em um novo rumo, avançando no meu resto de vida lupina.

Depois de tempos, sento-me em meio às arvores e encaro a lua brilhante no céu limpo. Ela é a única testemunha do meu fim e minha única companheira nessa vida. Meu corpo treme involuntariamente e não reage muito, estou ficando sem forças. Uma sede tremenda consegue enganar a minha fome, deito-me devagar sobre a neve e mordo o tapete branco, mastigo, me alivio, mas não faz sentido, sinto-me agindo como louco.

 Uma sede tremenda consegue enganar a minha fome, deito-me devagar sobre a neve e mordo o tapete branco, mastigo, me alivio, mas não faz sentido, sinto-me agindo como louco

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Enquanto espero em paz que a morte me alcance, um chamado aconchegante surge sussurrante em meus ouvidos. Sinto-me um pouco mais animado e ouço suas palavras: "Siga até mim predisposto guardião. Sirva-me em minha proposta e viva por um proposito maior".

O Lobo-Homem e o Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora