Cortejo de Lobos.

110 23 6
                                    

(Lembrete: Fiel assumiu a forma de lobo no fim do capitulo anterior).

A noite é dos corajosos. Quando a terra escurece sabermos que haverá perigos, por isso ou se está disposto a enfrentá-los com sua vida ou deve esconder-se até que a luz do sol chegue.

Enquanto corria na floresta procurando por Luahn, alguns feixes da luz da lua cheia passavam pelas copas das árvores e criavam formas e vultos, testando a sanidade, pois alguns realmente eram os corpos de outros lobos correndo que logo desapareciam. No ar, havia o cheiro de terra e folhas podres caídas remexidas recentemente e da umidade de um rio ou lago em algum lugar. Estava indo aonde havia a maior concentração de inimigos, a mesma direção onde uma briga começou a agitar a paz da noite com seus sons diversos e cheiro de sangue fresco.

Antes que chegasse próximo do lugar, um lobo surgiu correndo do meu lado e não foi surpresa quando me notou como diferente e me atacou. Saltei, desviando, e me transformei em homem, pegando a espada que levava entre os dentes. A lâmina foi eficiente, cortou sua carne antes que ele compreendesse minha transformação e seu corpo caiu inerte. Logo, uma dupla de lobos apareceu e saltou contra mim. Meu corpo humano me permitiu fugir com um largo passo para o lado e cortei um deles nas costas, atingindo alguma parte da coluna, pois este ganiu e caiu arrastando as patas de trás. O segundo avançou novamente, raivoso e faminto, num corte transversal atingi seu pescoço exposto e sangue espirrou da garganta aberta que por fim o sufocou.

Ouvi outros lobos vindo em minha direção e, ao me virar, um vulto negro saltou das sombras, agarrando meu braço esquerdo e fazendo a dor explodir de onde seus caninos se afundaram. Cortei seu ombro de mau jeito e ele tentou me arrastar junto para longe da lâmina, então finquei a espada entre suas costelas e fui solto num engasgo. Não houve muito tempo, outro se agarrou na minha coxa, buscando arrastar-me com puxões. Minha lamina talhou sua face, o fazendo me soltar e matei-o atingindo seu corpo.

Girei-me logo, olhando ao redor, e percebi que havia mais três deles me cercando. Eles estavam incertos e hesitantes por causa das mortes rápidas de seus companheiros, porém rosnavam e me encaravam, farejando meu sangue que escorria dos novos ferimentos, eu poderia ser apenas um jantar oportuno. Afrontei os olhos brilhantes na escuridão, sabia que esperavam o momento que um deles atacasse e então os outros o seguiriam simultâneos. Atacando ao mesmo tempo, era como iriam me vencer.

Contudo, todos se distraíram quando um uivo estranho e arrepiante irrompeu a noite. Era grotesco, ameaçador e mais forte que qualquer lobo comum faria, sendo até mesmo um incomodo ouvi-lo urrar tão longamente. E ele reivindicava a área da floresta para si e só isso. Os lobos ao meu redor ficaram confusos e aparentemente assustados, assim como eu. Meu coração, sem motivo, havia disparado com sangue frio e meus músculos tensos indicavam que deveria fugir daquilo e não me opor, de forma alguma, àquela cobiça da criatura desconhecida.

Houve alguns segundos de silencio profundo, nem mesmo a brisa farfalhou as folhas e todos os lobos pareceram desaparecer. Mas isso acabou quando ouvimos uma movimentação pesada começar a correr na floresta, galopando, quebrando galhos e arbustos, ecoando seus grunhidos e ressoando sua respiração pesada. Um dos lobos ao meu redor deu meia-volta e correu com a calda entre as pernas, fugindo. Depois os outros o seguiram, poucos lançando um olhar frustrado para mim antes de desaparecer nas sombras. Aquilo que abria caminho na floresta era o caos de sons na noite, e o pior é que vinha na minha direção.

Escutei atentamente quando lobos entraram em seu caminho, houveram ganidos, rosnados e sons perturbadores de carne partindo-se e ossos estalando. Não consegui pensar e nem me lembrei do mestiço ao ficar imóvel, apenas ouvindo com um medo crescente e curioso. Quando um lobo branco, assustado e ferido passou correndo por mim e desapareceu, compreendi que os impactos dos galopes estavam bem próximos. Senti o pânico instalar-se bruto e abriguei as costas contra um tronco, esperando que a criatura passasse sem me notar, pois era tarde para correr em fuga.

O Lobo-Homem e o Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora