Mordida de lobo

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A pior parte de ter um coelho fresco era livrar-se dos pelos que ficam na boca, mesclado ao sangue e na carne. Era terrível salivar e tentar se livrar dos tufos que às vezes me faziam espirrar ou engasgar. Mas eu tinha tido sorte, depois de andar na floresta, encontrei o animal pego em uma armadilha, ainda vivo, e foi fácil.

Quando terminei, continuei deitado perto da armadilha, limpando o vermelho das minhas patas e procurando qualquer resquício de carne que eu tivesse deixado cair sobre as folhas caídas do bosque. De repente, meus pelos se eriçaram, um sentimento tenso me tomou e fiquei de pé com as orelhas erguidas para entender o que estava acontecendo. Pressenti uma movimentação rápida em meio às arvores e corri atrás. Era final de tarde, logo o sol ia se por e floresta ficaria completamente escura, segui meu instinto e os meus sentidos. Havia cinco lobos correndo na mesma direção, cada vez mais para o meio da mata.

De súbitos, vi um clarão entre as arvores a frente, seguido de um ganido de dor e alguns rosnados mais irritados. Tive que acelerar a corrida e alcancei um lobo próximo, me joguei para acima dele, o derrubando, depois o mordi, conseguindo perfurar uma de suas patas até sentir o osso duro. O larguei e continuei atrás do próximo. Eu sentia o cheiro de sangue mestiço, um humano mestiço com lobo. Mais clarões e palavras vinham de logo a mais a frente, e quando cheguei ao local do caos, vi Luahn e me perguntei o que ele estava fazendo ali. Ele girava seu cajado, lançando raios para os lobos que o cercavam, seu olhar passou em todos, inclusive contra o meu, mas não me reconheceu,  estava assustado e ao mesmo tempo determinado a sobreviver.

Fui surpreendido quando um lobo agarrou meu cangote, tentei alcança-lo com os dentes, enquanto os outros inimigos percebiam que algo estava errado entre nós, da mesma espécie e lutando. Aquele que me mordia havia visto meu ataque, lutei contra ele até ser jogado de costas no chão e o empurrei com as patas traseiras. Quando ele saltou para cima de mim novamente, peguei sua garganta e com um chacoalhar quebrei a traqueia. Fiquei de pé novamente e fui para próximo do mestiço feiticeiro, conseguindo me esquivar e morder algumas patas e colunas, parecia que minha mordida estava suficientemente mais forte que a mordida de um lobo comum.

Subitamente, meu corpo foi acertado por um raio, tudo ficou dormente e cai no chão, igual a alguns dos inimigos. O garoto tinha me pego por trás, me pareceu muito errado já que eu estava tentando ajuda-lo, apenas o encarei até o efeito passar. Para me deixar menos irritado com ele, o feiticeiro acertou um dos lobos que veio para cima de mim quando eu estava naquela situação parada. Assim que consegui mover as patas, fui me pondo de pé cambaleante, e até mordi uma pata de um lobo distraído que achou que eu não fosse ameaça.

O garoto foi derrubado quando um lobo preto puxou suas vestes longas e o manteve no chão ao arrastá-lo. Dois dos três outros lobos restantes se aproximaram tentando mordisca-lo, mas o garoto os acertava com o cajado, sem conseguir se concentrar num dos feitiços. Um dos animais pegou seu pé, o que o fez gritar e um o cheiro de sangue fresco surgir no ar.

Apesar da sensação anestesiada em meu corpo, corri até eles e saltei para cima daquele que arrastava o garoto, o fazendo solta-lo. O lobo negro era mais forte que os outros, pois conseguia resistir as minhas mordidas, e em um momento pegou minha garganta, travando a mordida ali. Aos poucos e ainda lutando, eu ia perder o folego, minhas unhas mal conseguiram um resultado ao arranhá-lo. Pelo canto do olho, vi o aprendiz de feiticeiro eletrocutar aquele que o mordia no pé, depois ficou de pé, mantendo os outros caninos afastados, e ele olhou para mim, se concentrou e bateu a ponta de seu veiculo de magia no chão, gerando uma onda forte o suficiente para desmaiar todos os lobos, o que me incluía e desmaiei.

 ...

Comecei a retomar a consciência minutos depois, sentindo um cheiro forte de sangue, suor, folhas podres sendo reviradas e terra húmida. Minhas pernas estavam esticadas e... sendo puxadas. Eu estava sendo arrastado! Quando lembrei que estava no meio de uma luta com lobos, chutei qualquer coisa e me pus de pé sozinho. Olhei o aprendiz de feiticeiro e depois olhei em volta, não vi nenhum outro inimigo, ainda estávamos na floresta e não parecia ter lobos nos seguindo. Voltei a encarar o garoto. Ele podia fugir de mim como fez o primeiro humano que me viu na forma lupina, mas não o fez.

O Lobo-Homem e o Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora