O cerco de lobos e a escolha da mestiça.

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Quando o homem abriu o pequeno porco para tirar as vísceras, o cheiro férreo do sangue contaminou o ar e resisti à queimação que ardeu em meu estomago vazio, permanecendo escondido, observando-o preparar partes da carne em uma pequena fogueira. Meu instinto dizia para atacá-lo e roubar o que era meu, mas ele não era simplesmente um arqueiro, possuía outras armas consigo e muita atenção a tudo que acontecia em volta, não se esquecia do lobo que viu e nem que estava na mata selvagem. Era esperto.

Ouvi um uivo rouco que chamou toda a minha atenção, apesar de significar apenas ‘lobos’, e isso não tinha sentido, mas me preocupei com Luahn e corri para encontrá-la. Não demorou muito e tive a sensação de estar sendo seguido, parei bruscamente e me virei, vendo um vulto sair de vista e parti para cima dele, que fugiu assustado. Fosse o plano de me seguir para levá-lo ao mestiço, iria interrompê-lo. Porém seu cheiro era familiar e despertou minha raiva, então corri mais rápido e o desequilibrei, saltando sobre seu flanco despenteado. Em seguida o cinzento levantou-se veloz e se esquivou de todos os meus botes contra seu corpo.

“Calma!” disse-me assustado, fugindo de minha ira. “Por favor, alfa! Espere!”

“Avisei que ia matá-lo!” Corri e mordi o ar novamente, infelizmente ele tinha movimentos mais rápidos que os meus. Era o mesmo lobo nômade cinza escuro e rajado que já havia encontrado antes.

“Eu sei, senhor! Mas ninguém saberá se não cumprir!”.

“Errado! Farei de você meu almoço!” o persegui e ele correu em círculos entre as árvores.

“Por favor! Preciso da sua ajuda!” Parou na minha frente quando me cansei de correr em vão.

“Esqueça! Enfrente-me como lobo!”

Ele riu e se prostrou no chão, deitando-se por completo, batendo a calda ao me olhar de baixo, submisso. Disse:

“Eles irão cercar você e sua humana em breve. São muitos”. Ouvi-o e a minha vontade de almoçá-lo diminuiu.

“Como sabe dela?”

“Estávamos atrás de você esse tempo todo. Farejamos que não estava sozinho quando chegamos ao monte de rochas, onde tinha uma energia forte e estranha...” Falou do castelo destruído.

“Não devem me seguir. Já avisei vocês antes. Irão morrer” dei uns passos para trás, pronto para ir até Luahn depois de saber da ameaça.

“Espere!” Ele se pôs de pé. “Eu preciso que me ajude! Minha irmã está numa armadilha. O senhor sobreviveu ao feiticeiro, é esperto e forte, pode nós ajudar antes que o caçador chegue até ela.”

“Estou mais preocupado com outra coisa”

 “Alfa, podemos ajudar na sua caça depois! Por favor!” ele me encarou, nervoso. “É perto!”

Parei. Talvez eu enxergasse nele o medo de se tornar solitário, não é uma vida fácil e nem muito longa, além da loucura sempre espreitar. Agora eu entendia como ter apenas uma companhia já fazia a diferença. Relutando internamente, concordei com seu pedido e ele logo correu desesperado para algum lugar, o segui.

“Você o trouxe!” se surpreendeu a loba branca quando chegamos. Ela estava com um laço no pescoço muito afundado em seus pelos ao ponto de estar manchada de sangue em algumas partes e permanecia deitada o mais distante que podia do ponto em que a armadilha estava amarrada, até respirar era algo difícil pelo ruído que fez antes de tossir meio engasgada.

“Eu não consegui pensar em outra coisa” argumentou ele, indo tocar o nariz nela para lhe dar um conforto.

“Isso é...” tossiu “vergonhoso”. Ouvi seu choramingo quando ela desviou o olhar para o chão.

O Lobo-Homem e o Feiticeiro MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora