O Caminho Burai-ha

Pedestal no Chão

 Sempre fui uma pessoa que considerei que meu pai e minha mãe nunca poderiam me entender. Em alguns dias em que eu estava com vontade de ver no que poderia acontecer ou o que eu poderia ouvir, eu contava sobre as coisas que me atormentavam para meu pai ou mãe. Não que o que me tormenta tenha forma, não é nenhum demônio que está na minha sombra, na verdade, meu tormento não tem forma porque é com o vazio que eu tenho que lidar.

    Quando contei para meu pai eu confesso que tive uma decepção grande do ponto de vista dele. ''Te falta ou namorado'' ou ''mude de trabalho'', coisas vãs de uma pessoa que eu infelizmente também considero vã. Não estou julgando meu pai como pai, mas como pessoa que ao meu ver precisava de certa profundidade. Com isso acabo tendo a sensação que pessoas rasas acham que qualquer problema é normal e se resolve em dias ou semanas.

     Com minha mãe foi diferente, e agora vejo que eu nunca queria ter me aberto com ela. Ora, minha mãe sempre foi a mulher que eu coloquei em um pedestal, eu sei que ela não aprovaria minha comparação, mas para mim, a minha mãe era uma Santa. Era linda, perfeita, gentil e nos pequenos detalhes dela eu a adorava e admirava. Admirava ela de uma forma que eu não poderia me comparar ao que vejo nela, ela era um exemplo que eu não conseguia seguir. Scarlett O'hara chorou por que queria se espelhar na mãe que tinha e em algum momento da minha vida devo ter chorado pelo mesmo motivo porque pessoas como a minha mãe vão ganhar o céu.

    Porém.....sim, tem um porém.

    Resolvi me abrir com ela, e esperava uma palavra que me acordasse ou que puxasse para fora do mundo cinza que estive perambulando, que me abrisse uma nova porta no corredor da mente, mas o que eu ouvi foi que ela me compreendia.

Eu disse ''Me sinto vazia por dentro e não consigo acreditar nas pessoas, não tenho vontade pra quase nada.''

E ela disse ''Quando chegar na minha idade isso vai piorar.''

     O pedestal em que eu havia colocado a minha santíssima mãe pareceu ter caído. Preferia mil vezes que um amigo meu sentisse o mesmo que eu, não me ache cruel por dizer isso, mas quando é sua mãe que sente o que você sente é algo terrível e assustador. Foi com poucas palavras que me fizeram sentir fodidamente estraga.

    Naquele dia não recebi nenhuma esperança, recebi a verdade.

     Precisei de tempo para me aliviar dessa verdade, precisei escrever tantas vezes para me colocar de volta no lugar. E hoje, conversando com minha mãe, querendo ajuda-la como ela havia me ajudado tantas outras vezes, quase quis chorar na frente dela por me sentir inútil por não saber as respostas que precisávamos. Não há nenhuma lição nisso, pelo menos não por agora.

   Hoje ela me disse que está querendo mudar isso, e não é por coincidência que digo que eu quero a mesma coisa.