Ponto de ônibus - Parte 2

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Júlia.Me lembro como se fosse ontem a primeira vez que ouvi sua voz.Seus cabelos escuros e seus olhos verdes olhando diretamente para os meus ao som de Rolling Stones,que tocava aleatoriamente no meu mp3.Naquela tarde, minha empresa havia recebido denúncias de roubos que nunca haviam sido cometidos.Eu estava tão nervoso, e aquela música parecia que me acalmava,até eu perceber que a menina que estava sentada do meu lado é que era o melhor remédio.Pausei a música,quando percebi que suas folhas de rascunho haviam caído no chão.Te ajudei guardando-as em sua pasta laranja que tinha um adesivo do Pernalonga.Mal eu sabia que, apenas te ajudando em míseras folhas seria tão intenso.Te observava,quando o ônibus chegou.Eu não gostava do ônibus, mas parecia mais agradável com a sua presença.Conversamos tanto que não queria que chegasse a sua parada.Motorista,poderia parar o tempo para ele não passar?Mas contos de fadas não existem.

Sua parada chegou.Um aperto de mão e um ‘’tchau’’ foram os presentes que ganhei no fim da tarde.Admito que fiquei com medo de não ver mais seu lindo rosto,então gritei para que a senhorita Júlia ouvisse e acreditasse que eu iria, de alguma forma,ver ela de novo.E eu estava certo.Os tempos passaram e você virou mais do que uma colega de ônibus: você era a minha Júlia.

Te contei meus segredos,meus medos, meus defeitos e até descobri que seu pai também torce para o  mesmo time que o meu no futebol.Parecia que éramos iguais, tirando o fato de você ser viciada na novela das 8.Saíamos antes do ônibus chegar e até paguei um café para a madame.

E, em uma sexta-feira,descobri que minha empresa estava a ponto de falir e que precisava de ir para outra cidade onde o comércio era mais valorizado.Então, nessa tarde, eu tentei te falar.Tentei explicar a minha ida em breve.Mas minha boca não conseguiu libertar nenhuma palavra presa.Só consegui sentir seus lábios juntos aos meus.E,na sua última descida,meus olhos te acompanharam até você virar a esquina e o ônibus seguir em frente.

Nas últimas três semanas,eu fiquei imaginando o que acontecera com você.Se você ainda me esperava ou não sentia minha falta.Até que,numa tarde,recebi um email seu.Fiquei surpreso, pois você dizia que odiava esses avanços da tecnologia como a internet.Você me perguntou porque eu não ia ao ponto de ônibus.Então, eu cometi um erro.Te disse o que diria até mesmo para uma estranha, falei o básico.Disse que eu estava á trabalho, e que iria me mudar.A verdade crua e nua sem explicações.Você dizia que me amava, então imagino que esteja tão magoada quanto eu. Nunca mais ouvi falar de você,Júlia, mas sei que um dia, eu ainda te encontrarei na parada de ônibus e te ajudarei a catar e juntar os pedaços quebrados de seu coração.

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