8 - Abençoado seja o tempo

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O casamento é a única aventura ao alcance dos covardes.

Voltaire

           

           Meu despertador alarma às sete e ponto e começo meu dia indo direto para o banho e vestido uma roupa confortável que caia bem com o tênis. Deixo meu cabelo em um rabo de cavalo e desço após apanhar minha bolsa e beijar a cabeça do Mark que continua dormindo.
Tenho um susto quando desço às escadas e tenho certeza que foi essa reação que a Cecília queria me causar. Parada a minha frente com o cabelo negro em um coque impecável e com um vestido neutro abaixo de um avental.

— Bom dia, Elizabeth. Já está saindo para o trabalho? — pergunta, me fitando da cabeça aos pés.

Limpo a garganta e me recomponho.

— Bom dia, Cecília. A senhora dormiu bem? A cama estava confortável?

— Bem, deu pra dormir. Estou terminando o café da manhã, não quer comer antes de ir?

Coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Não, obrigada, não costumo tomar café da manhã. Tenho certeza que o Mark vai adorar desfrutar do seu café da manhã.

O sorriso de vitória que ela dá me faz suspirar internamente. Por quê querer tanto competir comigo quando eu nem mesmo estou querendo isso?

— Tenha um bom dia, Cecília. Até mais.

Aceno com um sorriso e saio de casa direto para redação. Acho que esse é o dia que mais estou satisfeita por ter um lugar para ficar longe do olhar mortal da mãe do Mark.
  Assim que chego na redação, o Baker gesticula para sala do editor-chefe.

— É sério mesmo o que você falou ontem? — pergunto.

Ele roda na sua cadeira e sorri.

— Seu marido agora é o cara do momento. Devo te chamar pelo sobrenome Holmes ou Cornell agora? Os dois são engrandecedores.

Reviro os olhos.

— Não estou de bom humor hoje, Watson. Você nem sabe o que estou enfrentando desde ontem.

Deixo minhas coisas no meu cubículo e vou até a sala do editor-chefe. Ele é um senhor nada amigável e dono de feições semelhantes a raça de um cachorro pug, sem mencionar sua protuberante barriga.
Bato na porta duas vezes até ouvir um "entre" abafado pela voz grossa e solene do senhor Galvin.

— Bom dia, senhor Galvin.

Como sempre, ele está sentado na sua enorme mesa cheia de papéis para aprovar, seu semblante hoje parece leve como se a ruga persistente da sua testa houvesse tirado uma folga e deixado apenas a sua calvície fazer presença.

— Ah, senhora Cornell, não é? A esposa do homem que está em ascensão em todo vale do silicio? — sorri com simpatia.

Um frio percorre minha espinha. Ele está estranhamente simpático hoje.

Pigarreio.

— Uso meu nome de solteira no trabalho.

Recém casados.Onde histórias criam vida. Descubra agora