A bancada gélida da cozinha afastava Rosie Kinkle dos pensamentos que a rodeavam. O ”encontro” com o gato falante ativara algo que ela ainda não sabia ter: um instinto de sobrevivência estranho. Sentiu algo percorrer suas veias como um peixe num rio, procurando pela ramificação que o levaria até o mar. Era algo novo. E ela gostou da sensação.
Assim que voltou pra casa, ela invocou Sebastian pelo laço mental, tomando cuidado para agir normal frente a Bryan, que mexia nas sacolas de roupas.
Você viu aquilo? Perguntou ela, passeando pela casa lentamente, conferindo se ele não estava em algum cômodo, escondido. Felizmente, não. Odiaria ter que fingir para Bryan que estava “normal” quando, na verdade, tinha um corvo que falava no mesmo cômodo que eles.
A resposta veio segundos depois.
Vi. Foi admirável.
Rosie estava sem paciência para os joguinhos dele agora. Precisava de respostas.
O que foi aquilo? Ele vai voltar?
Quase pode ouvir Sebastian suspirar.
Apenas um enxerido enviado por alguém que não quer que estejamos juntos, fazendo o que estamos fazendo. Ou prestes a começar, na verdade.
Rosie quase xingou, mas lembrou-se de que Bryan estava praticamente do seu lado. Murmurou algo para Bryan sobre carregar o celular, e fechou a porta de madeira branca do quarto. A luz pálida que entrava pela janela beijava o tapete vermelho e cinza, e refletia no espelho da estante, coberto por fotos e algumas figurinhas.
Sebastian estava empoleirado na beirada da cama, assistindo-a com os olhos dourados humanos o suficiente para que ela não se importasse. Estranhamente, já achava tudo muito comum. Não sentia mais pânico ou vontade de gritar e chamar o hospital psiquiátrico mais próximo. Poderia se acostumar com isso.
— Escuta aqui, seu diabinho, eu não pedi nada disso. Não pedi que você aparecesse, e muito menos que outros como você aparecessem para me atormentar, e até, sei lá, me machucar. — As palavras foram um mero sussurro.
Sebastian riu, o som baixo o suficiente para que apenas os dois escutassem. O vento bateu nas cortinas, fazendo-o alisar as penas com o bico.
— Ele não iria fazer nada com você. Ele não. Não agora.
Rosie cruzou os braços.
— Se não agora, quando?
Sebastian deu de ombros, a luz do sol que ricocheteava nas persianas refletia na noite eterna de suas penas. Trágico e belo. Ele sorriu ao ler as comparações dela.
— Bem, sugiro que comecemos a fazer e planejar tudo o quanto antes. Cada vez mais a sua aura e concentração de estarmos no mesmo espaço sem agir e canalizar toda a magia para um ponto vai atrair mais gente. E aí, pode começar o problema.
Rosie engoliu em seco, absorvendo tudo o que ele dizia. Sentou na cama, o estofado macio acomodando as informações pesadas como chumbo de Sebastian. O espaço entre ela e ele separado por meros centímetros. Rosie podia ouvir a respiração do corvo tanto quanto ele podia ouvir a sua também.
— E o que devemos fazer?
Sebastian sorriu, prestes a soltar alguma resposta ou piada, mas a presença súbita de Bryan preencheu o quarto como um tigre atrás da presa. Sebastian sumiu tão rapidamente quando chegara, o que fez o coração de Rosie não chegar ao ponto de explodir.
— Kiki! Você nem sabe, olha isso! — Ele sentou do lado, exatamente onde Sebastian estivera. Rosie sorriu ao imaginar Bryan esmagando Sebastian. Seria épico. — Acabaram de me chamar pra sair junto com o Jacob Folk!
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Rosie Kinkle - Nada Será Como Antes
FantasyRosie Kinkle não imaginava que, perto dos 30 anos, descobriria ser uma bruxa e embarcaria em uma aventura muito esquisita e misteriosa ao lado de um corvo falante sarcástico e tão desconhecido quanto a nova realidade que lhe era apresentada. Deixand...