Quitinetes abafadas e feiras barulhentas

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O interior da carpintaria de Gus era um retângulo muito similar a uma quitinete. A porta dava espaço a um cubículo preenchido por uma cama extremamente bagunçada, uma mesa com um setup gamer e muitos papéis e outros objetos espalhados pelo chão ou grudados na parede.

Uma janela no fim do quarto exibia uma vista bastante curiosa: um mini quintal com flores e dois cachorros pulando ao redor de um anão de jardim.

— Desculpem a bagunça — Gus desculpou-se, tropeçando em um cubo mágico ao retirar as peças de roupa do colchão e colocá-las dentro de uma caixa — Podem se sentar. Ah! Aliás, querem algo pra beber? Não sei fazer muita coisa, mas meu café é razoável.

Rosie e Jeon se entreolharam, duvidosos. Gus revirou os olhos.

— Vocês jovens são tão chatos! — Ele resmungou, arrastando as vogais em um tom divertido. O garoto puxou uma garrafa do interior de um mini freezer. — Aceitam coca cola? É a única coisa que tem.

Ele não lembra muito o seu amigo hiperativo que precisa de sexo?

Cale a boca.

— É claro — Jeon assentiu, oferecendo o copo para Rosie também.

— Você é da Coreia, né? Já fui lá para investigar um feitiço de amarração que uma garota tinha feito num cara — Gus disse, puxando uma cadeira para se sentar — Essas paradas são muito complicadas. Você já fez um feitiço de amarração, Rosie?

Rosie quase cuspiu a bebida.

— Infelizmente, não.

Uma risada ecoou pelo laço. Gus bateu a mão na cadeira, virando o copo de uma vez.

— Ótimo! Esse é o primeiro passo perfeito no tempo que vai passar aqui em Paris — Ele apoiou-se nas costas da cadeira — Preciso saber o que você sabe para, enfim, seguirmos nosso caminho em direção ao último estágio da sua iniciação — O bruxo retirou os óculos de proteção, tornando o verde de seus olhos visível — Mas, me diga, o que achou do seu batismo? Soube que pulou da janela do castelo direto no lago.

Rosie sorriu, surpresa. Não sabia como aquilo estava acontecendo, mas as notícias realmente corriam rápido.

— Faria de novo, se possível — Mentiu, explodindo em risadas junto com Jeon e Gus. — Então, Gus, o que exatamente me aguarda na sua companhia?

Presumo que nada de muito divertido...

Gus soltou uma risada abafada.

— Vamos discutir tudo, mas primeiro seu mentor tem que dar as caras.

Um borrão de sombras abriu-se no espaço ao lado de Jeon, revelando um corvo com uma expressão nada satisfeita.

— É muito feio observar o pensamento dos outros.

Gus apoiou o rosto na mão, balançando as pernas.

— Mais feio ainda é xingar os outros sem o consentimento deles.

Rosie riu, aproveitando o momento de briga para tirar o casaco. A quitinete de Gus fazia calor, e Paris não estava muito fria pelo visto. No ato, reparou em um papel jogado ao chão. Uma curta frase escrita em uma caligrafia tremida e borrada: “Leve-me agora.” Olhou-o por tanto tempo que não percebeu o bruxo lhe chamando.

— Amada? — O estalo de Gus pareceu trazê-la de volta à realidade — Estávamos esperando você parar de olhar minhas coisas para começar — Ele disse, sorrindo divertidamente.

Rosie piscou, devolvendo o sorriso.

— Então, como eu estava tentando dizer, o último estágio de Rosie consiste em identificar a energia de outras pessoas, tocá-las e utilizar isso para feri-las intencionalmente ou curar — Gotas invisíveis de gelo desciam pela espinha de Rosie enquanto ele falava — É um processo difícil e que requer muita energia interior e não tem data para acontecer. Quando acontecer, você terá que estar pronta. Por isso precisamos começar o quanto antes.

Rosie Kinkle - Nada Será Como AntesOnde histórias criam vida. Descubra agora