Yamahas, feitiços de proteção e batismos sombrios

232 43 34
                                    

O brinco reluziu no lóbulo de Rosie quando ela buscou seu reflexo no espelho. Estava sentada na cama, com os livros e roupas espalhados ao seu redor. À luz pálida da lua, o vestido vermelho dela oscilava em tons de roxo, preto e azul. Sorriu para sua imagem no objeto à sua frente. Estava de matar.

A voz de Sebastian atraiu seu olhar até a beirada da janelinha, onde ele recebia os raios lunares de forma ativa. Seu pelo brilhava como aço em brasas, e ele parecia mais poderoso que nunca.

— Você certamente está para matar hoje, só não espero que tenhamos que de fato realizar tal ato — Sebastian arregalou os olhos perante a risada de escárnio que Rosie soltou, sorrindo. — Que cruel, querida...

O exterior de Rosie ria, mas ela não estava nada tranquila perante à ideia de perigo. Temia tanto por si quanto por Sebastian e Jeon. Por hora, focaria no que devia ser feito. Passou o batom vermelho nos lábios, dando um beijo no ar.

— Céus... — Sebastian sussurrou.

A risada de Rosie foi acompanhada do som da porta abrindo, revelando um Jeon arrumado e bonito. Ele estava com botas de viagem, uma calça preta e uma jaqueta de couro cobrindo uma blusa branca. Por algum motivo, Rosie sentia que a jaqueta escondia alguma espécie de arma, ou algo do tipo. Não arriscaria perguntar.

Do jeito que estavam vestidos, quase pareciam estar indo a uma festa. Quem dera...

— Acho que já podemos ir. Já está pronta? — Jeon perguntou, a mão colada na maçaneta da porta — Eu arranjei uma moto pra irmos até o castelo. Só não faça nada para quebrá-la, por favor. Não quero ter que pagar o adicional de acidente.

Rosie deu uma última olhada no seu reflexo. Estava linda. Nunca tinha se arrumado daquele jeito, nem mesmo quando saía para algum restaurante italiano caro com Nicholas. Ele não gostava. De qualquer maneira, quem ligava para aquele imbecil?

Ela se levantou, pegando a bolsa e enfiando os livros e materiais que precisavam. No dia anterior, ela, Jeon e Sebastian, devidamente invisível, passearam pela feira da cidade para encontrar algumas ervas, essências e líquidos que iriam precisar para o feitiço de proteção. Diferente das outras vezes, eles tinham companhia agora. Uma companhia bem humana. Não poderiam ir desprotegidos.

— Tudo certo. Fazemos o feitiço antes de entrar, e aí seguimos conforme o combinado — Ela revirou o quarto mais uma vez com o olhar. Sabia que não voltaria ali. — Você ainda lembra do plano, certo?

Jeon assentiu, dando espaço para que ela passasse.

— Você pegou todas as suas coisas? — Rosie perguntou ao passar rapidamente ao lado da porta de Jeon, o qual fez que sim em resposta. — Ótimo. Vamos, Sebastian.

Sebastian materializou-se ao lado dela. As pequenas tiras eram o único tecido que tocava seus ombros, ao lado das garras gélidas do corvo que, de alguma maneira, nunca a machucavam.

O bar estava vazio, o que era bom. Não seria bom se alguém os visse saindo. Era quase uma da manhã, então a cidade estava praticamente vazia. A moto que Jeon arranjara esperava na frente da pousada, encostada na calçada.

— Você ao menos sabe usar isso direito, Jeon? — Sebastian perguntou, provocante — Não quero virar manchete de jornal dessa forma.

Jeon revirou os olhos, mas um leve sorriso se abriu quando ele se inclinou para soltar a moto. Rosie se acomodou atrás dele, sentindo o ar frio da noite os preenchendo. Uma névoa fina circundava os cantos da rua, e seguia até onde seus olhos podiam acompanhar. O rugir da moto afastou qualquer outro barulho, como um leão rodeado por hienas, e Jeon deu partida em direção ao castelo.

Rosie Kinkle - Nada Será Como AntesOnde histórias criam vida. Descubra agora