Rosie Kinkle - Nada Será Como Antes

Anomalias da realidade trazem surpresas animadoras

As luzes da rua misturavam-se em uma dança psicodélica e mesclavam-se em borrões na visão de Rosie conforme ela avançava pela multidão até o Charles's Road, onde eles estariam com Bryan. Seu melhor amigo.

Rosie não acreditava que haviam pego ele. Poderiam ter feito qualquer outra coisa, até a levado em troca, mas Bryan não. Se houvesse de fato a chance de realizar tal ato, ela o faria sem sombra de dúvidas. Apertou com ainda mais força a mão de Jeon, o qual a acompanhara assim que ela disse o que aconteceu.

Mesmo abalada, Rosie foi capaz de os encantar com alguns feitiços de proteção básico, direcionando-os especialmente para Jeon. Caso acontecesse um confronto direto, ela tinha mais chances de proteger do que ele. Jeon seguia na frente, abrindo espaço em meio à multidão, agarrando-se a Rosie como uma âncora.

A bolsa pesava ao lado dela, contendo os livros e feitiços que ela tinha decorado naquela manhã. Trouxera também o livro de feitiços proibidos. Não se importava nem um pouco com o que ninguém achava. Se tivesse que usar todos para salvar Bryan, não pouparia esforços, tampouco se importaria para o código de ética bruxo.

A Charles's Road era uma longa avenida com inúmeras casas preenchendo-a, que terminava em uma divisão para a praia de Cabourg. As construções eram quase todas idênticas: casas em tons de marrom e branco, provavelmente preenchidas por famílias que aparentavam ser felizes. Rosie não fazia ideia do motivo de Homerus ter conduzindo-os para lá, mas quanto mais se afastava do centro, menor o fluxo de pessoas.

Ela tentava não pensar em nada, apenas em Bryan. Queria manter sua mente limpa e em foco. Porém, toda vez que conseguia, surgiam imagens desconexas de Sebastian, Augustus e Greta. Sebastian rindo. Ajudando-a. Momentos que vivera com eles. Rosie não pretendia admitir, mas ter Sebastian nessa situação seria de grande ajuda. Ela confiava no seu próprio poder, mas seria o suficiente?

Tinha que ser.

Rosie apertou o passo, ficando ao lado de Jeon. A avenida deslizava em contornos de lojas e restaurantes para uma área residencial lotada de árvores, cachorros e crianças em suas bicicletas. O coração dela apertou, automaticamente puxando Jeon pela manga do casaco de couro que ele colocara.

— Será que eles vão ter coragem de fazer alguma coisa no meio de tanta gente assim? Crianças inocentes? — Eles dobraram em uma pequena rua que fugia da multidão e ia direto para o fim do conjunto de casas.

Jeon deu de ombros, muito mais tenso do que aparentava. Apesar de não conhecer Bryan, ele percebia que Rosie estava mais nervosa do que nunca. E mesmo tendo passado por situações semelhantes antes, eles estavam sozinhos. Não tinham bruxos seculares para ajudá-los. Por essa mesma razão ela precisava ser mais que suficiente.

— Tem alguma coisa que você possa fazer para... mudar a realidade? — Jeon perguntou, sentindo o rosto ficar quente. Não gostava de pedir muitas coisas a Rosie, mas era um assunto extremo. — Por mais que eles talvez não tenham intenção de machucar outras pessoas, eu não confiaria muito na palavra de qualquer um deles.

Rosie suspirou, sentindo o cabelo bater nos ombros conforme andava; a bolsa sacudindo ao seu lado.

— Eu tenho alguns aqui que podem fragmentar a realidade, mas apenas uma parte dela e por pouco tempo. Não sei exatamente quanto, mas consigo.

Jeon assentiu, certificando-se que ainda segurava a mão dela. Um apoio que ambos gostavam. Assim que chegaram no limite da área de residências, o vento do mar os atingiu com força, agitando suas roupas e os cabelos de Rosie. O céu negro estava coberto por um lençol de estrelas, a lua encoberta por faixas de nuvens. A praia estava vazia, e as ondas do mar atingiam com força um conjunto de pedras em outro ponto da praia.