Anjo birrento

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Por: Vienna


– Ok – Oliver disse, colocando o prato na minha frente na mesa do refeitório, no intervalo das aulas – Agora você vai ter que me explicar que história é essa de festa com o Noah Hwang.

Suspirei e dei uma garfada na comida, tentando aparentar a normalidade que eu não tinha, como se tudo estivesse sob controle, como se do nada eu tivesse virado uma garota confiante e decidida. E esperava muito que o Oliver comprasse todo esse teatro.

Comecei então pelo início de tudo, quando eu tinha adicionado o Noah no Facebook e perguntado se ele sabia de alguma festa legal. Naquele ponto, meu melhor amigo já tinha erguido as sobrancelhas umas quatro vezes, mas eu não deixei ele me interromper e continuei tentando aparentar normalidade. Falei sobre como Noah e eu nos encontramos "acidentalmente" na quadra de basquete hoje cedo e sobre como ele reforçou o convite para a festa. Claro que a minha narrativa era metade verdade, metade mentira, já que eu não podia mencionar que um anjo cupido tinha aparecido no meu quarto e feito todas aquelas coisas acontecerem, né?

Por falar em anjo cupido, achei que ele tivesse desaparecido, que tinha voltado para sei lá onde ele morava, já que não estava me esperando na porta da sala no fim da aula. No entanto, assim que eu pensei nele, ele entrou na lanchonete, como se tivesse um radar para me achar ou algo assim e eu me perguntei se seu relógio detectava a minha presença assim como detectava a do Noah. Ele olhou para os lados e logo abriu um sorriso quando me viu. Eu tive que continuar fingindo ser uma pessoa sã e não reagi a presença dele ali, caso contrário o Oliver ia ter certeza que eu pirei – mais do que ele já achava naquele momento.

Daniel sentou na cadeira ao meu lado parecendo feliz como sempre, como se estivesse disposto a ouvir aquela história que já conhecia bem e numa versão na qual eu levava todo o crédito pelo fato de o Noah agora saber que eu existo.

– Desculpa Vienna, mas eu não consigo acreditar em nenhuma dessas coisas – Oliver cruzou os braços e julgou até o fundo do meu ser com seu olhar – Esse vestido, essa confiança... eu te conheço quase desde o útero e você nunca foi assim.

– Eu decidi mudar, cansei de ser como uma planta de decoração da sala para o garoto que eu gosto – tentei mostrar confiança e o Daniel levantou os dois polegares para mim – E agora você vai comigo para a festa.

– EU??? – Oliver exclamou mais alto que devia – Se você acha que eu...

Achei que ele ia me passar um sermão daqueles sobre como ele odiava esse tipo de evento social – e depois acabar cedendo e indo comigo – mas ele parou de falar do nada e ficou olhando para o meu lado, exatamente para onde Daniel estava sentado. Arregalei os olhos e por um segundo, achei que meu amigo conseguia ver meu anjo cupido.

Daniel, que estava muito mais focado nas bandejas de comida das outras pessoas, voltou sua atenção ao Oliver também. Parecia até mesmo que eles estavam se olhando nos olhos...

– Não tinha uma cadeira aqui? – meu amigo perguntou de repente – Eu tenho certeza que vi três cadeiras nessa mesa quando a gente sentou.

– Ca... cadeira? – falei meio gaguejando e finalmente perdendo minha compostura – N-Não... Eram só duas...

Daniel sorriu e fez um "oops" tampando a boca com a mão, mas eu não achei aquilo nada engraçado. Tudo o que ele tocava sumia aos olhos dos humanos que não podiam vê-lo, então era bom que ele ficasse bem quietinho ali porque se encostasse em qualquer outra coisa, eu não ia ter como levar essa mentira adiante...

– Não, eu tenho certeza que eram três – Oliver continuou, como se agora essa fosse uma questão existencial – Não é possível que alguém tenha pego sem eu ver, a não ser que eu esteja mesmo ficando maluco e esse lacinho na sua cabeça seja uma das minhas alucinações – ele me provocou.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora