Talvez para sempre

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Por: Daniel


Não consigo descrever em palavras a sensação que tive quando pisei na areia da praia pela primeira vez na minha vida. Era quente e macio, como se eu estivesse pisando em nuvens, embora eu nunca tivesse pisado em nuvens para saber se era mesmo essa a sensação. Não, anjos não pisam em nuvens. Olhei para toda aquela imensidão diante de mim, a larga extensão de areia e depois o mar, tão grande e tão maravilhoso como sempre imaginei e não pude deixar de sorrir.

Antes que Vienna dissesse para eu não correr, eu já tinha ido em disparada até lá. Ao invés de sentir medo, eu sentia que queria ser parte daquilo, parte de toda aquela água. Até claro, eu molhar os meus pés e perceber que era muito mais gelada do que eu esperava.

– Cuidado – ela disse, parando ao meu lado.

– É gelado – resmunguei, achando estranho que a água não fosse quente como a areia.

– Logo você acostuma – ela deu uma risadinha.

Assim como ela havia dito, eu logo me acostumei. Parecia que quanto mais aquela temperatura ficava normal para o meu corpo, mais eu queria entrar.

Dei uma olhada para trás e vi que Vienna estava parada na beira da água, tirando algumas fotos minhas e também da praia, provavelmente querendo registrar aquele momento. Percebi também que havia um grupo de pessoas sentadas na areia e elas estavam olhando para mim. Não era nada demais, era apenas um olhar casual, mas elas estavam olhando para mim.

Desde que me tornei um anjo caído, essa é a primeira vez que eu sinto isso tão forte, o sentimento de que agora eu sou um deles, eu sou um ser humano. Eu podia ser visto, podia falar com eles e viver com eles. Eu não era mais um anjo cupido.

Sorri ao me dar conta disso finalmente, do quão vivo eu estava graças ao amor da Vienna. Por falar nela, minha paparazzi particular tinha se aproximado de mim naquele momento, para me mostrar as fotos que tinha tirado, muito satisfeita.

– Vamos tirar bilhões de fotos juntos – falei enquanto aprovava as que ela havia tirado.

– Bilhões? – ela riu.

– Bilhões – confirmei.

Vienna assentiu e eu então chutei um pouco de água na direção dela, brincando. De primeira, ela fez cara de ofendida, mas logo chutou água em mim também. Não demorou nada para que eu estivesse ensopado e me atirasse finalmente na água, para nadar como um cachorrinho.

Não sei quanto tempo ficamos brincando na água, provavelmente até nossas barrigas começarem a roncar. Aquilo era tão bom, passar aquele tempo com ela, sem nada para me preocupar, sem um prazo final. Eu nunca mais precisaria dizer adeus novamente, nunca mais precisaria me preocupar se estava errado porque aquilo não existia mais, agora nós éramos iguais. O sentimento de pertencimento nunca tinha me atingido tão forte como hoje.

Vienna comprou todas as comidas que eu pedi a ela, pacientemente e prazerosamente, e ficamos o dia inteiro brincando na areia e também na água, até que nossos dedos ficassem murchos. Quando chegou o fim da tarde, ela disse que eu precisava ver o pôr-do-sol e então eu apoiei meu rosto em seus ombros e fiquei assistindo enquanto o sol desaparecia no horizonte. Aquele era um dos espetáculos mais lindos que eu já tinha visto nesse mundo.

Nós fomos para o hotel que Vienna havia alugado perto da praia quando já tinha anoitecido. Ela saiu para comprar algo para o nosso jantar, enquanto eu tomava banho. Porém, ela ainda não havia chegado quando eu estava pronto, então deitei na cama para esperar. Eu não sabia que estava tão cansado, até apagar ali mesmo.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora