O maior pecado de um anjo

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Por: Vienna


Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, qual era a probabilidade de eu salvar logo o cachorro da mãe do Noah? E pior, ainda sair sem nenhum arranhão e com um convite para jantar? Só podia ser coisa do Daniel, afinal de contas eu não era e nem nunca fui sortuda assim.

Por falar no anjo, ele estava mais quieto do que o normal e continuou assim durante todo o trajeto até o restaurante, no carro da ricaça. Noah estava sentado do lado da mãe dele no banco da frente e ia falando sobre coisas triviais da faculdade, contando que hoje teve um trabalho enorme para apresentar – o que explicava o sumiço dele o dia todo – e eu ainda não acreditava que aquilo era real, que eu estava ali, morta de nervoso e me tremendo dos pés à cabeça no banco detrás.

Eu me atiro na frente de um carro e salvo 500 cachorros, mas me coloca num ambiente fechado com o Noah para você ver onde que vai parar a minha coragem?



O restaurante era caríssimo, daqueles que eu nem tinha grana para pisar no gramado, que dirá entrar. Eu ainda por cima nem estava bem vestida hoje, tinha ido para a universidade com um jeans velho e uma camiseta branca que até tinha sujado quando eu me joguei no meio da avenida para salvar o Popo – esse era o nome do Yorkshire da mulher. Briguei comigo mesma por não ter ido vestida com as roupas que o Daniel sempre sugeria, aquele vestido xadrez com o lacinho cairia perfeito para esse jantar. Mas agora não tinha volta, eu ia ter que comer assim mesmo no meio dos ricos.

Sentamos em uma mesa em uma área isolada do lugar – graças a Deus a mãe do Noah era aquelas ricas que usavam mesa VIP – que tinha quatro lugares. Teoricamente tinha uma cadeira sobrando, mas na prática o Daniel havia sentado nela antes que eles sequer percebessem que uma das cadeiras havia "sumido". Eu ainda estava me tremendo quando o garçom veio servir o vinho.

– Então Vienna – a ricaça começou, enquanto bebericava o vinho – O que você faz além de estudar? Pratica algum esporte?

Lembrei de todas as boladas que levei na cara na vida e também que eu era a última a ser escolhida para os times da educação física da escola e quis chorar ali mesmo. Porém, antes que eu tivesse que me humilhar na frente do capitão do time de basquete, Noah respondeu aquela pergunta por mim e me surpreendeu.

– Ela faz trabalho voluntário, mãe – disse – Já foi até para a África.

Por um segundo de bobeira, fiquei pensando como diabos ele sabia daquilo já que eu não falava desse assunto para ninguém. Virei meu rosto na direção do Daniel e ele estava sorrindo, como se também já soubesse disso. Foi então que eu liguei os pontos e concluí que foi isso que o Oliver contou aquele dia na casa dele.

Eu não sabia se ficava feliz ou surpresa.

– Uau, era de se esperar que a salvadora da Popo fosse mesmo uma heroína – a mulher comentou e eu senti minhas bochechas corarem.

Olhei para o Noah com o canto do olho e ele estava sorrindo todo bobo para mim. Ai meu Deus, será que isso do trabalho voluntário tinha mesmo impressionado ele?

O garçom veio trazer vários tipos de carnes e massas e eu tive que me lembrar de que aquele era um lugar fino e eu não poderia simplesmente atacar a comida, então esperei educadamente que os demais começassem a comer para só depois agir como a dama que eu – não – era e comer graciosamente a minha comida. Achei que o Daniel ia começar a me chatear me chacoalhando e pedindo para eu dar carne para ele, que eu ia pagar mico na frente daquela família, mas ele continuava muito quieto. Vez ou outra, quando eu olhava para ele, ele sorria para mim. Mas era só isso e aquilo estava muito estranho, não parecia que ele estava sendo ele mesmo. Não que fosse ruim que eu estivesse parecendo a versão mais normal minha que conseguia ser diante deles, mas não conseguia deixar de me perguntar se estava tudo bem com o meu anjo.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora