Preso entre o que ele era e o que se tornou

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Por: Daniel


Fazia calor, ou era o meu corpo que estava fervendo, eu não sei. Tudo ao meu redor parecia incômodo, irritante. Eu tinha vontade de empurrar as pessoas, machucá-las, vê-las sofrer. Além de tudo, meu estômago roncava de fome, e foi então que algo chamou a minha atenção. Atravessei a rua sem nem ao menos olhar para os lados e consegui ouvir barulho de freios, buzinas e batidas, mas não me importei. Entrei em uma loja na esquina e fui direto para a prateleira de comidas, olhando para todas as opções que havia. Abri um saco de batata chips e comecei a comer ali mesmo, forrando meu estômago. Ouvi vozes ao meu redor, mas continuei não me importando. Abri mais um saco e comi sofregamente, enquanto ia jogando diversas coisas pelo chão e abrindo tudo o que via pela frente.

- Ei, garoto! – o dono da loja gritou – Se você continuar fazendo isso, eu vou chamar a polícia.

Foi só naquele momento que prestei atenção nele, virando o meu rosto em sua direção. Aqueles gritos estavam me deixando muito irritado, então caminhei até ele impaciente. Pude ver que ele arregalou os olhos quando percebeu a minha intenção, mas não tive piedade nenhuma. Levantei o homem pelo pescoço e o atirei contra o vidro da loja, fazendo um enorme barulho.

As pessoas que estavam lá dentro gritaram e se acuaram em um canto, enquanto eu via uma porção de cacos de vidro rolarem perto dos meus pés. Peguei um deles com a mão, o maior de todos, e então avancei na direção dos demais.


Por: Vienna


– O que você quer dizer com eu ser a única que pode salvá-lo?

Cael, o anjo cupido, suspirou e sentou em minha frente, como alguém que ia me explicar algo muito importante e também muito difícil. Eu tive medo, não apenas agora, mas desde que tudo isso começou. Eu não sabia o que eu iria descobrir, mas tinha certeza de que não era nada bom.

E assim foi. Cael me contou sobre as duas escolhas que o Daniel teve ao pecar e ficar comigo: a reabilitação ou a queda. E ele escolheu cair, perder suas asas e sua bondade e se tornar um ser de puro ódio. Ele fez isso porque sabia que não poderia viver com as nossas lembranças e cada pedaço meu se sentia tão culpado por isso que o demônio aqui devia ser eu.

– Vocês dois são culpados – Cael falou quando eu comecei a me culpar – Mas agora não é hora disso.

– Achei que o reino dos céus fosse um lugar melhor – resmunguei – Como podem fazer isso com alguém...

– O reino dos céus é um lugar maravilhoso – ele se defendeu – Ele só não pode tolerar o que vocês fizeram.

– O quê? Amar? – revidei irritada.

– Vienna – Cael suspirou – Você alguma vez pensou a sério sobre o que estava fazendo? Digamos que fosse possível namorar um anjo, então o quê? Você iria apresentá-lo aos seus pais, o seu namorado invisível? Iria viver uma vida ao lado dele, casar?

Resmunguei baixinho e evitei o olhar dele. Claro que ele tinha razão, claro que eu nunca tinha pensado nisso a fundo e apenas tinha sido inconsequente e feito algo que eu queria fazer. Eu fui egoísta e agora o Daniel era o único que estava pagando por isso.

– Me diga como eu posso salvá-lo – falei, tentando deixar minha culpa pra trás – Eu farei qualquer coisa.

– Eu não sei – o anjo balançou a cabeça – Eu só estou torcendo para que o seu amor seja capaz de salvá-lo, porque não há nada mais poderoso do que isso.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora