Tocando nas asas de um anjo

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Por: Daniel


Eu estava sentado na escadaria da frente da casa, a cabeça baixa nos joelhos enquanto minha barriga roncava. Não era possível que eu estivesse com fome de novo, não depois de ter atacado a mesa de comidas quando cheguei. Mas quantas horas já tinham se passado? Eu nem fazia ideia de quanto tempo estava sentado ali, porém já havia algumas pessoas dormindo pelo chão perto de mim, outras atiradas no gramado e sujeira e copo de bebida para todo o canto. Me perguntei quem iria limpar isso, provavelmente não seria a tal Sandy, que aliás eu até agora não sabia quem era.

Foi então que ouvi a voz do Oliver e levantei no mesmo instante. Ele estava carregando uma bêbada e trôpega Vienna nos braços enquanto falava que a irmã já tinha chegado para busca-los. Naquela hora eu quis muito ajudar, ela mal conseguia ficar em pé e o Oliver não estava conseguindo carrega-la direito. Mas então eu lembrei de como ele havia sido insensível com a própria amiga e achei que fazer um pouquinho de força não faria nenhum mal.

Acompanhei os dois a passos lentos até o carro da irmã dele, que já tinha buzinado umas duas vezes na frente da casa. Assim que Oliver largou Vienna no banco detrás, entrei apressado e sentei ao lado dela. A irmã dele colocou de novo uma música legal no carro, mesmo sendo duas e meia da manhã – agora eu conseguia ver a hora no relógio do carro dela – e o Oliver ficou mandando ela desligar, mas ela nem ligou.

Por algum motivo, eu achava ela legal.

Eu até queria dançar ao som da música, mas Vienna parecia estar morrendo do meu lado. Achei que seria deselegante então apenas fiquei de olho nela, que parecia que ia vomitar a qualquer instante.

Assim que chegamos na casa depois de uma viagem que pareceu muito mais longa do que a de ida – talvez pela tensão de que Vienna fosse mesmo vomitar no estofamento do carro a qualquer instante – Oliver a colocou nas costas e a carregou para dentro. Ninguém tinha acordado na casa, o que era um alívio, pois eu bem lembrava da mãe dela com a vassoura e nem duvidava que ela fosse dar umas vassouradas nela mesmo a essa hora.

Oliver se despediu de uma confusa e cansada Vienna e foi embora. Eu pensei que devia ir também, ver se tinha algo para comer em casa e dormir, afinal de contas o meu trabalho como cupido já tinha acabado há muito tempo nessa noite. No entanto, Vienna estava gemendo e parecia estar mal e eu simplesmente não conseguia deixá-la ali sozinha.

– Você está se sentindo muito mal? – perguntei sentando ao seu lado na cama.

– Minha cabeça dói... e tudo está rodando – ela respondeu – Por que eu fui beber assim? Eu não sou acostumada a beber tanto...

Naquele momento, parecia que o efeito do álcool estava passando um pouco e ela estava começando a cair na realidade, o que eu não sabia se era bom ou ruim.

– Eu vou fazer algo para você – falei e levantei de súbito, lembrando de algo importante – Volto logo.

Vienna nem conseguiu abrir direito os olhos para ver onde eu ia e acho que nem percebeu a minha ausência. No instante seguinte, me vi dentro do meu quarto e levantei apressado, indo até a cozinha. Abri um armário em cima do fogão e percebi que estava tudo bem organizado, algo que não condizia com a realidade da minha casa. Olhei para os lados com maior atenção e notei que não havia bagunça em lugar algum, como se aquela nem fosse a minha casa. Foi então que vi, colado no balcão da cozinha, um bilhete que dizia "Sei que você anda muito ocupado como um anjo cupido, então decidi te dar uma ajuda. Por favor, tente manter a casa limpa por pelo menos uma semana. Abraços, Cael".

Arregalei os olhos e não acreditei que meu professor tinha feito isso, que ele tinha vindo até a minha casa arrumar a minha bagunça. Pelo visto, por mais que eu fosse seu pior aluno, ele realmente gostava muito de mim. A minha cozinha parecia cozinha de anjo agora graças a ele e eu não podia estar mais grato. Dei um largo sorriso e fiz uma nota mental para agradecê-lo amanhã, antes de sair para o trabalho.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora