A sensação do pecado

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Por: Daniel


Na manhã de segunda-feira, Vienna tinha um trabalho enorme para apresentar na universidade – que ela ficou ensaiando o final de semana inteiro, enquanto falava suas falas decoradas para mim e eu conferia se ela não estava esquecendo de nada. Além disso, ela e Noah trocaram algumas mensagens depois daquele beijo, mas nada mais do que isso. Como era provável que eles nem se vissem na universidade hoje, eu decidi ficar no meu plano e frequentar uma das aulas do Cael.

– Tem alguma regra que diga que um anjo cupido não pode matar o humano com qual ele está trabalhando? – Gabriel perguntou enquanto sentava ao meu lado na sala.

Ele aparentemente também tinha escapado do trabalho naquela manhã.

– As coisas estão indo mal? – perguntei rindo.

– Ele é um idiota, aquele Ed – Gabriel resmungou – Tudo o que eu peço para ele fazer, ele faz o contrário. Eu não aguento mais!!!

Antes que ele gritasse um pouco mais nos meus ouvidos, o professor Cael entrou na sala e nós ficamos instantaneamente em silêncio, para o deleite da minha audição.

A aula de hoje era sobre o pecado, tema que vinha bem a calhar devido a minha atual situação. Fiquei até pensando se o professor o tinha escolhido imaginando que me seria útil, mas preferi acreditar que ele pensava que eu estava bem longe de coisas pecaminosas... Ele nos explicou sobre os pecados dos anjos, aqueles que fazem com que sejamos expulsos do reino celestial e caiamos no mundo humano como um ser de puro ódio.

Um crime. Uma traição. O amor.

Anjos não podem matar, não podem trair o reino dos céus e não podem amar. Ele relatou então um caso muito antigo e bem conhecido por todos nós, de um anjo chamado Arthur, que se apaixonou por uma humana e seu desejo por ela cresceu tanto que ele matou o homem que ela amava. Ele foi banido do reino celestial e jogado na Terra como um anjo caído e acabou sendo morto pelas mãos humanas pouco depois disso. Porém, no período em que esteve por lá como um caído, destruiu e matou diversas pessoas que cruzaram o seu caminho.

E essa história, que eu já tinha ouvido muitas vezes, me deixou aterrorizado pela primeira vez.



– Um caso em um milhão – Gabriel resmungou enquanto saíamos da sala – Sensacionalismo. Como se um anjo pudesse sequer pensar em matar alguém quando ainda está na condição de anjo cupido.

– Você acha que é mesmo assim tão raro? – perguntei um pouco assustado, a aula de hoje tinha me deixado mais nervoso do que já estava.

– Claro, não é como se fosse todo o dia que um anjo se apaixona por um humano – ele suspirou – Quer dizer, tem a história do Samuel, mas...

Olhei para ele e lembrei que recentemente havíamos conversado sobre esse assunto, sobre anjos se apaixonarem e Gabriel havia desabafado um pouco sobre isso. No entanto, aquele dia ele estava sob o efeito do álcool e agora que estava sóbrio tinha voltado ao seu estado natural de não fazer comentários muito profundos sobre temas polêmicos. Mas para falar a verdade, nem eu estava muito no clima para debater essa questão, então preferi deixar para lá.

Gabriel e eu voltamos juntos para o plano terrestre depois da aula e nos separamos logo em seguida, quando ele avisou que iria procurar pelo irmão da Vienna. Eu acenei para ele e caminhei devagar até o portão da universidade, para esperar por ela. Pela hora que era, ela provável já tinha terminado de apresentar o trabalho.

Estúpido CupidoOnde histórias criam vida. Descubra agora