Sendo o Próprio Placebo

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Um médico dá a um paciente um medicamento forte com a garantia de que aliviará seus sintomas, e o paciente, como prometido, obtém alívio. No entanto, na verdade o médico prescreveu um inofensivo e inerte comprimido de açucar. ( O efeito não se limita aos rémédios, o que è importante lembrar: qualquer coisa em que se acredite pode agir como placebo.) De onde vem o alívio do paciente? Vem da mente dizendo ao corpo para melhorar. Para isso, a mente precisa, antes de tudo, ser convencida de que a cura está por vir. O Grande problema do efeito placebo, que funciona, em média, em 30% dos casos, é que o primeiro passo é a ilusão.
    Agora a pergunta mais importante: você pode ser seu próprio placebo sem recorrer à ilusão? Se tomar um comprimido de açúcar, saberá de antemão que ele não vai proporcionar alívio. E o processo acaba ai? De jeito nenhum. A autocura pelo efeito placebo depende de libertar a mente de dúvidas - sem enganar a si mesmo. Ser o próprio placebo é o mesmo que liberar o sistema de cura por mensagens vindas do cérebro. Quando se trata da conexão mente-corpo, a cura deve envolver as seguintes condições básicas:

--A mente está contribuindo para a melhora.

--A mente não contribui para o adoecimento.

--O corpo está em comunicação constante com a mente.

--Essa comunicação favorece os aspectos físico e mental da melhora.

--Tendo recebido um tratamento em que confie, a pessoa relaxa e deixa que a reação de cura aconteça naturalmente.

   Como realizamos essas cinco condições conscientemente? No mínimo, não devemos lutar contra elas com medo, dúvida, ceticismo ou desesperança. Tais estados transmitem suas próprias mensagens químicas para o corpo. Ao acreditar que um comprimido de açúcar irá cura-lo, as mensagens de cura começam a ter um efeito. Mas não podemos dizer que os 30% que se beneficiam do efeito placebo estão fazendo algo certo enquanto os 70% restantes não estão. O histórico médico de cada um é único; o sistema de cura ainda é nebuloso demais para ser medido com acuidade. Sentimentos negativos e profundos, se capazes de bloquear o efeito placebo ( de forma alguma uma certeza, são complexos e muitas vezes inconscientes, então a diferença neste caso não é simples.
    A maior promessa está no fato de que a intenção mental de " dar prazer " funciona. Ser o próprio placebo requer aplicar as mesmas condições presentes em uma clássica reação ao placebo:

--Você confia no que está acontecendo. Consegue lidar com a dúvida e com o medo.

--Não envia as mensagens contraditórias que se choquem umas com as outras.

--Você abre os canais da comunicação mente-corpo.

--Relaxe quanto á sua intenção e permite que o sistema de cura faça seu trabalho.

Quando um sintoma não é grave, como um corte no dado ou um hematoma, todos acham fácil se despreocupar e parar de interferir. A mente não se intromete com dúvidas e medos. Mas, em doenças graves, dúvidas e medos têm grande influência, e é por isso que práticas como meditar ou frequentar um grupo de ajuda são úteis. Compartilhar sua ansiedade com outros na mesma situação é uma forma de começar a superá-la
  É bom também seguir seus instintos mais saudáveis. Muitos lidam com a doença por meio de processos enganosos, como pensamentos ilusórios e negação. Nossos medos nos levam a becos sem saída e a esperanças falsas. Nesses casos, a mente não está realmente atenta ao que o corpo está dizendo, e vice-versa. A atmosfera é nebulosa. Confiar no que o corpo diz demanda experiência. É necessário treinamento mente-corpo, e isso leva tempo. Todos sabem, por exemplo que um estilo de vida positivo, com exercícios, boa alimentação e meditação, reduz o risco de doenças cardíacas. Mas a melhora não ocorre de uma hora para outra. É preciso paciência, diligência e tempo.
   Isso é o oposto de entrar em pânico e correr desesperadamente atrás de qualquer cura possível ao receber um diagnóstico de câncer. Passar a rezar e meditar de repente, apenas por causa da ameaça da doença, é quase sempre em vão. O medo piora quando se está gravemente enfermo, e saber lidar com a ansiedade funciona muito mais se a pessoas começar a fazer isso antes mesmo de estar doente. A conexão mente-corpo precisa ser fortalecida antes que o problema apareça.
    A importantíssima tarefa de ter consciência do próprio corpo não tem que ser tediosa. O mais importante é que mente e corpo sejam amigos novamente, que retomem sua parceria natural. Uma maneira de fazer isso é sentar-se em silêncio, com os olhos fechados e simplesmente sentir o corpo.
    Deixar todo o tipo de sensação vir á tona. Não reaja á sensação, seja agradável ou não. Apenas relaxe e tenha consciência disso. Perceba de onde a sensação vem. Você não terá só uma sensação ou sentimento. Notará que sua consciência vai de um lugar a outro, um momento sentindo seu pé ou estômago, peito ou pescoço.
    Esse exercício simples é uma reconexão mente-corpo. Muitas pessoas têm o hábito de prestar atenção apenas nos sinais ruins do corpo, como dor aguda, rigidez, náusea e outros desconfortos difíceis de ignorar. O que você deve fazer é aumentar sua sensibilidade e sua confiança simultaneamente. Seu corpo sabe de maneira sutil onde está o mal-estar e o incômodo. Ele envia sinais a todo momento, e eles não devem ser temidos.
     Mesmo que ignore o que acontece em suas células, logo abaixo de sua percepção há troca de informação inconsciente. Recentemente, quando o governo federal dos Estados Unidos decidiu que a mamografia anual não é necessária para mulheres mais jovens, ocorreu que 22% dos tumores de mama pequenos se curam sozinhos, desaparecendo espontaneamente. Assim, uma reação automática de medo, mesmo diante de um possível câncer, é infundada em se tratando do sistema de cura. O sistema imunológico elimina milhares de células anormais diariamente. Todo mundo tem genes supressores de tumor, embora ainda não se saiba como são ativados. Iogues avançados conseguem alterar suas reações involuntárias como quiserem, como desacelerar seus batimentos cardíacos e sua respiração a níveis muitos baixos ou elevando a temperatura da pele de maneira muito precisa. Você e eu temos as mesmas habilidades, só que não as usamos conscientemente. Você pode imitar o exercício de fazer um ponto de palma de sua mão esquentar, e isso irá acontecer, mesmo que nunca tenha feito isso antes.
    Podemos especular que o efeito placebo cai na mesma categoria. É uma reação voluntária que podemos usar desde que aprendamos a estimulá-la. O sistema de cura parece ser involuntário. Você não tem que pensar com o objetivo de curar um corte ou um machucado. Porém, o fato de alguns pacientes conseguirem fazer a dor ir embora ao tomar um comprimido de açúcar implica, de maneira muito forte, que a intenção faz diferença no processo de cura. Não estamos falando de pensamento positivo, que frequentemente é superficial demais e mascara um negativismo subjacente. Em vez disso, estamos incentivando um estilo de vida que estabeleça uma conexão mente-corpo mais profunda.
    Observação: A conexão do cérebro com o efeito placebo é crucial, mas só foi estudada em profundidade recentemente. Não estamos aconselhando ninguém a interromper tratamentos clínicos convencionais ou a rejeitar ajuda médica. O efeito placebo ainda é um mistério, que estamos apenas abordando nesta parte do livro, e não apresentando um manual de autocura milagrosa.

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Deixei aquela parte em negrito para dar destaque.

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