Os primeiros raios do sol mal começavam a abraçar o céu quando Lauren preparou a sela do cavalo. Acordara mais cedo do que de costume. Uma cavalgada serviria para amainar sua inquietude. Um passeio e um bom café da manhã. Era disso que ela precisava depois de uma noite tão mal dormida.
Uma hora depois Lauren retornava para a casa do irmão. Sentia-se revigorada.
─ Lady Lauren, há algumas correspondências para a milady.
Lauren estendeu a mão para receber os papéis que o mordomo lhe estendia. Curiosa, abriu logo a primeira carta.
"Yorkshire, 1861"
***
O estrondo agudo do tiro ecoou pelo bosque, machucando os ouvidos de Rud e assustando os pássaros. O cervo que Rud tentara acertar fugira são e salvo.
─ Se o jantar depender da nossa caçada não teremos carne na mesa.
─ Estou certo que sua despensa está bem provida.
Rud tirou as balas do rifle. Ele estava distraído demais para portar uma arma de fogo.
─ Você irá me dizer qual é o problema?
─ Não há problema algum. ─ Rud respondeu, sem olhar para o primo.
─ Se fosse um problema no cassino você não se deteria em me dizer, presumo que deve ser algo diferente...
Rud sorriu. Ele não pretendia saciar a curiosidade de Stephen.
― Seu silêncio só pode significar que é uma mulher. ─ Ele continuou divertindo-se em irritar o primo ─ Finalmente Ruphert Baine sucumbiu! Se você está aqui em Hampshire a moça deve tê-lo desprezado. Pobre Rud!
Rud ignorou Stephen e começou a andar apressadamente em direção à casa. O primo andava atrás dele, rindo e fazendo provocações. Ele certamente não acharia tanta graça de suspeitasse quem era a mulher que perturbava os pensamentos de Rud.
***
Lauren pegou o pequeno baú de madeira escondido no fundo do armário. Sentou-se na cama, sobre as pernas. Uma a uma, retirou as cartas e as espalhou sobre a colcha macia. Não precisava lê-las, sabia o conteúdo de cada uma delas de cor, seria patético demais fazê-lo em voz alta, mas ela saberia dizer até mesmo quando cada folha foi manchada por lágrimas.
A carta mais deteriorada era também a última que recebera. Lauren a amassou quando Benedict impiedosamente colocara a última pá de terra sobre a esperança tola que teimosamente cultivava.
Arquejou um gemido choroso. Cobriu a boca com a mão querendo reter o choro.
Sentiu o peso opressor da tristeza invadindo-a como tantas vezes já acontecera.
Por quanto tempo mais aquele vazio, aquela tristeza iria assombrá-la?
Estava exausta!
Ergueu-se da cama tão rápido que derrubou o baú no chão. Deu-lhe um olhar, sem no entanto mover-se para pegá-lo. Podia ver que estava quebrado. Não importava.
- Sou eu.
Rud escutou a voz antes de conseguir focar a mulher.
Ele piscou, tentando espantar o sono.
Uma das janelas do quarto estava aberta. Era uma noite sem lua. O céu estrelado oferecia um belo espetáculo que Rud apreciara antes de dormir, contudo as muitas estrelas não iluminavam o suficiente para clarear o quarto.
Antes que Rud conseguisse despertar de todo, Lauren já estava deitada na cama, apoiada nos travesseiros. Era a primeira vez que ele a estava vendo naquele dia. Nicole dissera que ela estava indisposta. Com uma crise de enxaqueca. Ele pensou em bater à porta do quarto dela, certificar-se se ela estava bem, se precisava de algo. Desistiu da ideia imediatamente. A noite na casa dos Woodbead havia sido tortura suficiente.
Lauren pegou a mão dele.
Ele esperou que ela falasse, que lhe explicasse o que fazia no quarto dele àquela hora da madrugada.
Ela permaneceu em silêncio.
Tentou levantar-se da cama para acender uma vela. Ficariam melhor com alguma iluminação.
Ele se sentiria melhor com alguma iluminação.
Porque queria vê-la.
Se ele pudesse ver nitidamente o rosto dela descobriria porque ela estava ali na cama dele. Ele sabia ler as expressões dela. Conseguia ler cada sorriso, cada suspiro, o leve franzir de cenho.
— Fique comigo.
O pedido feito num sussurro arrepiou os pelos do corpo de Rud. Lauren segurou a mão dele, puxando-o para junto dela. Ele deixou-se levar sem resistência. Ela se moveu, ficando ainda mais próxima dele, o movimento dela fez que a camisola subisse, deixando a perna que tocava a de Rud descoberta.
Sua consciência alertava que aquele caminho era perigoso demais, contudo Rud permanecia inerte, deixando que Lauren escolhesse os passos que eles dariam. Como um espectador esperando o próximo ato da peça. Ele a deixava escolher, para assim não precisar acusar a si mesmo?
Afastou o pensamento
Prendeu a respiração quando ela acariciou o rosto dele com as pontas dos dedos.
"Não faça isso...". O último sinal de sua consciência pediu.
O toque dela era sutil e suave. Não justificava intensidade da reação do corpo dele. Rud respirou fundo, buscando clarear a mente, lembrando-se de seus deveres e segurou o pulso de Lauren com mais força do que seria necessário. Aquilo era o limite. Ele iria levantar, acender uma vela e...
A boca de Lauren sobre a dele desfez qualquer boa intenção. O frágil controle que possuía se desvaneceu. O desejo era como uma pequena fagulha que se espalhava rapidamente pela palha seca.
Rud a beijou profundamente, puxando-a o quanto era possível para junto dele.
Lauren correspondeu ao beijo, entregando-se ao abraço sem hesitar.
Entregues um ao outro de tal modo que quase parecia certo.
Mas havia aquela parte da consciência de Rud que tentava se rebelar, mandando-o parar por um momento, lembrando-o que aquilo não deveria estar acontecendo.
Rud chamou o nome de Lauren. Ela respondeu beijando-o mais uma vez, suspirando com a boca ainda colada à dele. Enfiou os dedos nos cabelos dele, como quem nunca mais quer se soltar. A voz da consciência sucumbiu ao desejo, aos beijos e carícias.
***Parece que dessa vez teve beijo sim... (emotion rindo)
(gente, eu uso o wattpad no computador e não tem emotion, é muito triste porque eu sou viciada nessas figurinhas, mas enfim...)
Espero que tenham gostado do capítulo de hoje!
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O coração de uma dama
FanfictionQuantas vezes palavras escritas num papel devem ser lidas? Por quanto tempo um coração pode seguir apegado às promessas desfeitas? Lauren Bourne tem um baú cheio de cartas amassadas e um coração partido. Refugiada na casa do irmão em Hampshire, ela...