Capítulo V

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Os primeiros raios do sol mal começavam a abraçar o céu quando Lauren preparou a sela do cavalo. Acordara mais cedo do que de costume. Uma cavalgada serviria para amainar sua inquietude. Um passeio e um bom café da manhã. Era disso que ela precisava depois de uma noite tão mal dormida.

Uma hora depois Lauren retornava para a casa do irmão. Sentia-se revigorada.

─ Lady Lauren, há algumas correspondências para a milady.

Lauren estendeu a mão para receber os papéis que o mordomo lhe estendia. Curiosa, abriu logo a primeira carta.

"Yorkshire, 1861"

***

O estrondo agudo do tiro ecoou pelo bosque, machucando os ouvidos de Rud e assustando os pássaros. O cervo que Rud tentara acertar fugira são e salvo.

─ Se o jantar depender da nossa caçada não teremos carne na mesa.

─ Estou certo que sua despensa está bem provida.

Rud tirou as balas do rifle. Ele estava distraído demais para portar uma arma de fogo.

─ Você irá me dizer qual é o problema?

─ Não há problema algum. ─ Rud respondeu, sem olhar para o primo.

─ Se fosse um problema no cassino você não se deteria em me dizer, presumo que deve ser algo diferente...

Rud sorriu. Ele não pretendia saciar a curiosidade de Stephen.

― Seu silêncio só pode significar que é uma mulher. ─ Ele continuou divertindo-se em irritar o primo ─ Finalmente Ruphert Baine sucumbiu! Se você está aqui em Hampshire a moça deve tê-lo desprezado. Pobre Rud!

Rud ignorou Stephen e começou a andar apressadamente em direção à casa. O primo andava atrás dele, rindo e fazendo provocações. Ele certamente não acharia tanta graça de suspeitasse quem era a mulher que perturbava os pensamentos de Rud.

***

Lauren pegou o pequeno baú de madeira escondido no fundo do armário. Sentou-se na cama, sobre as pernas. Uma a uma, retirou as cartas e as espalhou sobre a colcha macia. Não precisava lê-las, sabia o conteúdo de cada uma delas de cor, seria patético demais fazê-lo em voz alta, mas ela saberia dizer até mesmo quando cada folha foi manchada por lágrimas.

A carta mais deteriorada era também a última que recebera. Lauren a amassou quando Benedict impiedosamente colocara a última pá de terra sobre a esperança tola que teimosamente cultivava.

Arquejou um gemido choroso. Cobriu a boca com a mão querendo reter o choro.

Sentiu o peso opressor da tristeza invadindo-a como tantas vezes já acontecera.

Por quanto tempo mais aquele vazio, aquela tristeza iria assombrá-la?

Estava exausta!

Ergueu-se da cama tão rápido que derrubou o baú no chão. Deu-lhe um olhar, sem no entanto mover-se para pegá-lo. Podia ver que estava quebrado. Não importava.

- Sou eu.

Rud escutou a voz antes de conseguir focar a mulher.

Ele piscou, tentando espantar o sono.

Uma das janelas do quarto estava aberta. Era uma noite sem lua. O céu estrelado oferecia um belo espetáculo que Rud apreciara antes de dormir, contudo as muitas estrelas não iluminavam o suficiente para clarear o quarto.

Antes que Rud conseguisse despertar de todo, Lauren já estava deitada na cama, apoiada nos travesseiros. Era a primeira vez que ele a estava vendo naquele dia. Nicole dissera que ela estava indisposta. Com uma crise de enxaqueca. Ele pensou em bater à porta do quarto dela, certificar-se se ela estava bem, se precisava de algo. Desistiu da ideia imediatamente. A noite na casa dos Woodbead havia sido tortura suficiente.

Lauren pegou a mão dele.

Ele esperou que ela falasse, que lhe explicasse o que fazia no quarto dele àquela hora da madrugada.

Ela permaneceu em silêncio.

Tentou levantar-se da cama para acender uma vela. Ficariam melhor com alguma iluminação.

Ele se sentiria melhor com alguma iluminação.

Porque queria vê-la.

Se ele pudesse ver nitidamente o rosto dela descobriria porque ela estava ali na cama dele. Ele sabia ler as expressões dela. Conseguia ler cada sorriso, cada suspiro, o leve franzir de cenho.

— Fique comigo.

O pedido feito num sussurro arrepiou os pelos do corpo de Rud. Lauren segurou a mão dele, puxando-o para junto dela. Ele deixou-se levar sem resistência. Ela se moveu, ficando ainda mais próxima dele, o movimento dela fez que a camisola subisse, deixando a perna que tocava a de Rud descoberta.

Sua consciência alertava que aquele caminho era perigoso demais, contudo Rud permanecia inerte, deixando que Lauren escolhesse os passos que eles dariam. Como um espectador esperando o próximo ato da peça. Ele a deixava escolher, para assim não precisar acusar a si mesmo?

Afastou o pensamento

Prendeu a respiração quando ela acariciou o rosto dele com as pontas dos dedos.

"Não faça isso...". O último sinal de sua consciência pediu.

O toque dela era sutil e suave. Não justificava intensidade da reação do corpo dele. Rud respirou fundo, buscando clarear a mente, lembrando-se de seus deveres e segurou o pulso de Lauren com mais força do que seria necessário. Aquilo era o limite. Ele iria levantar, acender uma vela e...

A boca de Lauren sobre a dele desfez qualquer boa intenção. O frágil controle que possuía se desvaneceu. O desejo era como uma pequena fagulha que se espalhava rapidamente pela palha seca.

Rud a beijou profundamente, puxando-a o quanto era possível para junto dele.

Lauren correspondeu ao beijo, entregando-se ao abraço sem hesitar.

Entregues um ao outro de tal modo que quase parecia certo.

Mas havia aquela parte da consciência de Rud que tentava se rebelar, mandando-o parar por um momento, lembrando-o que aquilo não deveria estar acontecendo.

Rud chamou o nome de Lauren. Ela respondeu beijando-o mais uma vez, suspirando com a boca ainda colada à dele. Enfiou os dedos nos cabelos dele, como quem nunca mais quer se soltar. A voz da consciência sucumbiu ao desejo, aos beijos e carícias.




***Parece que dessa vez teve beijo sim... (emotion rindo)

(gente, eu uso o wattpad no computador e não tem emotion, é muito triste porque eu sou viciada nessas figurinhas, mas enfim...)

Espero que tenham gostado do capítulo de hoje!

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O coração de uma damaOnde histórias criam vida. Descubra agora