Capítulo X

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Como Lauren sabia que ela faria, lady Caroline imediatamente pediu uma carruagem para que elas fossem até a casa de Georgiana Pearson, ou melhor Georgiana West. Chase para os íntimos.

A condessa não tentou iniciar uma conversa. Lauren estava agradecida. Com a atenção voltada para a janela da carruagem ocupou-se em olhar as ruas de Londres.

Era uma coincidência que Lauren descobrisse que está grávida na casa de Caroline Pearson ‒ naquele instante Lauren sentia necessidade de usar o nome de batismo da mulher a sua frente, a filha bastarda de Georgiana Pearson.

Bastarda.

Não havia nenhum sinal aparente que maculasse lady Caroline, mas não havia como negar o fato. A sociedade londrina não esquecia. Os murmúrios poderiam ser mais baixos, mais comedidos, contudo eles sempre estariam lá, nas bocas dos hipócritas, falsos e invejosos. Georgiana e Caroline não eram mais escandalosas do que o restante da aristocracia inglesa. O que as destacava era a verdade.

Filhos bastardos da aristocracia estavam por todo lugar. Eles abarrotavam os orfanatos miseráveis, eram retirados das mansões ricas no frio da madrugada, envoltos em panos e promessas de nunca conhecerem a própria origem. Georgiana desafiara a sociedade inglesa ao desfilar com orgulho o fruto de seu "erro" e o símbolo da hipocrisia deles.

A carruagem parou diante da casa dos West's. Caroline enlaçou o braço de Lauren no dela. Era carinho materno, apoio e conforto. Lauren se perguntou se lady Caroline tinha consciência do quanto a presença dela ali era importante. Acreditava que a condessa sabia e que justamente por compreender é que estava ali. Sentiu os olhos úmidos, mas dessa vez não era de tristeza.

O mordomo acompanhou as duas damas até uma aconchegante sala de visitas. Em poucos minutos Georgiana chegou.

─ Minha querida!

Georgiana abraçou a filha e deu-lhe um beijo no rosto. Depois abraçou Lauren com o mesmo entusiasmo.

─ Lauren, não sabia que já estava de volta de Hampshire. Penélope precisa de um dos filhos perto dela. Está preocupada com Julius e aquela bendita carta que não nos dizia nada.

Lauren forçou um pequeno sorriso.

─ Deixar todos preocupados é o que Julius faz de melhor.

Lauren se sentou num dos sofás da sala de visitas. Caroline permaneceu de pé.

─ Vou deixar que conversem a sós.

Georgiana olhou para a filha sem compreender e logo se virou para Lauren com uma expressão interrogativa.

─ Há algo que preciso perguntar para a senhora. ─ Lauren começou e então se dirigiu para Caroline. ─ Fique, por favor.

─ Ficarei.

Caroline se sentou ao lado de Lauren, ela quase segurou a mão da condessa.

Lauren pigarreou antes de falar.

─ Por que a senhora decidiu ter a sua filha na Casa de Minerva? A senhora poderia ter se casado, poderia ter dado o bebê a outra pessoa... havia soluções. Por que escolher a mais difícil?

Era melhor que fosse direta.

Nem mesmo os anos de experiência sendo Ana e Chase no cassino puderam ajudar Georgiana a manter a expressão neutra diante da pergunta. Lauren assistiu, com ansiedade enquanto a expressão da dama mudava de espanto para calma. Georgiana inclinou a cabeça um pouco, os olhos estreitos como se tentasse adivinhar o que não era dito, para logo olhar para a filha. Caroline sorria discretamente, muito interessada na resposta da mãe.

─ Existiam sim opções mais fáceis, mas eu desejava... ansiava ser dona do meu próprio destino. A única vez em que eu havia decidido algo na minha vida resultou na gravidez. Caroline era uma consequência da minha decisão. Uma consequência que eu não planejei, mas que eu quis para mim. Eu não queria dividi-la com outra pessoa. Queria ser dona da minha própria vida. Cuidar da minha filha era o primeiro passo.

Lauren assentiu, refletindo sobre aquelas palavras. A mãe lhe contara que Georgiana era muito jovem quando ficou grávida. Que o irmão, o duque de Leighton, a princípio rejeitou a irmã. Todo o caminho que Georgiana havia feito só foi possível porque ela foi uma mulher forte, que acreditou em si mesma. Lauren desejou do fundo do coração que tivesse a mesma valentia.

Havia outra pergunta a fazer. Lauren engoliu em seco e olhou para Caroline antes de falar.

─ A senhora se arrependeu? Em algum momento?

Georgiana pareceu refletir, olhou para a filha novamente. Caroline sorria um sorriso aberto, parecia divertir-se com algo que apenas mãe e filha compreendiam.

─ Tiveram alguns dias em que eu quis... consertar de algo modo. Contudo me ensinaram que minha vida deveria ser vivida para mim e não para os outros.

Georgiana disse a última frase olhando para Caroline e fez uma leve inclinação de cabeça , com um sorriso radiante nos lábios.

─ Obrigada Sra. West. Eu realmente agradeço a sua sinceridade.

Lauren falou, sentindo a voz um pouco embargada. Georgiana ficou de pé, Lauren a imitou.

─ Você não precisa enfrentar nada sozinha, Lauren. ─ Georgiana afirmou, sua voz tão firme quanto as mãos que seguravam as mãos de Lauren ─ Sua família te apoiará. Bourne é cabeça dura, mas você é a coisa mais preciosa para ele em todo o mundo. Também estarei aqui para você no que precisar.

─ Todos nós estaremos. - Caroline falou, passando um braço pelos ombros de Lauren num gesto de conforto.

***

A despedida na casa de Georgiana fora repleta de emoção contida e promessas. Lauren se perguntava o que as duas mulheres pensavam sobre a situação dela. Será que sabiam quem era o pai da criança? Nenhuma delas exigiu explicações, apenas lhes ofereceram apoio incondicional.

Ao entrarem na Townsend House Caroline indagou se Lauren preferia almoçar no quarto. Lauren agradeceu a gentileza e aos céus por permitir que aquela mulher lhe lesse os pensamentos. Não conseguiria sentar-se à mesa diante de Stephen e conversar sobre amenidades. Certamente vomitaria diante de todos.

Uma refeição no quarto seria mais adequada.

Sentia-se cansada e com sono. Entretanto, não podia se dar ao luxo de dormir. Precisava falar com os pais. Não havia sentido em adiar aquela conversa, por mais que a mera expectativa a deixasse apavorada.


*** Esse capítulo é especial para quem ama a personagem de Georgiana.

Para mim, uma das melhores personagens femininas de Sarah Maclean

O coração de uma damaOnde histórias criam vida. Descubra agora