Gotas de suor frio brotaram da testa de Lauren. Um vulto preto ameaçou cobrir-lhe a visão. Ela passou a mão no rosto, tentando dissipar o mal estar. Estava quase em casa.
Como já era de hábito, saiu para uma cavalgada antes do café da manhã. Era seu ritual diário. Levantar cedo, cavalgar um pouco, lavar-se e depois tomar café da manhã com o irmão e a cunhada. Estranhamente seu estômago estava desobedecendo a ordem de acontecimentos do dia, reclamando estar faminto.
Ela estava faminta.
Entregou o cavalo ao cavalariço e entrou pela porta dos fundos da enorme casa. Os criados não se importavam com essas informalidades.
Subiu as escadas escutando o barulho incômodo do estômago, entretanto se recusava a sentar à mesa desalinhada como estava.
A leve vertigem persistiu por todo o banho, enquanto ela se vestia e descia as escadas.
Talvez estivesse ficando doente.
- Bom dia.
Stephen e Nicole já estavam sentados à mesa. O casal afastou-se rapidamente um do outro, Nicole tinha as faces ruborizadas. Lauren revirou os olhos.
Aqueles dois nunca aprenderiam a se comportar?
A boca de Lauren encheu-se de água quando ela sentiu o perfume do chá quente. Tudo à mesa parecia apetitoso.
Deixou que Nicole e Stephen conversassem, ocupada demais em comer. Até os ovos pareciam mais saborosos naquela manhã.
- Que bom que seu apetite voltou.
Nicole observou quando a amiga pegou o segundo bolinho.
Lauren assentiu em silêncio.
Ela realmente se alimentara pouco aqueles dias, também passara mais tempo no quarto.
A reclusão foi proposital. Precisava estar sozinha. Não conseguia esconder os próprios sentimentos. A tristeza era sempre visível em seus olhos, em seus modos, em seu apetite. Stephen e Nicole iriam perceber que havia algo errado, a cunhada esperaria que Lauren desabafasse e isso ela não podia fazer.
Nicole era sua melhor amiga e sempre compartilhava tudo com ela, entretanto dessa vez era impossível.
Não aquilo.
Sequer tinha coragem de pensar em voz alta.
Precisava esquecer o acontecera.
Esquecer... Ela sempre estava tentando esquecer alguma coisa, ou alguém.
Dessa vez seria diferente, estava decidida. Não ficariam chorando pelos cantos, remoendo a própria dor com suspiros amargurados. Não ficaria mais confinada no próprio quarto. Lidaria com aquela dor sozinha. Enterraria os sentimentos no mais profundo de si mesma até que eles desaparecessem.
***
O escritório de Stephen na casa em Hampshire era menor do que o do pai na Mansão do Diabo em Londres e em Farcowell.
A mesa de mogno marrom era ornamentada com entalhes discretos. As três cadeiras francesas forradas com cetim cor de marfim formavam um conjunto elegante com as cortinas brancas. Um armário também de mogno guardava alguns livros e bebidas.
De todos os cômodos comuns da casa aquele certamente era o que Lauren menos visitava, por isso ficou surpresa e um tanto apreensiva ao saber pelo mordomo que o irmão a esperava.
Não fosse pelo chamado excepcional Lauren teria certeza de que algo acontecera apenas pela expressão preocupada do irmão e da cunhada.
Stephen e Nicole estavam de pé, ele recostado à mesa segurando um papel, uma carta nas mãos. Nicole estava ao lado dele. Tinha as mãos postas como se orasse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O coração de uma dama
FanfictionQuantas vezes palavras escritas num papel devem ser lidas? Por quanto tempo um coração pode seguir apegado às promessas desfeitas? Lauren Bourne tem um baú cheio de cartas amassadas e um coração partido. Refugiada na casa do irmão em Hampshire, ela...