O barulho de madeira batendo despertou Rud. A janela do quarto que ele esquecera aberta brigava com o vento repentino da madrugada. Ele se esticou na cama, o lençol que o cobria caiu no chão, revelando o corpo nu. Sorriu, um sorriso embriagado de satisfação. Em sua lentidão para acordar tardou a perceber que estava sozinho na cama.
Examinou os lençóis procurando vestígios do que acontecera. Faltava um. Lauren provavelmente o levara para o quarto.
Era prudente evitar que alguma criada encontrasse os panos, como era prudente que ela não estivesse nos aposentos dele quando a casa enfim despertasse.
Prudência!
A palavra soou como uma acusação em seus ouvidos.
Levantou-se e vestiu apenas uma calça. Precisava conversar com Lauren. Naquele mesmo instante.
Saiu do quarto, andando com o máximo de silêncio que era capaz. Ainda era madrugada, no entanto não queria arriscar despertar alguém.
Alguns poucos passos e parou de frente à porta dos aposentos de Lauren. Empurrou a porta devagar...
O cômodo estava iluminado por velas em cima do criado-mudo ao lado da cama e sobre a penteadeira.
Lauren estava sentada na cama, vestindo uma camisola branca sem enfeites, achava que era a camisola horas antes. A iluminação das velas refletia no tecido branco. Rud suspirou, seu corpo reagindo à revelia de sua mente. Era uma imagem bonita de ver. Ele a desejava demais. Antes que entrasse no quarto ela se mexeu, expondo uma pequena caixa de madeira sobre a cama.
Havia papéis espalhados.
Cartas.
Ele sabia que eram cartas. Conhecia cada uma delas. Não o conteúdo, isso não.
Aprendera a odiar aqueles papéis. No início sua raiva era motivada pelos olhos marejados de Lauren, com o tempo, seus sentimentos mudaram, em relação à Lauren e em relação às cartas que ela insistia em guardar
Quantas vezes viu a prima segurando aqueles papéis, na sala de visitas da Mansão do Diabo, em Falconwell?
Odiava que Lauren voltasse para eles uma vez após outra.
Os dedos de Rud apertaram a fechadura da porta. O gosto amargo do ciúme revirou-lhe o estômago, subindo pela garganta.
Lauren estava novamente lendo as palavras de Leger.
Ela fugiu do quarto e dos braços dele para debruçar-se sobre palavras vazias, que não eram nada se comparadas ao que Rud sentia por ela. Fechou a porta o mais silenciosamente que foi capaz.
Precisava ir embora daquela casa.
***
― Também não consegue dormir?
Lauren levou as mãos ao peito num gesto assustado quando escutou a voz do irmão no corredor.
Os primeiros raios de sol estavam rasgando o horizonte. Stephen não deveria estar acordado.
Ela também não deveria estar fora dos aposentos. Era cedo mesmo para uma pessoa madrugadora como ela
- Você estava indo buscar água?
Lauren piscou, confusa com a pergunta do irmão. Até perceber que ele levava uma pequena jarra de barro na mão.
- Quer?
Ela deveria aceitar e assim ficaria explicado porque ela estava fora dos aposentos.
Beber água. Simples.
Uma explicação perfeitamente aceitável.
- Agnes, lorde Baine pediu para ser acordado tão cedo?
Lauren virou-se para a pessoa a quem Stephen interpelava. Lorde Baine partira à pouco, a jovem criada respondeu. Stephen resmungou algo sobre a displicência do primo de partir sem avisar. Lauren sentiu o chão faltar sob os próprios pés.
- Retorne ao seu quarto, Lauren. Acredito que sua enxaqueca está retornando.
Stephen recomendou, olhando para a irmã com preocupação.
Ela balbuciou uma concordância e um pé depois do outro retornou aos próprios aposentos.
Deitou na cama e chorou.
*** O capítulo de hoje é bem curtinho, mas decisivo para nossa história.
Votem, comentem e até terça-feira!!!
Bjss
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O coração de uma dama
FanfictionQuantas vezes palavras escritas num papel devem ser lidas? Por quanto tempo um coração pode seguir apegado às promessas desfeitas? Lauren Bourne tem um baú cheio de cartas amassadas e um coração partido. Refugiada na casa do irmão em Hampshire, ela...