Londres
Alguns dias depois.
― Devo me preocupar que meu herdeiro se torne um monge recluso?
O Conde Harlow entrou no escritório do clube O Cavaleiro sem prenúncio e sem bater na porta. Sabia muito bem que o filho mais velho estava sozinho.
― Tenho muito trabalho a fazer.
Rud respondeu. Ele estava sentado a mesa, ocupado com o livro de contabilidade.
Cross ergueu uma sobrancelha desconfiada ante a resposta seca. Não era apenas o comportamento atípico do filho que provocava desconfiança. As olheiras sob os olhos, destacadas na pele clara, anunciavam a quem prestasse o mínimo de atenção, que Rud não estava dormindo bem.
Cross suspirou. Deveria ter tido filhas.
― Estou aqui para lembrá-lo que sua tia Penélope dará um baile. Hoje. Espero que o cavalheiro encantador que carrega meu sobrenome compareça. Sua mãe também espera.
Um baile na Mansão do diabo. Rud quase riu. O último lugar em que queria estar. As últimas pessoas que queria ver.
Sua própria família.
― Se não quiser que sua mãe o obrigue a morar novamente conosco, passe em sua casa, tome um banho e faça a barba.
Dessa vez Rud guardou a resposta para si. Encarou o rosto preocupado do pai. O conde Harlow estava de pé diante da mesa de mogno. Impecavelmente vestido como um lorde inglês.
Rud por sua vez usava apenas camisa e calça, o restante de seu vestuário jogado sobre a cama improvisada em que ele tentara dormir nos últimos dias. Dispensara o valete. O homem precisava de alguns dias de descanso. Rud por sua vez precisava estar sozinho.
― Ruphert?
Rud fez uma careta pelo uso do nome de batismo. Se a situação fosse outra ele conversaria com o pai.
Maldição!
Ele certamente pediria conselhos. Mas não podia fazê-lo. Não quando se tratava de Lauren.
Que conselho o pai ou qualquer outra pessoa poderia lhe dar? Estava apaixonado por uma mulher que amava outro. Um homem em sua situação patética deveria guardar silêncio e sofrer sozinho.
― Não se preocupe, pai. Eu estarei na casa dos meus tios na hora marcada.
Cross assentiu, relutante em se retirar, como se ainda tivesse algo a dizer. Rud preparou-se para inventar qualquer desculpa que desviasse das perguntas. Não podia enfrentar o pai. Era um covarde e sabia disso. Mas simplesmente não podia.
***
Rud conferiu novamente o relógio de bolso. Chegara propositalmente atrasado ao baile, conseguindo assim evitar cumprimentar os tios na entrada. Não os via desde antes de partir para Hampshire. Estava disposto a evitar esse encontro o quanto pudesse.
Sua mãe, contudo não pode ser evitada. A condessa Harlow praticamente saltou sobre o filho ao avistá-lo em um canto do salão. Havia uma vantagem em ser filho de Philipha Marbory Baine, condessa de Harlow. Ela entendia os cantos de salões de bailes. Como também os jardins e as estufas. E o mais importante, ela não apresentava os filhos à possíveis pretendentes.
A não disposição casamenteira da condessa garantia a Rud que o baile fosse suportável.
Pelo menos até que a marquesa de Nedham e Doubly o viu em seu sossegado esconderijo e o colocou para dançar a quadrilha com a neta de uma amiga.
Poucos temores eram tão justificados do que os anseios casamenteiros de uma avó idosa. Por isso, depois de entregar a srta. Fewnsbury aos pais, Rud fez o que qualquer homem em sua situação faria. Fugiu do salão.
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O coração de uma dama
FanfictionQuantas vezes palavras escritas num papel devem ser lidas? Por quanto tempo um coração pode seguir apegado às promessas desfeitas? Lauren Bourne tem um baú cheio de cartas amassadas e um coração partido. Refugiada na casa do irmão em Hampshire, ela...