Capítulo VII

2.1K 261 18
                                    

Londres

Alguns dias depois.

― Devo me preocupar que meu herdeiro se torne um monge recluso?

O Conde Harlow entrou no escritório do clube O Cavaleiro sem prenúncio e sem bater na porta. Sabia muito bem que o filho mais velho estava sozinho.

― Tenho muito trabalho a fazer.

Rud respondeu. Ele estava sentado a mesa, ocupado com o livro de contabilidade.

Cross ergueu uma sobrancelha desconfiada ante a resposta seca. Não era apenas o comportamento atípico do filho que provocava desconfiança. As olheiras sob os olhos, destacadas na pele clara, anunciavam a quem prestasse o mínimo de atenção, que Rud não estava dormindo bem.

Cross suspirou. Deveria ter tido filhas.

― Estou aqui para lembrá-lo que sua tia Penélope dará um baile. Hoje. Espero que o cavalheiro encantador que carrega meu sobrenome compareça. Sua mãe também espera.

Um baile na Mansão do diabo. Rud quase riu. O último lugar em que queria estar. As últimas pessoas que queria ver.

Sua própria família.

― Se não quiser que sua mãe o obrigue a morar novamente conosco, passe em sua casa, tome um banho e faça a barba.

Dessa vez Rud guardou a resposta para si. Encarou o rosto preocupado do pai. O conde Harlow estava de pé diante da mesa de mogno. Impecavelmente vestido como um lorde inglês.

Rud por sua vez usava apenas camisa e calça, o restante de seu vestuário jogado sobre a cama improvisada em que ele tentara dormir nos últimos dias. Dispensara o valete. O homem precisava de alguns dias de descanso. Rud por sua vez precisava estar sozinho.

― Ruphert?

Rud fez uma careta pelo uso do nome de batismo. Se a situação fosse outra ele conversaria com o pai.

Maldição!

Ele certamente pediria conselhos. Mas não podia fazê-lo. Não quando se tratava de Lauren.

Que conselho o pai ou qualquer outra pessoa poderia lhe dar? Estava apaixonado por uma mulher que amava outro. Um homem em sua situação patética deveria guardar silêncio e sofrer sozinho.

― Não se preocupe, pai. Eu estarei na casa dos meus tios na hora marcada.

Cross assentiu, relutante em se retirar, como se ainda tivesse algo a dizer. Rud preparou-se para inventar qualquer desculpa que desviasse das perguntas. Não podia enfrentar o pai. Era um covarde e sabia disso. Mas simplesmente não podia.

***

Rud conferiu novamente o relógio de bolso. Chegara propositalmente atrasado ao baile, conseguindo assim evitar cumprimentar os tios na entrada. Não os via desde antes de partir para Hampshire. Estava disposto a evitar esse encontro o quanto pudesse.

Sua mãe, contudo não pode ser evitada. A condessa Harlow praticamente saltou sobre o filho ao avistá-lo em um canto do salão. Havia uma vantagem em ser filho de Philipha Marbory Baine, condessa de Harlow. Ela entendia os cantos de salões de bailes. Como também os jardins e as estufas. E o mais importante, ela não apresentava os filhos à possíveis pretendentes.

A não disposição casamenteira da condessa garantia a Rud que o baile fosse suportável.

Pelo menos até que a marquesa de Nedham e Doubly o viu em seu sossegado esconderijo e o colocou para dançar a quadrilha com a neta de uma amiga.

Poucos temores eram tão justificados do que os anseios casamenteiros de uma avó idosa. Por isso, depois de entregar a srta. Fewnsbury aos pais, Rud fez o que qualquer homem em sua situação faria. Fugiu do salão.

O coração de uma damaOnde histórias criam vida. Descubra agora