Capítulo 7

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Gabriela tocou a campainha e Carolina abriu a porta. Peixinho carregava a bolsa de maquiagem para todo lugar e aproveitou o tempo de espera para passar uma base e corretivo.

- Nossa, que linda... - Gabi disse enquanto entrava, reparando na baixinha.

- Brigada. - A mulher respondeu com um sorrisinho de lado, meio sem graça.

- Bora comer? O vinho acho que dá pra tomar já. - A paulista apoiou uma das sacolas de papel em um cajón, retirando duas garrafas de vinho. - Só sabia que você gostava de Malbec, pedi ajuda lá e o cara disse que esse é bom.

- Eu gosto desse. - Gabriela deu um suspiro exagerado de alívio, fazendo a outra rir. - A gente vai comer aqui no chão mesmo, né? - Carolina perguntou, já pegando as sacolas da mão de Gabriela.

- É... que vergonha.

- Japa é sentado no chão mesmo... - A baiana falou e em seguida ficou em silêncio, retirando as embalagens das sacolas. A percussionista sorriu, admirando o jeitinho da outra mexendo nas coisas. - Mas você trate de dar um jeito nessa casa, Gabriela... - Carolina falou em um tom de ordem. - Onde já se viu?! Você precisa de uma manhã da sua agenda pra comprar as coisas e depois um dia da sua agenda pra receber, minha filha. Ou paga alguém pra isso, mas é bom que você organize do seu jeito. Tem quanto tempo já que tá aqui? Vai ficar morando sem nem um sofá pra receber seus amigos? Oxente...

Gabriela riu leve, apaixonada por aquele jeito de Carolina.

- Você é muito mãe...

- Tá precisando de uma mãe mesmo, uma marmanja dessa, me dá quinze dias aqui nesse apartamento pra ver se não vira outro lugar.

Aquela fala bateu direto no estômago de Gabriela, imaginar Carolina passando dias seguidos com ela ali, ainda por cima mexendo nas coisas, doando seu bom gosto, deixando marcas suas pela casa. A baiana tinha falado sem pensar e, quando escutou as próprias palavras, desejou que aquilo fosse possível. Mas afastou o pensamento e temeu que a paulista achasse que foi uma indireta ou algo do tipo.

- Tenho certeza que sim.

- O que? - Carolina perguntou, voltando da terra dos próprios pensamentos.

- Que ia ficar outro lugar. Acho que você tem um puta bom gosto.

Carolina deu um sorrisinho meio tímido.

- Mas, pelo menos, o chão tá limpo, né?!

- Passei um pano antes de cê chegar... No desespero. - Gabriela fez o gestual encenando e Carolina riu.

- Vá pegar as taças, vá.

Carolina ordenou e Gabriela obedeceu, não sem antes repetir o "vá" que tanto gostava.

Quando voltou da cozinha, a baiana já estava sentada no chão, com as costas apoiadas na parede, abrindo o próprio hashi.

- Taça e abridor tem, casa de cachaceira.

Carolina imediatamente pensou na companhia que Gabriela tinha usando aquelas taças e sentiu uma dorzinha. Mas agora era ela que estava ali. O que isso queria dizer? E o que ela queria ali, com Gabriela?

A paulista se sentou bem próxima, com as pernas na direção dela, apoiando a lateral do corpo na parede. Carol admirou de perto o rosto daquela mulher e sentiu como se recebesse uma energia que vinha dela. Uma sensação de aconchego.

Gabi lhe sorriu, confortável em ser analisada, e então se concentrou em abrir o vinho.

Carol continuou observando a carinha da paulista, o nariz, a boca, a doçura que ela transmitia. Uma vontade que ela admitia para si mesma era a de proteger Gabriela, fazer ela enxergar a força que tinha, ensiná-la a aproveitar cada segundo dos seus dias e o potencial dentro de si. Mas não era só isso que ela desejava, sabia em seu íntimo que não era o suficiente. Aquela urgência em seu peito enquanto olhava pra Gabriela, a vontade de abraçar tão apertado a ponto de unir os dois corpos, o incômodo em pensar que a percussionista poderia se atrair por outra, se dedicar a outra...

Medo de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora