Capítulo 2 - Surdos, Cegos e Mudos

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Eram 7 horas em ponto quando o avião pousou no aeroporto de Mount Vernon. Ele vinha de Nova Iorque, e seu passageiro estava louco para chegar logo ao seu destino, pois não dormira nada na noite anterior. Seu nome era David Marshall, homem de cabelos loiros, que se dividiam em uma franja vertical, nos quais, nas pontas, se notavam leves ondulações que caíam perfeitamente bem em seus ombros largos. Já seus olhos eram bem redondos, de uma cor magnífica, e um nítido azul-turquesa lhe embelezava a face. Se não fosse um conceituado psiquiatra, todos podiam dizer que ele era um ator. Na verdade, ele tinha a cara de um ator em especial, ao qual ele estava cansado de ser comparado. Havia uma inquietação em sua alma ultimamente, e ele estava procurando por algo novo em sua vida. Algo que o motivasse mais, algo que talvez o fizesse voltar a ver na psicanálise uma forma de entender o mundo dentro de outros mundos. O mundo da mente foi, há anos, para ele tudo em sua vida. Ele trabalhara muitos anos em casos que foram de pura recuperação. Havia pessoas que não pareciam ter cura. As famílias já haviam desistido de tê-las por perto, e David dava a essas pessoas um conforto. Uma melhora era nitidamente vista quando ele trabalhava em um caso. Já conseguira fazer muitos milagres na mente de muitas pessoas. Tudo aquilo se devia a sua magnífica forma de atuar no mundo. Ele era, acima de tudo, um controlador de situações. Foram anos de superações, desilusões e curas nessa vasta área. Agora, com seus trinta e três anos de idade, ele queria voltar seu coração para alguém, mas ele sabia o quanto isso era difícil, o que se devia ao fato de que David não era muito bom em relacionamentos. Ele, apesar de ser tão bonito e elegante, era um desastre com as mulheres. Tudo porque ele as sufocava demais. Sua loucura por manter a todos a salvo de tudo, as deixava malucas, mas David não podia evitar ser assim. Fatos do passado o levaram a ter essa forma de agir. Agora, ele somente queria algo que o levasse a uma nova aventura na mente de alguém. Talvez até o inspirasse a escrever um livro. O fato era que David queria algo que jurava jamais encontrar em Vernon.

Quando Nancy acordou, eram 7 horas. Abriu as janelas e viu mais uma manhã gloriosa de Sol e cheia de Tom. Ela o beija toda manhã na testa, e se levanta para fazer um café espetacular. Ela se olha no espelho, vê o quanto é linda e perfeita. Seus cabelos brilhosos e alaranjados, seus olhos castanhos a deixam contente, uma vez que Tom mencionou adorar cabelos ruivos e olhos amendoados. Ela olhava o que só ela via. Olhava a projeção de sua mente sobre si mesma. Seus cabelos eram vistos sempre como ela queria que eles fossem. Perfeitos e brilhosos eram os cabelos dos sonhos de todas as mulheres. Ela não notava seus fios secos e embaraçados, já que, para ela, tudo sempre estava bem. Agora, Nancy coloca um vestido azul, e vai rumo à cozinha preparar o que ela sabia fazer de melhor, comida.

Ben Cárter fica feliz em saber que Tom está doente de cama e não pode ir trabalhar com ele. Essa foi a primeira felicidade de muitos meses. O sorriso de Ben estava estampado em sua face, exatamente porque, somente o fato de pensar naquela presença ao seu lado, o mantinha inquieto consigo mesmo, como um ser que jamais iria embora. Por fim, pegou sua caminhonete e foi para o trabalho. Julie, ao ver a irmã, relembra-lhe de terem marcado uma corridinha, o que Nancy nega, pois prefere cuidar de Tom. Julie decide ir sozinha e, saindo da casa, dá de cara com David Marshall chegando com suas bagagens do aeroporto de Vernon. Ela o observa de primeira vista e pensa ser ele um ator famoso de quem ela era uma grande fã. Ela nota seu traje social impecável, terno preto e gravata cinza. Ela ainda não perdeu a oportunidade de ver seu rosto, e realmente gostou do que viu nele. Nancy vai rumo à varanda, e vendo a irmã, pergunta:

– Você não vai correr? – Julie estava hipnotizada vendo David Marshall, e nem notou quando Nancy chegou perto dela.

– Vou, mas olha aquele homem chegando à casa dos Marshall, não é aquele ator conhecido?

– Qual? – Nancy olha para as feições do homem.

– O que fez aquele filme famoso, você lembra? É meu filme preferido até hoje. Mas, que loucura a minha, claro que não é ele, o que ele estaria fazendo aqui em Vernon?

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