Oxaguiã (Òrìsà Ògiyán)

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Òrìsà Ògiyán é um orixá funfun jovem e guerreiro, cujo templo principal encontra-se em Ejigbô.Foi a esse local que este orixá chegou, depois de uma longa viagem que o fez passar por vários lugares; num deles, Ikiré deixou um de seus companheiros que se tornou o opulento ÒrÌsà-Ìkìrè.

Chegando ao ponto final de sua viagem, tomou o título de Eléèjìgbó, rei de Ejibô.Porém, uma característica desse orixá era o gosto descontrolado que tinha pelo inhame pilado, chamado iyán, que lhe valeu o apelido de "Orixá-Comedor-de-Inhame-Pilado", o que se exprime em iorubá pela frase Òìsà-je-iyán e pela contração ÒròÍsàjiyán ou òrìsàgiyán.Comia inhame dia e noite; de fato, o inhame era-lhe necessário a todas as horas.Dizem que ele foi o inventor do pilão para facilitar a preparação do seu prato predileto.Também, quando um elégùn desse orixá é possuído por ele, traz sempre na mão, ostensivamente, um pilão como alusão a sua preferência alimentar.Esse detalhe é conhecido no Brasil pelas pessoas consagradas a Oxaguiã que, quando estão em transe durante suas danças, agitam com a mão, infalivelmente, o pilão simbólico.Além disso, a festa que lhe oferecem todos os anos chama-se "o Pilão de Oxaguiã".

Por ocasião das cerimônias anuais em Ejigbô, a tradição exige que os habitantes de dois bairros da cidade, Oxolô e Oke Mapô, lutem uns contra os outros a golpes de varas durante várias horas.Uma história de Ifá explica a origem desse costume com a seguinte lenda:

Um certo Awoléjé, babalaô companheiro e amigo de Eléèejìgbò, havia-lhe indicado o que deveria fazer para transformar a aldeia de Ejigbô, recentemente fundada, em uma cidade florescente.Em seguida, dirigiu-se para outro lugar.Em alguns anos, a aglomeração tornou-se uma grande cidade, cercadas de muralhas e fossos, com portas fortificadas, guardas, um palácio para Eléèjìgbò, numerosas casa, um grande mercado para onde vinham, de muito longe, compradores e vendedores de mercadorias diversas e escravos.Eléèjìgbò vivia em grande estilo e era costume, quando se falava de sua pessoa, designá-lo pelo termo bajulador Kábiyési ("Sua Majestade Real").Ao cabo de vários anos, Awoléjé voltou e, embora babalaô, nada sabia da grandeza de seu amigo, o "Comedor-de-Inhame-Pilado".Chegado ao posto da guarda, na porta da cidade, pediu familiarmente notícias do Ojiyán.Os guardas, surpresos e indignados com a insolência do viajante para com o soberano do lugar, agarraram Awoléjé, bateram-lhe cruelmente e o prenderam.O babalaô, ferido, vingou-se utilizando seus poderes .Ejigbô conheceu então anos difíceis: não chovia mais, as mulheres ficaram estéreis, os cavalos do rei não tinham mais pasto e outros dissabores.Eléèjìgbò fez uma pesquisa e soube da prisão de Awoléjé. Ordenou imediatamente que o pusessem em liberdade e pediu-lhe para perdoar e para esquecer os maus-tratos de que fora vítima .Awoléjé concordou, mas com uma condição:' No dia da festa de Òsàgiyán, os habitantes de Ejigbô deveriam lutar entre si, com golpes de varas, durante várias horas'".

Esta flagelação expiatória realiza-se todos os anos em presença de Eléèjìgbò, enquanto as mulheres consagradas ao orixá cantam os oríkì e batem no chão com ìsán, varinhas de atori (Glyphea laterifolia), para os mortos, e fazê-los participar da cerimônia.Elas exortam Oxaguiã a fazer reinar a paz e a abundância em sua cidade e a mandar chover regularmente.Os axés do deus são trazidos da floresta sagrada, onde se encontra seu templo.Terminada a luta, forma-se um cortejo, precedido por Eléèjìgbò.A multidão entra dançando no palácio, onde os axés ficarão por algum tempo.Depois, retornarão acompanhados por Eléèjìbò e seu séquito até o templo de Oxaguiã, em sua floresta sagrada.A multidão enche logo a clareira, levando gamelas com oferenda de alimentos, onde figura, em lugar de destaque, a massa de inhame bem pisada nos pilões e que será comida em comunhão com o deus.

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