O FIM

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Seria ótimo que algum sinal, qualquer que fosse, marcasse o dia em que sua vida irá mudar.

Deveria haver sinos tocando (bem, creio que mais tarde eles tocarão).

Talvez devesse haver relâmpagos e um ou dois trovões.

Nada.

Quando olhei pela janela, tudo o que vi foi uma manhã luminosa e folhas que, levantadas por uma brisa, flutuavam no ar como confetes.

O nervosismo revirava meu estômago.

Minhas mãos tremiam.

Sorri para o meu reflexo. Nada mau.

Respirei fundo e me obriguei a relaxar. Assim estava melhor.

Era natural, claro, que eu me sentisse assim. Que mulher não ficaria nervosa em um dia como aquele?

Uma bebida talvez ajudasse, mas a última coisa que eu precisava era aparecer na igreja com hálito de álcool. Embora eu soubesse o quanto isso pareceria hilário para el.

– De jeito nenhum! – disse, repreendendo a mim mesma.

Enquanto me maquiava, meus olhos foram atraídos para o vestido sofisticado estendido na cama. Assim que o vi, tive certeza de que aquele vestido era a escolha perfeita, e eu queria muito estar linda para ela no grande dia. Não que el se importasse com a minha aparência... bem, ao menos não vestida.

– Sinceramente, Bárbara! –repreendi meu reflexo, enquanto uma série de imagens obscenas me vinham à mente.

Que hora mais imprópria!

Uma batida na porta de entrada da casa me fez levantar, mas, antes que eu alcançasse o meio do quarto, ouvi a bagunça de vozes lá embaixo e o ruído que indicava que ela foi aberta por alguém.

A casa estava cheia de parentes e amigos – alguns tinham viajado uma longa distância para estarem ali – portanto havia gente mais do que suficiente para atender à porta. Na verdade, será que eu estaria sendo ingrata por desejar poder me preparar sem a distração de todos eles à minha volta?

Eu sabia que àquela altura eu já deveria estar vestida e pronta.

Será que eles iriam sem mim se eu me atrasasse?

Dei uma risadinha ante o pensamento ridículo e fui até a janela para ver quem havia acabado de chegar . Uma pequena van branca da floricultura estava estacionada diante da nossa casa, e as flores que tínhamos encomendado foram descarregadas com cuidado e levadas para dentro.

Certo, agora eu estava mesmo atrasada.

Tinha tempo suficiente apenas para arrumar o cabelo e pôr o vestido.

Eu estava indecisa quanto ao cabelo: se o usaria preso ou solto. Então pensei nas mãos dela deslizando por meus fios, enrolando-os em seus dedos e puxando-me para junto de si.

Estava resolvido!

Deixei-o solto, caído sobre os ombros, como de costume.

Antes de me livrar do robe de seda, olhei para o espelho e de repente puxei a franja para trás, tirando-a da testa e expondo uma leve cicatriz, quase imperceptível, na linha do cabelo. Corri um dedo sobre a pele e fechei os olhos por um instante, rememorando como ela surgira ali.

Aquela noite havia marcado todos nós.

Muitas vidas foram modificadas naquela noite, muitos futuros foram reescritos.

Deixei que o cabelo voltasse ao lugar enquanto o espelho captava e refletia uma imagem cintilante do meu anel de noivado.

Na noite do acidente, era outro anel que eu usava, mas ele acabou no fundo de um despenhadeiro. Uma longa história. E, sob muitos aspectos, inadequada. Mas não tanto quanto me apaixonar por uma estranha.

Eu tinha lido todas as revistas e livros disponíveis sobre casamento, mas nenhum deles tratava desta questão particularmente delicada: o que fazer quando, quinze dias antes do seu casamento, você se vê apaixonada por duas pessoas?


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