Prozac

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O vazio ainda está aqui.
E se os músculos de minha face geram espasmos em meus olhos e minha boca, procuro qualquer coisa pra tragar, vômito palavras mal ditas de pensamentos doentios.
E se durmo, as moscas voltam.
Já não sei dizer se é um presságio, se é uma fotografia, se é real.
De certo estou em estado de putrefação, de dentro pra fora, talvez sejam esses sentimentos se alimentando do que resta de bom.
O problema sempre foi a intensidade.

Este quarto, meu único espaço, meu. Tão desordenado quanto minha cabeça, tão pesado quanto minha respiração, se pudesse me enxergar de verdade, não me sorria.

Me contaria o incômodo que isso se tornou, todo esse marasmo?

Você que é como um rio de águas cristalinas, onde mergulhei de cabeça, desejando me purificar de toda a sujeira, ansiando matar minha sede de sentir.
Mas se tento te levar comigo, te vejo escorrer pelos meus dedos, e nessa tentativa frenética de te conter, bagunço o curso da correnteza, e a água antes cristalina se torna turva ao meu redor, já não vejo seu interior, e isso me apavora.

E nessa infinidades de "se" temo contaminar o que de mais verdadeiro eu já vivi.
Mas se me pedir, eu tiro meus pés do teu chão. Se assim o fizer temo que meus olhos acostumados com seu clarão, serão inúteis, uma vez cegos na escuridão.
E finjo não ver o peso dessas confissões.
E finjo não me dar conta de que barganho com nossa sanidade.
Para não ter de me servir com uma bandeja de prata coberta de Prozac.
E tudo bem sentir medo, no seu lugar, eu também teria.

Existência NulaWhere stories live. Discover now