Pustoye

43 1 0
                                    

Se cruzasse comigo na rua,
Se trocássemos uma idéia em qualquer esquina, provavelmente,
Nada se destacaria, ah não ser, talvez,
O excesso de caras e bocas.
Porém nada memorável.
Dessa água você pode beber.
Assim como o lago Pustoye, a superfície atende bem.
Mas não tente permanecer.

A relatividade do tempo é tão injusta.
Por aproximadamente uma década,
Nós arrastamos juntos o tédio em cumplicidade,
Acompanhando o ranger das engrenagens
Em cada pesaroso segundo.
O que terá sido então?
Sentimento de traição,
Ciúmes, ou assim como eu, encontrou excitação
Em algum momento dessas horas?
Agora brinca comigo.
E assim como a criança que passa a madrugada
De véspera de Natal em claro,
Aguardando, ansiosamente o
Amanhecer para abrir os presentes,
Eu atravesso essas horas nessa expectativa dolorida
De alcançar minha recompensa.
Somente para ser arrastada de volta nesse loop infinito
Onde o tempo me rouba momentos preciosos,
Pago minutos com horas.
Perceptível aos meus ouvidos é o riso que ecoa nas despedidas,
Porém subjugada estou,
Ainda atravessarei essas horas que me devoram os minutos. Maldita!

O problema da racionalização
É a busca pelas justificativas e pela lógica.
E seus determinantes?
Início, meio e fim.
Qual fim?
Essas fórmulas não são otimistas.
Determinantes, determinados.
Quantos buracos já abri na parede,
Com a cabeça?
Repete de novo e novamente.

Marcado com ferro quente,
Estará meu destino determinado?
Talvez então eu comece a rezar,
Me atenderão os Orixás?
Com essa voz embargada,
Grita pensamentos e sussurra palavras.
Fotografar insegurança é tão difícil.

Porque ele me viu,
porque ele foi o primeiro a fazer isso,
porque ele ainda está aqui.
Muito audacioso.
Melhor avisa-lo, em Pustoye tudo padece!

Mário Quintana me contou uma vez,
Que dá primeira vez que o mataram,
levaram um jeito de sorrir que ele tinha.
Cuspi essa imagem em sangue e tinta.
Dita como verdade universal.
Você me mata todo fim do dia.
E de manhã me devolve com novos sorrisos,
Transforma palavras e qualquer coisa minha.

Reluto em admitir,
Quero tato, olfato, paladar,
quero sentimento.
Foda-se então as garantias,
Pago com a dignidade.

Quero livros amassados, lábios,Rodas gigantes,
Pés de pequi, pele, linhas e botões, Milton,
Sereno em céu aberto, suspiros,
Poesia proclamada na voz que me arrepia,
Os gatos e seus nomes toscos, despedidas precoces,
O toque dos dedos, a insegurança e suas borboletas,
As bitucas de cigarro, quero palavras inventadas acompanhadas de café.

Ainda acredito que estou me debatendo em areia movediça,
Mas enquanto o ultimo dedo, não ficar submerso,
Acreditarei meu bem querer, que haverão de encontrar forma de,
Manter vida em Pustoye.

"E olha a vida à nossa roda e roda"
E em 100 anos ainda será para seus olhos fundos
Que tecem véus com fios de ouro,
Que cobrem móveis velhos em casas abandonadas
Que dedicarei cada palavra escrita.

Existência NulaWhere stories live. Discover now