Passarinho

12 0 0
                                    

Sob os meus dedos ele pulsa
Meu ritmo minha musica
Está vivo e ele pulsa, repulsa
Impulsa e pulsa
Em um dia faz querer rasgar a pele, fere
Agora pulsa
Sentada na praça
Debaixo da sombra de uma arvore
Um momento para ser real
Sem palavras sussurrando mentiras que nunca acreditei.
Me transborda e pulsa.

Tenha piedade poeta
Com suas muitas faces de versos já escritos
Acabe com a ansiedade das palavras não ditas
E o vazio nunca preenchido.

Dedicou uma vida inteira para entender
Corpo e mente
Travaram-lhe o corpo
Mas a mente, mente.
A gentileza no lembrar
A impaciência na limitação
O coração sente.

Olhou as câmeras, olhou as janelas
Conferiu as portas
Debaixo da cama foi ver também
Era só ela
Lá estava ela só

“E da primeira vez que me assassinaram
Levaram um jeito de sorrir que tinha
Depois, a cada vez que me mataram
Foram levando qualquer coisa minha...”
Levaram qualquer coisa minha, levaram.

A camiseta grande demais para o seu corpo
Não é surrada, suas mãos são.
A calça curta não é velha, seus olhos desdenhosos são.
E a mente, mente.
Ele mente com a reverencia de um urubu.

Não existe alivio, mas qualquer bafo quente
Vindo da copa das arvores
É refrigério neste calor infernal
Afinal, minha mente
Mente.

Mas vá devagar passarinho que eu não sei voar
Ao partir leva as asas que nunca tive.

E os monstros nunca estiveram debaixo da cama
Estava sob ela
Estava na cadeira, sempre na cabeça
O reflexo está no espelho.

Volta passarinho, volta.

A primeira chicotada rasgou o oxigênio
Antes de dilacerar a pele.
A segunda chicotada levou as cores
Lábios brancos e olhos arregalados
A terceira chicotada foram trombetas
Anunciando o fim da humanidade que
O animai intelectual nunca teve
Involui
E levaram uma coisa minha
E levaram uma coisa nossa
Mataram a gente
Matarão a gente
Não estamos por nós
Não estamos por ninguém
E ele ainda pulsa.

Existência NulaWhere stories live. Discover now