Existência Nula

ALVORECER

Este lugar suga-me a alma, eu estou aqui mas meus olhos estão sempre longe,

Sempre a procura de uma fuga, levando tudo que a matéria não prende

Para tão longe que jamais me alcançariam.

Mas na matéria me despertam, sem a decência de me alcançar os olhos,

Pois se o fizessem seriam capaz de ouvir, sim ouvir, toda a gritaria, toda a pancadaria

E então esta face que você julga complacência entenderia que nada mais é do que desistência.

Mas não ao alvorecer, quantas vezes você o enxergou, você não sente?

O torpor, a trégua, a ausência.

No alvorecer braços me envolveram, com uma busca carregada de um forte desejo de significado, Tão feroz transcendendo-me, seu corpo grande me cobrindo por inteira, neste abraço que me Apertava cada vez mais, buscando, até o ar não mais alcançar-me,

Não saberia dizer quanto tempo durou, mas eu não queria sair desses braços,

Fechei meus olhos quando visão ficou turva, não importava.

Você encontrou o que procurava? segurança, motivos, ou apenas frustração...

Você ainda acredita que eu era todo ouvido, mas eu apenas me vi em suas palavras, formuladas Como jamais fui capaz de descrever, para ninguém, e não para você, de forma alguma para você

Eu jamais te privaria do seu momento.

E quando esses grandes braços me soltaram, o ar voltou e com ele o vazio,

Ficasse mais um pouco, só até tudo parar, deixasse que o ar se fosse.

Mas não, nós polpamos lágrimas porque este momento será como se nunca tivesse existido, nenhuma palavra, à quem a coragem virá primeiro?

O alvorecer se foi, e o dia despertou se lembrando dos seus motivos para ansiar o crepúsculo e o sol queimava sem dó, e meus olhos ardiam úmidos, ansiando pelo meu próprio crepúsculo, mas eu sei que o desfalecer em seus braços não vai se repetir, não teria sido doce?

Doce fim que nunca aconteceu, pois nós sabemos,

Se trata só de você e se trata só de mim.