De volta a Blackwood pines.

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Pela janela embaçada pelo frio, J.J observava o caminho em plena euforia, espalmando a mãozinha sobre o vidro,  encostando o nariz ali, olhando atento a neve caindo e os pinheiros congelados pela estrada.
Nunca havia ido muito longe de casa, ou da casa dos avós. E ver-se a caminho de um lugar ao qual só ouvira falar desde que nascera o empolgava. Era como se pudesse finalmente viver cada uma das aventuras contadas nos livros infantis que a mãe lia para si.

Mesmo com a escuridão que a noite fria trazia consigo, o pequeno ainda podia ver os pinheiros balançando com o vento gélido, graças aos faróis do veículo que percorria de forma cautelosa pela pista congelada.
Tudo era tão novo e encantador, que o garotinho quase não podia regular a própria respiração, agora apoiando as duas mãos pequenas e enluvadas sobre o vidro, o desembaçando e mantendo o narizinho colado ali também, assim como a boca e as bochechas volumosas.
Quase não haviam estrelas naquela noite, porém isso para ele era irrelevante. A única coisa que importava era pôr o pé na estrada e conhecer coisas que para ele eram novas. As mesmas coisas que a mãe já havia vivido e agora era sua vez de ver e viver.
Não era como as vezes que a mãe o levou ao jardim zoológico, ou as vezes que acamparam na sala, tostando marshmallows na lareira. Não, desta vez iria realmente para um chalé com a mãe, passear em uma montanha que pertencia aos seus avós e ver animais de perto, sem grades os prendendo. Tudo era tão emocionante!

Enquanto ainda mantinha o rostinho colado ao vidro que apenas se tornava mais embaçado pela respiração quente da criança, pôde ver de forma nítida graças aos faróis do ônibus, um esquilo correndo pela estrada, subindo rapidamente em um dos pinheiros, carregando uma avelã presa pelos dentinhos.
Aquilo o deixou praticamente extasiado, virando-se rapidamente para olhar a mãe, puxando-a pela manga do casaco.

— Mamãe! Mamãe! Olha mamãe! Tem um esquilo ali! — Disse de forma tão empolgada, que fez Samantha rir, também encostando o rosto no vidro,  olhando para a estrada.
Atrás do primeiro esquilo, corriam mais dois: Um adulto e um filhote, cada um deles com uma avelã na boca. Aparentemente uma família buscando alimentos para o inverno.

— Sim, eu estou vendo, querido! Olhe! Aquela ali deve ser a mamãe daquele filhotinho e o outro o papai. — Afirmou Samantha, abraçando o filho com o braço esquerdo, enquanto apontava para a família de esquilos com a mão direita.
J.J ainda mantinha o rostinho totalmente colado ao vidro, enquanto os olhos brilhavam de empolgação ao ver uma família inteira de esquilos reunida.

—Igual você, o papai e eu. — Respondeu o garoto. — Ela cuida do filhote dela, igual você cuida de mim, né mamãe? — Disse o pequeno sem se virar, ainda observando os animais correndo em círculos um perto do outro, como se brincassem juntos, enquanto o veículo se afastava do lugar, deixando-os para trás em seu cotidiano gélido.
Os olhos de Sam marejaram, enquanto esboçava um sorriso abobalhado, ao ouvir o que a criança havia dito.
Abraçou-o agora pelas costas, trazendo-o apertado para junto de si, e beijando-lhe o topo da cabeça onde um gorro azulado, cobria os cabelos castanhos. — Sim meu amor, e vou cuidar de você para sempre. — Afirmou encostando o queixo sobre a cabeça do filho, ainda o envolvendo com ambos os braços, mantendo-o junto a si.

O ônibus finalmente havia parado e Samantha pondo a mochila nas costas,  segurando a mão pequena do filho, cruzou a porta, descendo prontamente do veículo que em questão de segundo já havia novamente ganhado a estrada.
Uma sensação incômoda a invadiu, quando se deparou com a placa a sua frente, com os dizeres: "Blackwood Pines". Era como reviver toda a noite de terror, a qual fora forçada a passar há quase cinco anos atrás.

Engoliu a seco, apertando a mão do filho e o puxando para mais perto, totalmente travada apenas em ver aquela placa coberta de gelo.
Diversos pensamentos inundavam sua mente e o mais persistente dentre eles, era se havia tomado a decisão correta em voltar naquele lugar. Claro, Mike e ela haviam matado os Wendigos na explosão do chalé, mas ainda assim em quatro anos o inverno da montanha poderia ter dado a oportunidade do nascimento de dezenas de outros, sedentos por sangue e por novas vítimas.

A criança sentiu a mãe apertar-lhe a mão, e ergueu o rostinho para fitá-la, arqueando a sobrancelha destra. — Mamãe, o que foi? Por que está me apertando? Eu fiz alguma coisa errada? — Perguntou em tom manhoso, fazendo um bico de choramingo, quando Samantha desviou o olhar da placa, olhando ao filho como se recobrasse a consciência.

— Não, meu amor, você não fez nada errado. — Respondeu, em tom suave, enquanto agora se abaixava a frente do filho, apoiando o joelho destro ao chão, enquanto mantinha o canhoto apenas flexionado.

— Joshua, quero que preste bastante atenção no que vou lhe falar. — Disse em tom sério, enquanto a criança maneava a cabeça positivamente, a fitando de forma fixa. — Nós agora vamos entrar em um lugar muito perigoso. — Começou. — Foi aqui que seu pai e suas tias Hannah e Beth desapareceram há anos atrás. Existem coisas ruins aqui, que podem te machucar muito e eu não quero que isso aconteça, porque eu não suportaria perder você. Então nunca se afaste de mim e quando eu mandar ficar em silêncio, ou não se mexer, me obedeça. E quando eu mandar correr, corra se esconda, e não se mexa em hipótese alguma.
Essas coisas sabem imitar vozes humanas, então se ouvir a minha voz te chamando e ficar na dúvida, simplesmente não se mova. Entendeu? — Disse enquanto olhava nos olhos da criança, que novamente moveu a cabeça de forma positiva.

Após a breve conversa com o filho, Samantha se levantou, limpando do joelho o gelo que havia ali ao ter se ajoelhado.
Tornou a estender a mão ao filho, que prontamente a segurou. Uma expressão mais amena lhe surgiu ao rosto, enquanto olhava a criança.

— Ótimo, agora já podemos ir. A montanha tem uma vista maravilhosa e tem muitos animais, você vai adorar! — Disse de uma forma mais suave, enquanto começava a caminhar com o filho.

— E tem alces mamãe? Eu nunca vi um alce! — Disse o pequeno, enquanto caminhava segurando a mão da mãe.

—Sim, meu amor. E pássaros, esquilos, carcajus, guaxinins, ursos, lobos, coelhos... — Dizia Samantha, enumerando diversos animais, enquanto se embrenhavam pela trilha que levaria ao teleférico,  se afastando cada vez mais da placa a qual viram segundos antes.

E quando já estavam consideravelmente afastados dali, era possível ouvir o barulho de passos e um par de botas pisar ao solo coberto de neve, aonde estiveram.

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora