Você está vivo?!

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Era por volta das três e meia da manhã, quando ainda segurando o garoto nos braços, passou por baixo de uma grade enferrujada e corroída pela umidade e pelos anos de desuso.
De fato, foi preciso se abaixar e praticamente engatinhar, enquanto ainda fazia de tudo para segurar a criança e evitar que a mesma se ferisse.
Quando passou por baixo da grade, conferiu o garoto, para ver se não havia se machucado e pareceu satisfeito ao constatar que ele estava bem.

Caminhou com a criança adormecida nos braços, por um corredor escuro,  repleto de pás e picaretas enferrujadas, assim como os trilhos que levavam os carrinhos por todo o interior das minas, quando estas ainda estavam em seu pleno funcionamento.
Era realmente difícil enxergar o caminho em meio a tanta escuridão. Mas, não poderia recuar agora. Afinal, precisava achar um lugar seguro para esconder o filho, enquanto procurava por Sam.
Ele finalmente havia conseguido se embrenhar pelas minas abandonadas e foi até mais rápido do que imaginava.
Afinal, mesmo com o peso do filho nos braços, acabou chegando antes do que previa. Talvez aquele fato não o surpreendesse, afinal, os anos ali o fizeram conhecer a montanha como a palma de sua mão.
Não tinha como saber, mas havia conseguido entrar nas minas, antes de Ashley, Chris e Sam pois tomara um outro caminho, que levaria exatamente ao mesmo lugar.
Já estava tão acostumado a se esconder dos wendigos, que sabia exatamente como e quando agir.

Conforme Josh caminhava pelas minas, podia ouvir nitidamente o barulho dos wendigos caminhando por cima de sua cabeça, já que o chalé fora construído sobre a antiga mina.
Era uma sensação incômoda, que lhe trazia certa tensão, à medida que se aprofundava cada vez mais na escuridão daquele lugar, aonde o cheiro de carne estragada, se misturava ao odor peculiar de mofo e ferrugem.
Por vezes chegou a encolher os ombros, ao ouvir as pisadas violentas acima da cabeça e barulhos altos de madeira se partindo e vidro estilhaçando. Era evidente que as criaturas buscavam por novas vítimas ali e estavam destruindo o chalé em busca daquilo que tanto queriam.
Os passos se tornaram mais rápidos, a medida em que o barulho no andar de cima se intensificava.
E estava prestes a correr e buscar abrigo, quando um vulto passou correndo a sua frente.
Tentou forçar a visão ao máximo, conseguindo vislumbrar um pouco melhor aquela silhueta tão ágil que havia passado por ali,  logo desaparecido, fazendo uma curva rápida,  se embrenhando por um dos diversos corredores que haviam naquele lugar. 

 — Hey, espere! — Tentou chamar em um tom não muito alto, mas aquela pessoa não ouviu, continuando a correr até desaparecer de seu campo visual.
Era uma silhueta um pouco menor que a sua, então sabia que evidentemente não se tratava de um wendigo. Além do mais, era ágil mas não tanto quanto aquelas criaturas, cuja velocidade era espantosa.
Será que se tratava de algum desavisado que havia se enfiado ali, como seus amigos fizeram há anos atrás? Se fosse, precisaria alertá-lo imediatamente do perigo eminente que havia ali. O perigo gritante, de ser estraçalhado por uma entidade maléfica, que destruía qualquer sinal de vida humana e se esbaldava em seu sangue quente.

Por conhecer muito bem as minas, sabia que o caminho por onde aquela pessoa correu, só daria em um lugar, então tratou de correr por outro lado, para pegar um atalho e alcançar a outra pessoa a tempo.
Definitivamente não permitiria que outra pessoa fosse estraçalhada por sua culpa. Pois se não evitasse, seria exatamente o que iria acontecer.

— Nada mais natural que ir visitar uma montanha e se enfiar na porra de uma mina abandonada em plena madrugada. Claro, super normal! — Resmungou enquanto corria pelo atalho, novamente tendo que se agachar algumas vezes, para desviar de pedaços de madeira quebrada, que lacravam uma ou outra passagem daquele lugar.
Corria o mais rápido possível, apoiando a palma da mão direita à cabeça do filho, enquanto segurava as costas do mesmo, com o braço esquerdo. Queria mantê-lo o mais seguro possível, para evitar que caísse durante a corrida pelas minas.
Haviam também pedaços da madeira significantemente grandes, espalhados pelo chão, teve de saltar por eles, enquanto ainda corria. Ato que foi repetido com pás, picaretas e um ou outro corpo humano, cuja cabeça havia sido decapitada.
Era um fato, que já não mais se espantava com a presença de diversos corpos espalhados pela montanha, pois sabia que eles estavam ali aos montes, presos por ganchos ao teto, jogados no chão, dentro de carrinhos inutilizados e até mesmo jogados sobre os trilhos da antiga ferrovia interna.

Corria freneticamente, vez por outra verificando se o filho estava bem,  constando que a criança ainda permanecia completamente adormecida. E quando constatava isso, se dava ao direito de novamente olhar para frente, enquanto continuava a correr.
No entanto, teve que frear bruscamente, ao se deparar com um carrinho tombado, por onde vários ratos saíram correndo.

 — Ótimo, não faltava mais nada. Essa porra está bloqueando a passagem! — Praguejou.
Não tinha outro jeito, teria de manter o filho acordado por alguns instantes. — Junior, acorda. — Josh chamou.
A criança abriu os olhos de forma preguiçosa, parecendo um tanto quanto assustada por se encontrar em um lugar tão escuro.
Agarrou-se ao pai com força e Josh lhe afagou os cabelos, como se tentasse demonstrar que estava tudo bem.

— Filho, fica acordado um pouco. — Ele disse, enquanto J.J ainda se agarrava a si.
Josh ainda olhava para o carrinho, pensando em uma forma de removê-lo dali ou de passar por cima dele, enquanto ainda segurava J.J. — Presta atenção no que vou dizer. — Josh começou. — O papai vai te colocar em cima do carrinho. Quando eu te colocar lá em cima, deite e fique imóvel.
Lembra daquele monstro que quase pegou a gente? Pois bem, este lugar está cheio deles, então precisamos ter muito cuidado.
Depois que eu te colocar aí em cima, eu também vou subir e pular para o outro lado.
Quero que fique parado e em silêncio, até que eu o pegue no colo de novo, entendido? — J.J fez um gesto positivo com a cabeça, enquanto guiava o polegar destro ao interior da boca, como sempre fazia quando estava sonolento.

 — Esse é meu garoto! — Josh disse, enquanto segurava o filho por baixo das axilas, e o erguia, até deitá-lo sobre o carrinho enferrujado,  repleto de limo.
A criança tratou de obedecer a ordem do pai, se deitando de bruços ali e ficando completamente parado. Não podia negar, os barulhos da mina o deixavam apavorado e tratavam de tirar toda a sua mobilidade, mesmo que não tivesse recebido ordens para não se mexer, em hipótese alguma.
Josh apoiou as duas mãos ao carrinho, flexionando os joelhos e impulsionando o corpo até que conseguiu pular em cima do enorme e pesado objeto de metal enferrujado.
Agora se encontrava sentado ali, calculando a altura e o impulso que deveria tomar, quando pressionou as palmas das mãos sobre o metal gélido, usando os braços como uma espécie de alavanca,  pulando diretamente para o chão.
Os pés amorteceram a queda e cambaleou um pouco para manter o equilíbrio, quando já se encontrava novamente de pé ao solo escorregadio.
Virou-se para o filho, estendendo os braços, o puxando pelas pernas até que finalmente o segurou no colo, como fizera antes.

— Pronto, campeão! Agora quero que se agarre a mim com toda a sua força, porque vamos precisar correr bastante. — Disse ao sentir que os bracinhos de J.J novamente lhe envolviam pelo pescoço, assim começando a correr ainda mais do que antes, na mesma direção em que estava antes do contratempo do carrinho de mineração.

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora