A presença do Wendigo.

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Caminhava pela neve, sentindo os pés afundarem sobre gelo enquanto as pisadas dificultosas poderiam ser ouvidas.
O frio era cortante, mas isso jamais seria um empecilho para seguir adiante com sua ideia, a qual se tornava cada vez mais fixa. Eram respostas que queria e as teria de qualquer jeito. Nem que tivesse que varrer aquela maldita montanha, parte por parte, até encontrá-lo. 

A lanterna jazia segura pela mão, iluminando o caminho escuro a cada passo que dava. Claro, seria muito arriscado fazer movimentos bruscos, barulhos, ou qualquer outro tipo de ação que delataria sua posição fora do chalé. Mas estava tão desesperada por respostas, que não se importou com o perigo que corria ao estar ali.
Chris também estava munido com uma lanterna na mão esquerda e um revolver já engatilhado, na mão direita. Uma medida preventiva que ajudaria a repelir os Wendigos a tempo de correr e se esconder em um lugar seguro caso fosse necessário.
Ambos pareciam um tanto quanto desconcertados e até mesmo aflitos, por estarem ali novamente. Afinal, a experiência que tiveram outrora lhes fora suficientemente traumática, sobretudo para Sam.

Esfregava a mão livre sobre o braço, buscando aquecer-se enquanto o ar gélido que adornava a noite parecia lhe atravessar cada mínima parte do corpo, ainda que estivesse bem agasalhada.
Talvez todo aquele arrepio gelado que lhe percorria, fosse em parte um reflexo incontido, provindo da situação desconfortável que o medo lhe gerava. Todavia, já havia chegado longe demais para recuar. Afinal, saíra de sua casa e viajara para Blackwood Pines em busca da descoberta da verdade. Em outras palavras: A conclusão sobre o que realmente havia acontecido ao homem que amava.

Queria poder descobrir por si mesma o fim que Josh teve. E se ele não teve realmente um fim, gostaria de encontrá-lo, ainda que o encontrasse completamente mudado.
Seria no mínimo reconfortante encontrar seu corpo e mais reconfortante ainda encontrá-lo vivo, principalmente se não tivesse se tornado uma daquelas criaturas.
Ele sempre seria o Josh, o seu Josh. O homem a quem havia prometido sempre zelar, principalmente depois do desaparecimento das gêmeas Hannah e Beth, as irmãs mais novas do rapaz.

—Sabe, seria muito bom se reencontrássemos o Josh. E seria melhor ainda, se ele estivesse vivo, não é? Tipo, quero dizer que seria realmente muito bom, se ele estivesse bem. Você não acha? — O rapaz loiro perguntou, enquanto olhava para a frente, iluminando o caminho com a lanterna.
Esperava pela resposta da moça, e no entanto, recebeu apenas o silêncio.
Chris se mantinha atento ao caminho e também a todo e qualquer ruído que pudesse significar algum sinal de perigo. E mesmo assim, arriscava-se a vez por outra lançar um olhar à Samantha, como se quisesse ter certeza de que estava tudo bem.
E numa destas olhadas, pôde vê-la em uma clara postura pensativa, podendo observar seu olhar distante, perdido, como se não estivesse ali. — Sam? — Chamou em tom baixo, porém audível, dado ao fato de caminharem emparelhados.
Todavia, o chamado não fora atendido e aquilo começou a preocupá-lo. Tornou a chamá-la sem sucesso, é claro. No que ela estaria pensando tanto, que não o ouvia falar? Parecia tão concentrada em um mundo interno, que aquilo começou a deixá-lo intrigado.

"Era por volta de meia noite, quando estava assentada sobre sua cama, beberricando uma caneca de chocolate quente, enquanto lia um livro sobre animais silvestres, parecendo absolutamente fascinada enquanto devorava as palavras.
Amava os animais e tudo o que havia em relação a vida fora das cidades. Era apaixonada por alpinismo, acampamentos e passeios ao ar livre.
Passar noites em barracas, ou dormindo ao relento em florestas, era uma das coisas que mais gostava. Afinal, à noite os animais mais fascinantes surgiam para se alimentar, passear e realizar as mesmas atividades que os animais diurnos faziam em outro período.
E naquele livro ao qual lia com tanto afinco, falava justamente sobre os tão magníficos animais de hábitos noturnos, aos quais lhe traziam uma fascínio imenso.

Havia acabado de levar a borda da caneca aos lábios, beberricando uma pequena dose da bebida quente, quando o celular tocou ao lado da cama, vibrando de forma quase que escandalosa sobre a mesinha de cabeceira.
Pousou a caneca sobre o pequeno móvel de madeira, que jazia imponente ao lado da cama, sem desviar as íris em tom de avelã, do livro de capa dura esverdeada, onde havia a imagem de uma coruja.
A mão tateava pelo móvel em busca do celular, enquanto ainda mantinha a atenção ao livro.
Finalmente alcançou o aparelho, desbloqueando-o com o dedo e esboçando um sorriso amplo e repleto de empolgação ao ver a foto de Josh no identificador de chamadas. Aquela mesma foto engraçada, em que Josh fora pego de surpresa por Sam, que havia tirado a fotografia dele na casa de praia dos Washingtons, no aniversário de Hannah e Beth.
Lembrava-se do quanto rira, no momento em que o cutucara no ombro e batera a foto com a câmera do celular quando rapaz se virou para fitá-la, saindo com uma expressão cômica que mesclava entre a surpresa e o aborrecimento. Ainda assim, o achava incrivelmente bonito naquela foto e nunca se atreveu a apagá-la, deixando-a no celular para poder fitá-lo quando a saudade batia. 

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora