Eu vou achá-lo!

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"— Ah, Joshua! É bom vê-lo novamente. Por favor, sente-se. — Soou convidativa, a voz de Alan Hill.
Tudo era como sempre, afinal. Aquele velho consultório, parecia jamais mudar em nada.
Sempre a mesma decoração antiga, sempre os mesmos retratos, os mesmos diplomas espalhados pelas paredes, o mesmo cheiro de tabaco misturado com um desodorante de má qualidade e sempre a mesma posição dos móveis do século passado.
E se havia uma coisa que jamais mudaria, era certamente a sensação incômoda que o lugar trazia, desde a infância.
Josh adentrou ao consultório do psiquiatra, parecendo um tanto quanto desconfortável, observando o largo sorriso que jazia estampado ao rosto do Doutor.
Alan tratou de se assentar confortavelmente em sua cadeira atrás do gabinete, enquanto apanhava uma caneta, cuja ponta fora encostada sobre a folha que jazia em sua prancheta.

— Então quer dizer, que resolveu continuar com as sessões? Ótimo! Você sabe que é necessário, não sabe? Vai ajudar com seus traumas.
Confesso que fiquei preocupado, quando não respondeu minhas mensagens. O que aconteceu?
Está tomando regularmente os remédios? —Dr. Hill questionou, ao desviar os olhos da prancheta onde havia o prontuário médico e fitar o rapaz atentamente.
Houve um aceno positivo de cabeça por parte de Josh, respondendo ao questionamento de Alan. Gesto este, que pareceu deixar o psiquiatra extremamente satisfeito.

— Excelente! Ela não permite que você pare com o tratamento, não é mesmo? — Tornou a questionar, enquanto rabiscava alguma coisa na prancheta.
Novamente a resposta veio em um gesto mudo, com a cabeça e o homem de meia idade sorriu mediante aquela postura positiva.

— Entendo. Mulheres são realmente complicadas, não? — O doutor perguntou, enquanto Josh apoiava o cotovelo à escrivaninha, demonstrando uma expressão contrariada.

— Não imagina o quanto. Ela me arrastou até aqui, hoje. Disse que se eu não viesse por mim mesmo, ela me traria na bicicleta.
Eu nunca imaginei que a Sammy fosse tão firme nas coisas que promete. — Josh resmungou, fazendo com que o psiquiatra risse um pouco.

— Então ela realmente te colocou na garupa da bicicleta e o trouxe até aqui? Moça de palavra.
Soube que seus pais permitiram que você levasse alguns amigos ao chalé, neste final de semana. Acho que será bom para você, se divertir um pouco. — Alan afirmou em extrema suavidade. — Mas me diga, Joshua. Como você está hoje? Faz um bom tempo que não nos vemos e eu tenho andado preocupado com você.
Seu pai veio conversar comigo e disse que têm notado certa... — Parou como se buscasse a palavra adequada. — Relutância por sua parte, em tomar os seus remédios. — Afirmou Dr. Hill, enquanto Josh agora mantinha o rosto abaixado e o olhar fixo aos joelhos, aonde as mãos agora estavam pousadas, movendo-as nervosamente.

— Eu não preciso mais deles. — Soou a voz de Josh em tom baixo.
Alan franziu o cenho, parecendo não compreender muito bem.

— Perdão? — Questionou, observando o rapaz. — Como assim não precisa mais? — O psiquiatra tornou a perguntar, enquanto Josh ainda se mantinha na mesma postura.

— Eu não vou mais tomar remédio algum! Eles só estão me atrapalhando! — Havia certa agressividade na voz de Joshua, o que fez com que Alan fizesse mais uma anotação em seu prontuário.

— Por quê acha que os remédios estão lhe atrapalhando, Joshua? — Questionou o mais velho, ainda observando o comportamento do rapaz que parecia aos poucos estar saindo de si e mergulhando em mais uma das ondas de inconsciência, que Alan conhecia tão bem. Afinal, cuidara das doenças psicológicas de Josh, desde que o rapaz tinha onze anos.

Josh esfregava a língua sobre os lábios, os umedecendo, enquanto balançava o corpo para frente e para trás na cadeira. — Eles não me deixam pensar! Não me deixam agir livremente! Não me deixam fazer algo pelas minhas irmãs. O senhor tem me prendido, Doutor! Tem me prendido com essas porras desses comprimidos! — O rapaz parecia cada vez mais fora de si, enquanto o psiquiatra tentava se manter o mais calmo possível, para tentar transparecer serenidade suficiente, para acalmar Josh.

— Sabe que precisa deles, não sabe? Os remédios ajudam a controlar a sua impulsividade e sua psicose.
Você não pode ficar sem tomá-los, Josh. Pode ser perigoso para você e para os outros. Inclusive para aquela mocinha que está lá fora, o esperando.
Sabe que sou seu amigo, não sabe? Cuido de seu caso, desde que você era uma criança. E se eu digo que deve tomar os seus remédios, é porque quero o seu bem. — Ao ouvir o comentário do psiquiatra, Josh se limitou apenas a erguer a sobrancelha direita, esboçando um sorriso amplo e repleto de escárnio.
Seu olhar já não era mais desinteressado, como quando entrou no consultório. Agora, havia certo ar cruel, na forma como o rapaz olhava ao homem atrás da escrivaninha.
Ergueu-se da cadeira aonde estivera sentado, apoiando ambas as mãos ao gabinete de Alan, inclinando o corpo em sua direção e o olhando aos olhos de forma desafiadora.

— Não se preocupe com isso, Doutor. — Começou. — Eu realmente não preciso mais de suas pílulas. E sabe por que? Porque a vingança é o melhor remédio. "

Ainda sinto nossa ligação. (Until Dawn - Josh and Sam)Onde histórias criam vida. Descubra agora